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Foto do escritorVinicius Oliveira

Análise | Andor 1x09 ("Nobody Is Listening!")

Opressões não tão, tão distantes

Divulgação: Disney+


Um dos maiores méritos de Andor é em trazer, da forma mais contundente possível, uma mensagem que deveria ser percebida com mais clareza desde que Uma Nova Esperança estreou em 1977: o Império é um regime autoritário fascista. A cada episódio, a série aborda essa verdade com a seriedade necessária, culminando na hora sombria que é Nobody’s Listening!, um episódio que nos causa desconforto e ansiedade como poucas vezes se viu na franquia.


Mesmo sendo um episódio de “transição” dentro da estrutura adotada pela série, há uma tensão tão palpável e asfixiante no decorrer dele que é inevitável não se sentir sufocado junto com os personagens. Cada um dos núcleos parece estar em um ponto de ebulição, um reflexo da queima lenta adotada pelo roteiro até aqui. De um lado temos Cassian (Diego Luna) tentando sobreviver na prisão onde foi posto; Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) precisando sujar cada vez mais suas mãos pela causa rebelde, ao passo em que descobrimos uma surpreendente conexão familiar com outro importante personagem; e a tortura que Bix (Adria Arjona) sofre nas mãos de Dedra Meelo (Denise Gough), que se mostra uma vilã tão fascista quanto seus pares masculinos.


As sequências de Bix são um dos muitos momentos nesse episódio onde a crueldade absoluta do Império é mostrada sem floreios. Inteligentemente, Andor sabe contornar suas restrições etárias, o que de alguma forma a impulsiona: a tortura mental e psicológica que a personagem sofre nos é ainda mais excruciante do que qualquer violência física, graças à escolha da direção em nos trazer close-ups que potencializam a atuação de Arjona ao transparecer sua dor.


Da mesma forma, o núcleo de Cassian é um constante exercício de tensão, mantendo os temas foucaultianos do episódio anterior, aliado aos elementos orwellianos de vigilância e paranoia. Existe de fato algum tipo de “Grande Irmão” vigiando esses personagens para que eles continuem na linha? Talvez isso não importe tanto quanto a eficácia imperial em dobrar os prisioneiros à sua vontade (apesar dos apelos do protagonista, tal qual a frase que dá título ao episódio). As sementes para uma eventual fuga são gradativamente implementadas aqui, ainda que o florescimento delas passe por Kino Loy (Andy Serkis), líder dos prisioneiros. A adição de Serkis no episódio anterior foi completamente inesperada, mas o ator consegue dominar as cenas com pouco esforço, de modo que acreditamos plenamente na crença de Kino de que se seguir os passos certos será liberto dessa prisão, bem como o momento em que essa crença é cruelmente destruída nos angustiantes momentos finais do episódio.


Nobody’s Listening! é outra excelente hora de Andor, mesmo com um peso emocional que nos desconforta perante as situações vividas pelos personagens na mão do Império. Por não fazer rodeios quanto aos elementos que revelam a natureza fascista desse regime, a série pode afastar parte do público, mas como disse na semana anterior, quem não percebeu as críticas políticas enraizadas no DNA de Star Wars não entende de fato sobre o que é a saga. Felizmente, aqueles que entendem e estão acompanhando Andor estão sendo agraciados com uma das melhores séries do ano.

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