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  • Foto do escritorAianne Amado

Análise | Succession 4x01 (“The Munsters”)

A mais cara e distorcida linguagem de amor da ficção

Divulgação: HBO


Não é tarefa simples criar o primeiro episódio da temporada final de uma série. É preciso retomar a história de onde parou e, ao mesmo tempo, introduzir o tom do novo ano;  deve deixar no ar o gostinho de “está acabando”, de um lado, e de “há muito o que esperar”, de outro; e tem que ser excelente, para lembrar ao público porque amam tanto aquela obra… mas não tão excelente a ponto de ser melhor que os episódios finais (o que, sabemos, levaria ao fatídico meme do cavalo gradativamente pior desenhado). Como disse, não é simples. Mas Succession faz parecer que é – justificando, mesmo nessa sequência primorosa de séries de domingo da HBO, o título de série do momento.


Antes de entrar no novo episódio, lembremos do chocante cliffhanger da temporada passada: os três irmãos Shiv (Sarah Snook), Kendall (Jeremy Strong) e Roman Roy (Kieran Culkin), outrora rivais entre si na disputa pela cadeira do pai (Logan Roy, interpretado pelo brilhante Brian Cox), agora se juntam contra o próprio e tentam dar um golpe na venda da empresa. Essa dinâmica de criador versus criatura é basicamente a premissa da série e, historicamente, sabemos que ir contra o todo-poderoso líder da fictícia Waystar RoyCo é cavar a própria cova. Acontece que, pela primeira vez, temos todas as criaturas unidas. Criaturas, vale dizer, bastante vingativas, remoendo uma sequência de traições e abandonos que datam… bem, desde seus respectivos nascimentos até o dia que Logan finalmente revela o óbvio (ao menos para nós): que não planejava, de fato, deixar a Waystar para nenhum dos filhos.


Falando em traições, Logan foi avisado do esquema por ninguém menos que Tom Wambsgans (Matthew Macfadyen), (ex?) marido de Shiv. Para completar o #teamLogan, temos Connor Roy (Alan Ruck), meio-irmão dos Roy; Greg Hirsch (Nicholas Braun), primo; Gerri Kellman (J. Smith-Cameron), conselheira da Waystar, madrinha de Shiv e, hmm, peguete do Roman; e, sim, a própria mãe deles, Caroline Collingwood (Harriet Walter).


É nessa competição que The Munsters começa. Se nas outras temporadas a codependência dos filhos com o pai era demonstrada na relação abusiva que tinham, agora é na ausência dessa relação que essa submissão fica evidente. Os três irmãos são aparentemente incapazes de bater o martelo sobre qualquer coisa sem a validação de Logan. Posam como grandes empresários mas não conseguem sustentar uma decisão de negócio. É nessa desordem de insegurança que decidem jogar fora o projeto que vinham trabalhando juntos (não sabemos quanto tempo se passou desde o último episódio) quando descobrem que Logan tem um novo plano e podem se vingar dele.


Assim como “as crianças” – como, não por acaso, ainda são chamados, Shiv, Roman e Kendall – sentem falta dos abusos do pai, este procura inconscientemente por seus filhos em sua própria festa de aniversário. Além de desanimado, Logan está ainda mais mal humorado, ríspido e sarcástico que de costume, saindo no meio da celebração para ter uma conversa filosófica com seu segurança numa lanchonete qualquer, fugindo de toda a pomposidade que parece não lhe servir mais. Só parece. É claro que Logan nunca vai cansar de brincar de xadrez com bilhões de dólares e o patriarca volta a ser o megero que conhecemos quando descobre que seus filhos foram para a guerra contra ele. De uma forma bizarra – como todo abuso é – caça e caçador só são felizes em disputa.


É esse cenário que inicia os conflitos da última temporada da série. Conflitos envolvendo não só valores estratosféricos e dezenas de “f*ck off’s”, mas também muito (muito!) humor e uma pitadinha de sentimento. É impressionante como uma série em que quase ninguém ri consegue ser tão engraçada. Assim como os personagens da série, é no desconforto que o humor de Succession mais se destaca. Isso se dá graças à combinação perfeita e cada vez mais rara entre (1) roteiro assertivo do criador Jesse Armstrong, que conhece muito bem seus personagens, não subestima o público e, principalmente, consegue explicar temas complexos como transações multinacionais e disputas entre shareholders para quem nunca sequer andou de helicóptero; (2) direção (assinada por Mark Mylod nesse episódio) sempre com um timing perfeito para equilibrar seriedade e humor; e (3) elenco excepcional, sem dúvidas o melhor da atualidade, que transformam com maestria personagens asquerosos em carismáticos. Neste sentido, o destaque do 4x01 – e em quase todos os episódios – vai para a dupla Tom e Greg, que, juntos, são o equivalente à dupla atrapalhada de animaizinhos que acompanham o vilão de uma animação da Disney.


Além do humor já usual, The Munsters surpreende também pela emoção. Numa linda cena em que Shiv e Tom conversam sobre os rumos do casal, temos talvez a primeira verdadeira amostra de amor romântico entre os dois. Shiv consegue confrontar o companheiro sobre seus encontros com outras mulheres, ironizando como é de costume, mas quando tenta falar da traição sobre os negócios da família, sequer consegue finalizar uma frase. Nunca foi a monogamia que interessava nesta relação, a fidelidade que ela esperava era sobre outra coisa. E Tom demorou demais para entender.


O primeiro episódio termina com uma inesperada (e dispendiosa) vitória da caça – o que, em Succession, significa que invariavelmente vai dar merda. É um excelente início do fim para uma série que, dentre os vários méritos, talvez o maior seja saber a hora de acabar, por mais ambicioso que seja tudo sobre esse projeto. Tivesse sucumbido ao sucesso e estendido a narrativa para mais e mais temporadas, andariam em círculos até chegar numa temporada 8 de Game of Thrones (ou num episódio musical, como fizeram as séries que se recusaram a acabar Grey’s Anatomy, Supernatural e Riverdale). Não é o caso. Sem qualquer barriga, Succession está no caminho de encerrar sua história fictícia na hora certa e eternizar seu nome na história de clássicos televisivos deste século.


Nota: 5/5

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