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  • Foto do escritorFilipe Chaves

Análise | A Qualidade das Séries Atuais Vale o Longo Tempo de Espera Entre as Temporadas?

O que antigamente era uma exceção, hoje virou uma regra, e parece não haver mudança no horizonte

Foto: O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder (Prime Video)/ Only Murders In The Building (Hulu)/ Slow Horses (Apple TV+)/ Hacks (Max)/ Abbott Elementary (ABC)/ The Boys (Prime Video)/ Stranger Things ( Netflix)/ A Casa do Dragão (HBO)


É claro que existem séries boas hoje em dia, mas é inegável que são exceções em um mar de mediocridade. Com a quantidade de streamings, a oferta aumentou muito e quase toda semana surge algo “imperdível” que ninguém lembra na semana seguinte. Se fizer algum sucesso, pode ser renovada, mas os novos episódios só chegarão em prováveis dois anos. Não é um fato novo, mas o problema é que virou a regra. Nos Estados Unidos, o que predominava até os anos 2010 era a chamada “Fall Season”, que começava em setembro e ia até maio do ano seguinte. A grande maioria das séries que você conhece por terem seus 20 e tantos episódios, eram exibidas neste período. Ainda é assim que a tv aberta norte-americana funciona, mas com o advento da TV a cabo já em meados dos anos 2000 e do streaming nos anos 2010, ela foi perdendo cada vez mais espaço. Com o fim de This is Us, hoje somente Abbott Elementary ganha destaque nas premiações. Ainda há Grey’s Anatomy e Lei & Ordem: Unidade de Vítimas Especiais no ar, séries outrora aclamadas, mas são procedurais e é o que não falta na tv aberta. As emissoras abertas não arriscam mais em aprovar roteiros inovadores e que demandem muita atenção. Algo como Lost, que foi exibida na ABC de 2004 a 2010, jamais estrearia no canal agora. Iria para algum streaming, com temporadas de oito episódios a cada dois anos. Felizmente estreou na época certa.


A tv a cabo, com Família Soprano, na HBO, já se utilizou desta “janela” de dois anos, sendo o maior tempo entra a 5ª temporada, que estreou em 07 de março de 2004 e a parte um da 6ª e última em 12 de março de 2006. A Escuta também passou por isso com um espaço maior entre as temporadas 3, 4 e 5. Mas percebam que estamos falando de duas das séries mais aclamadas da televisão, com roteiros super trabalhados em nuance e camadas de personagens e histórias extremamente complexas. Eram exceções, mas hoje, até algo como Minha Vida com a Família Walter, série adolescente da Netflix, que parece ter o orçamento de uma coxinha e um guaraná, também passa dois anos ou mais entre uma temporada e outra. Há de se mencionar que a pandemia e as recentes greves de atores e roteiristas afetaram dezenas de produções, mas ainda assim, as gravações da 2ª temporada começaram há algumas semanas. Tanto tempo para escrever dez episódios de uma trama de triângulo amoroso em uma cidadezinha com todos os clichês possíveis? A WB e CW produziam umas 10 ou mais com 20 e tantos episódios por ano.


Com essa “moda”, as grandes produções, que precisam de efeitos especiais e um tempo maior de pós-produção, como A Casa do Dragão, Stranger Things, O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder ou The Boys realmente fazem um trabalho visual mais apurado, mas parece que é a única preocupação. A televisão é famosa por ter orçamentos menores e caprichar nos roteiros, mas com essas citadas, o caso é o contrário. Orçamentos estratosféricos nos levam a espetáculos visuais vazios, onde o desenvolvimento do enredo ou dos personagens ficam em segundo plano, prezando apenas pelo próximo grande acontecimento que será comentado nas redes sociais por uma semana ou pouco mais que isso, já que gera o choque, mas não o impacto. Stranger Things começou quietinha até virar o fenômeno que virou, mas tinha um roteiro que se importava com seus personagens e isso era evidente porque fazia com que nos importássemos com eles. A melhor trama da mais “recente” – que estreou há dois anos – temporada é a focada nos personagens que estão em Hawkings e a cena em que Max (Sadie Sink) foge do Vecna ao som de “Running Up That Hill” é marcante e lembrada até hoje, justamente por anteriormente haver uma construção dela, foi estabelecida uma conexão personagem-telespectador. Alguém lembra de outra cena? Pois é, eu também não. Lembro de episódios excessivamente e desnecessariamente longos.


A demora faz a audiência perder o foco e o desejo pela trama, ainda mais quando o que vemos em tela é decepcionante depois de tanta espera. Uma das melhores coisas das séries de 20 e tantos episódios por ano, era passar tanto tempo com aquelas pessoas, ou até com os 13 habituais das produções da TV a cabo, que pelo menos eram anuais, existia um compromisso e respeito com o espectador que em retorno dava fidelidade. Hoje, oito episódios medianos a cada dois anos ou até mais, a gente mal lembra quem é quem e pelo quê ou contra quem estão lutando. Geralmente, acontecia alguma coisa nos bastidores para que houvesse o atraso, mas hoje, acontece a renovação e o aviso é de que teremos que esperar mais dois anos. Ninguém fica órfão porque é tanta coisa para assistir, mas qualidade e quantidade nem sempre andam de mãos dadas. É esse o intuito então? Apresentar coisas medíocres para que ninguém fique ansioso por esperar tanto? O problema é que quando voltam, o sentimento é quase de indiferença. Quem muito se ausenta, uma hora deixa de fazer falta.


É bom saber que O Urso, Slow Horses e Only Murders in the Building têm esse compromisso com quem as assiste e ainda vale mencionar Hacks e Entrevista com o Vampiro, que já estão com novas temporadas em produção e a expectativa é que estreiem ano que vem também. Obviamente que não é escolha dos roteiristas demorar tanto, e sim dos estúdios. Se com prazos apertados no passado tínhamos temporadas brilhantes, por que hoje com tanto tempo, recebemos coisas tão básicas? Não me parece uma conta justa, principalmente em séries iniciantes que mal formam um vínculo com o telespectador. Me importaria de esperar dois anos por Família Soprano por amar a série e ter a confiança de quem me entregariam o melhor que pudessem quando voltasse. Mas hoje, com séries que eu apenas gosto? Se parece que eles não se importam, por que eu deveria? Não é à toa que a procura por séries antigas e já finalizadas é enorme. Lost chegou há duas semanas à Netflix e desde então estava no TOP 10 da plataforma. O mesmo pode ser dito de Prison Break, que está no TOP 5 da Netflix dos EUA e acabou de chegar na filial brasileira. São produções perfeitas? Não, principalmente Prison Break, que decai drasticamente em relação ao começo, mas pelo menos as pessoas vão assistir sabendo que existe um começo, meio e fim ali à disposição. É uma alternativa e a melhor coisa que o streaming pode nos proporcionar: acesso mais fácil a produções do passado, enquanto nos distraímos com a demora pelos “fenômenos” atuais. Vale a pena? Aconselho a manter as expectativas baixas.

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