Rebeliões também são forjadas na tristeza
Divulgação: Disney+
Por quase toda sua duração, um sentimento de melancolia percorre Daughter of Ferrix, uma escolha criativa curiosa diante do sentimento eufórico e bélico do episódio anterior, mas que não tarda a fazer sentido aqui, como quase tudo adotado para a série. Utilizando o luto como mote não só para trazer mais desenvolvimento aos personagens, mas também para convergi-los ainda mais conforme a narrativa avança, o episódio apenas refreia um pouco o frenesi de One Way Out, costurando ação, drama e suspense com a finesse que já se tornou habitual de Andor.
É um episódio tão calcado na dor e na perda que sentimos até mesmo por um droide em luto, mais um atestado do brilhantismo do texto da série. Se a morte de Maarva (Fiona Shaw) pode a princípio soar decepcionante por não a vermos, seu impacto é igualmente recebido sobre todos – de Cassian (numa belíssima cena final que reflete a sua última em Rogue One) ao Império. Da mesma forma, já vínhamos sendo preparados para sua morte já há um bom tempo, de modo que ela não “surge do nada”, o que indica como a série é hábil em nos preparar a longo prazo para os eventos que agora vemos acontecer.
Da mesma forma, toda a sequência em que Luthen (Stellan Skarsgard) é abordado por um cruzador imperial parece uma solução narrativa fácil demais, mas se olharmos para os episódios anteriores veremos um homem cada vez mais cansado de se esconder e cada vez mais disposto a assumir riscos. Além disso, toda a tensão da cena – que culmina numa breve, mas já marcante batalha espacial que entra para os anais de Star Wars – é daquelas de nos deixar na ponta da cadeira, mostrando que a série não precisa mais adotar sua estrutura de nos preparar episódios inteiros para grandes sequências climáticas; afinal de contas, o tempo está passando cada vez mais rápido para seus personagens.
Em meio a isso, o episódio consegue arrumar tempo para cada um de seus núcleos, e nada soa fora do lugar a essa altura – uma aula de montagem que exibe a costura feita entre essas subtramas, que estão cada vez mais próximas umas das outras. Em nenhum lugar isso é tão evidente quanto o arco de Syril (Kyle Soller), que vê sua obsessão por Cassian (Diego Luna) voltar à tona com uma simples mensagem sobre a morte da mãe deste. Da mesma forma, vemos Bix (Adria Arjona) completamente zumbificada em razão das torturas violentas que vem sofrendo, e ainda Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) ainda presa ao seu conflito moral sobre usar a própria filha como moeda de troca para apoiar a Rebelião. Desde sua primeira aparição tenho sido grande apreciador das microexpressões que O’Reilly acertadamente adota para sua personagem, mas aqui ela consegue se sobressair, transmitindo toda a dor de uma mulher que precisa pagar preços cada vez mais altos para combater o regime fascista em que vive.
Seja em Coruscant, Ferrix ou Niamo, essa dor atravessa os personagens das mais variadas maneiras, resultando num episódio que, a despeito da ação que entrega, é talvez o mais introspectivo e melancólico numa série que não se furta a ser intimista quando quer, nem oferece resoluções fáceis aos seus personagens. Faltando apenas um episódio para se encerrar, a primeira temporada de Andor se coroa a cada semana como a obra-prima da saga, fruto da mente de uma equipe que conseguiu fazer o que muitas vezes outros tiveram medo de tentar: olhar para Star Wars e ver além dos sabres e Skywalkers, enxergando todo o potencial do seu drama político e de espionagem e de guerra. O resultado é uma série lamentavelmente subestimada, mas indiscutivelmente perfeita.
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