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  • Foto do escritorVinicius Oliveira

Análise | A Casa do Dragão 1x10 (“The Black Queen”)

A Dança dos Dragões enfim começa.

Divulgação: HBO


No primeiro episódio de House of the Dragon, vimos Rhaenyra (Milly Alcock) ouvir de sua mãe Aemma (Sian Brooke) que o parto era o campo de batalha das mulheres. Em diversos momentos no decorrer da temporada vimos essa verdade se confirmar, mas nunca de forma tão brutal quanto no aborto espontâneo que Rhaenyra (agora vivida por Emma D’Arcy) sofre após receber a notícia da morte de seu pai Viserys (Paddy Considine). Essa dolorosa sequência, entrecortada com os movimentos de Daemon (Matt Smith) para a guerra e o dragão da protagonista, Syrax, reagindo à sua dor, dão a tônica de um episódio que prenuncia a tragédia desde seus momentos iniciais.


Na condição de final da temporada, The Black Queen apresenta uma estrutura curiosa, como se possuísse dois finais – a sequência triunfante da coroação de Rhaenyra (ou tão triunfante quanto possível após a perda de seu bebê) e o trágico clímax que confere ainda mais perdas à personagem. Entendo que esse clímax seja o verdadeiro estopim da Dança dos Dragões conforme narrado no livro, mas não deixo de pensar que se a série não tivesse eliminado tantos elementos narrativos com seus saltos temporais, poderíamos ter na coroação um final tão impactante. Mas o que está feito está feito, e a verdade é que The Black Queen é um final potente para a temporada, mesmo que carregue algumas das suas deficiências.


Focando na facção dos Negros da mesma forma que o episódio anterior foi dedicado aos Verdes, o episódio é uma vitrine sobretudo para a excelência da atuação de Emma D’Arcy. É quase cíclico que a primeira cena em que @ vimos na série foi dando luz a um de seus filhos, exibindo uma fisicalidade que chegava ser assustadora. Aqui, a atriz/ator (importante ressaltar que Emma é uma pessoa não-binária) domina cada cena, seja na sua cautela enquanto os homens à sua volta clamam pela guerra, nos seus momentos ternos com os filhos ou na tristeza e fúria que exibe diante de suas perdas.


Só é uma pena que, para enfocar a natureza disfuncional de sua relação com Daemon, o roteiro escolha por uma cena de agressão que soa completamente deslocada e gratuita dele para com ela. É possível argumentar que o personagem carrega toques vilanescos e até mesmo matou sua primeira esposa, mas faça um exercício e imagine a cena com os mesmos diálogos e tons de discussão sem que ele a enforque. Se não houve diferença nenhuma para a finalidade da série, então pode se concordar que a ação em si foi extremamente desnecessária para ambos os personagens.


Se aqui há uma falha nítida por parte do roteiro em relação à lógica interna criada para esses personagens, a outra sequência polêmica do episódio – aquela em que Vhagar, o dragão de Aemond (Ewan Mitchell), mata Lucerys (Elliot Grihault) e seu dragão Arrax após uma desesperada perseguição – ilustra como boa parte do público que já consumiu os livros têm dificuldade de separar o material original da sua adaptação. Nos livros, Aemond é descrito como um vilão sanguinário e que assassinou o próprio sobrinho a sangue-frio. Porém, é importante ressaltar que a narração adotada para os livros é a de um ponto de vista “oficioso” que precisa preencher brechas para eventos que não contaram com testemunhas, dando margem a uma ambiguidade que em geral foi satisfatoriamente resolvida pela série.


Esta vem buscando apresentar mais camadas aos personagens dos Verdes para tornar a narrativa menos maniqueísta, não sendo diferente com Aemond – que não deixa de ser um antagonista perigoso, mesmo que “menos” unidimensional. Além disso, a sequência como um todo é definitivamente um dos, se não o melhor momento da temporada, nos induzindo à ansiedade e ao terror mesmo que o episódio telegrafe desde o início a morte de Lucerys. Só é uma pena que a cena final não seja a face de horror de Aemond diante do que fez e o quanto isso elevará a guerra um novo nível, mas sim um frame da fúria de Rhaenyra após a notícia da morte de seu filho que, no entanto, parece uma imitação barata dos closes no rosto de Elisabeth Moss em The Handmaid’s Tale.


Independentemente das expectativas criadas por leitores e não-leitores, The Black Queen coroa, ainda que de maneira imperfeita, o final de uma primeira temporada que sem dúvidas afastou o medo de muitos que esperaram uma série no nível das últimas temporadas de GOT e não das primeiras. Por mais que o ritmo decorrente dos constantes saltos temporais tenham afetado a qualidade da temporada, é nítido que estamos agora numa nova fase que, se bem-adaptada (e não necessariamente fiel, porque fidelidade não é sinônimo de boa adaptação), pode colocar House of the Dragon no nível de sua antecessora. A Dança dos Dragões enfim começou e não há como voltar atrás.

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