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Foto do escritorVinicius Oliveira

Análise | A Casa Do Dragão 2x01 (Um filho por um filho)

Um retorno morno

Foto: HBO/ Divulgação


Em seus primeiros minutos, “Um Filho por um Filho” quase nos faz pensar que estamos de volta a Game of Thrones. Estamos no Norte, vemos os Starks e a Muralha... mas então entendemos que se trata de uma interação entre o jovem lorde Cregan Stark (Tom Taylor), um dos novos rostos da temporada, com o príncipe Jacaerys Velaryon (Harry Collett), que busca sua lealdade na disputa pela sucessão do falecido Rei Viserys (Paddy Considine). Essa familiaridade se estende quando somos lembrados de que o tema musical da abertura de A Casa do Dragão (House of the Dragon - HOTD) ainda é o mesmo da sua série-mãe. Por mais icônico que seja este tema, ainda assim sinto como essa repetição é um lembrete da sombra da qual HOTD não consegue escapar.


Em seu episódio de retorno, a série pega o gancho do final da temporada passada — a morte de Lucerys Velaryon (Elliot Grihault) e seu dragão Arrax pelas mãos de Aemond Targaryen (Ewan Mitchell) e Vhagar, o mais poderoso dos dragões do reino — para movimentar as peças da guerra civil iminente entre o partido dos Negros, personificado em Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy), e o dos Verdes, apoiador de Aegon II (Tom Glynn-Carney). Mas, apesar do seu final que adapta dos livros um dos seus momentos mais chocantes e icônico, é um episódio morno que reflete os principais problemas da série até aqui, seja os herdados de GOT ou os seus próprios.


É natural que, numa série com esse escopo (e ainda mais dois anos após a última temporada), seja preciso um primeiro episódio que prepare terreno e nos relembre do que está em jogo aqui. Contudo, uma das principais falhas da primeira temporada de HOTD foi justamente sua estrutura, onde ao trazer saltos temporais constantes entre os episódios para culminar na morte de Viserys e o início da guerra, sacrificou muito do desenvolvimento dos seus personagens. Mesmo com um ótimo elenco, é muito difícil se apegar ou se importar a certos personagens, e isso é evidente na cena final (mais sobre ela à frente).


Não que não existam momentos onde a direção dê a esses personagens e seus intérpretes espaço para brilharem. Três cenas me vêm à mente: aquela em que Rhaenyra encontra os restos de Lucerys e Arrax, a que Jaecaerys tenta dar notícias à mãe e então sucumbe à dor da perda do irmão e a montagem alternada entre o funeral de Lucerys e a oração de Alicent Hightower (Olivia Cooke, que ainda é o grande destaque da série). São cenas simples, mas eficazes em capturar o luto e a tragédia irreversível, mas que, infelizmente, ficam perdidas num episódio que não escapa dessa característica funcional da série, onde A sempre precisa levar a B e o caminho não recebe o tratamento adequado.


Isso fica evidente na cena final, que tinha tudo para ser um dos momentos mais chocantes e perturbadores desse universo, mas que é desperdiçada numa encenação burocrática. Aqui tento falar o mínimo possível como leitor das obras originais — livro é livro e série é série, sempre importante lembrar —, mas ainda que a violência da cena precisasse ser atenuada por envolver uma criança, há maneiras muito melhores de sugerir essa violência e o gore do que numa direção tão apática quanto a de Alan Taylor, onde a reação estranhamente fria de Helaena Targaryen (Phia Saban) já é um indício da falta de peso do momento. Pequenos detalhes, como o som da faca serrando, dão o tom aterrorizante necessário, mas infelizmente é pouco para o que podia ter sido visto em tela.


Além do mais, as próprias figuras dos assassinos — que parecem dois trapalhões — reforçam outro incômodo meu com HOTD desde a temporada passada: nada pode ser pesado o suficiente sem envolver alguma justificativa ou mudança por trás. Entendo que o público tenha seu apego ao maniqueísmo, mas a grande graça do universo criado por George R.R. Martin sempre foi a complexidade moral dos personagens, sendo a narrativa da Dança dos Dragões aqui adaptada um dos exemplos mais primorosos dessa ausência de vilões e mocinhos. Mas em HOTD os “vilões” precisam ser sempre justificados e os “mocinhos” não podem ir tão longe (exemplo disso é a própria morte de Lucerys, que foi tratada como uma confusão entre Aemond e Vhagar). É como se a produção tivesse pegado as críticas ao choque gratuito que muitas vezes se viu em GOT e tivesse resolvido ir para um outro extremo.


Infelizmente, porém, esse outro extremo resulta em episódios apáticos como "Um Filho por um Filho", que se salva por um ou outro momento, mas parece preso à burocracia que tem regido a série até aqui. Fico me perguntando como outros eventos muito mais pesados, violentos e trágicos serão adaptados: que peso terão se o que encontrarmos em tela for algo tão sem vida e ao mesmo tempo preocupado com as “sensibilidades” moralistas do público? É uma perspectiva um tanto desanimadora, mas certamente estarei ligando minha TV no próximo domingo às 22h para assistir o que está por vir.

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