Segundo capítulo é um presente não só para os fãs, mas também aos novos espectadores
Divulgação: HBO
Após uma estreia (muito) bem sucedida, não era nada estranho prever que as expectativas para o segundo episódio de ‘The Last of Us’ estariam altíssimas. Assim, quase como um desafio autoposto, o segundo capítulo da adaptação da HBO supera seu piloto e entrega uma verdadeira expansão em sua narrativa, alçando voos para além dos parâmetros comumente utilizados para definir uma boa adaptação de games.
Da mesma forma que foi feito no capítulo anterior, o episódio dessa semana mostra em seus minutos iniciais os momentos que antecederam o pináculo da pandemia do Cordyceps; dessa vez, somos transportados para Jacarta, Indonésia, marco zero da infecção. Na cidade, a microbiologista Ibu Ratna é procurada às pressas pela força militar para analisar o corpo de uma mulher infectada pelo fungo. Em meio à uma descoberta chocante, o diagnóstico da cientista revela o pior cenário possível, em que a única alternativa para parar a proliferação do agente infeccioso é nada menos do que a aniquilação total.
É interessante perceber como muito do que ‘The Last of Us’ mostra, desde seu capítulo inaugural, reverbera de maneira particular com o espectador. Ora, após termos nós mesmos nos deparado com um cenário pandêmico de proporções nunca antes vistas na história contemporânea, trazer para as telas produções com essa temática mexe assustadoramente com o imaginário popular – ainda mais dados os resultados catastróficos que a série mostra. Com isso, cabe dizer que o segundo episódio é fulminante em sua finalidade, nos apresentando um mundo apocalíptico temeroso e brilhantemente adaptado das telas do jogo da Naughty Dog, com o bônus de trazer sua própria identidade de maneira espetacular.
Adentrando um pouco mais na história, o que temos aqui é a preparação do terreno para de fato iniciarmos a história de ‘The Last of Us’. Com os personagens já apresentados, a série se propõe, a partir desse momento, a aprofundar-se em suas relações e no condão que guiará o restante da narrativa. Aqui, Joel (Pedro Pascal), Tess (Anna Torv) e Ellie (Bella Ramsay) enfim saem dos muros sanitários de proteção da FEDRA e partem em direção à base dos Vagalumes para cumprir sua missão inicial.
Durante essa incursão, os personagens são atacados pela primeira vez por infectados, momento perfeito para que muito da mitologia do mundo de TLOU seja explicada. Com diálogos organicamente didáticos e precisos, a personagem de Torv expõe como funciona o modus operandi do cordyceps e conta como eventos anteriores de expedição a mesma cidade ocorreram.
Esse momento é importantíssimo não só para que aqueles que não estão familiarizados com o jogo entendam algumas dinâmicas, mas também para acalmar alguns ânimos; a falta dos “esporos” – elemento crucial de infecção do jogo – é estrategicamente suplantada por uma espécie de consciente coletivo do fungo que é aqui inserida na história. Nesse ponto, vemos que ‘The Last of Us’ encarna com maestria o espírito de uma ótima adaptação. Afinal, para que possa funcionar, algumas concessões devem ser feitas para se moldar ao formato da melhor maneira possível, coisa que é feita aqui.
Em termos de roteiro, o segundo capítulo também funciona como uma ponte para a audiência menos assídua. Os diálogos entre os três componentes do núcleo principal são bastante importantes para que se crie uma conexão maior com a história. A primeira interação mais densa entre Ellie e Joel toma forma em uma conversa casual em que perguntas são feitas um ao outro. Em consonância a isso, algumas discussões morais que permeiam o universo de TLOU (assim como outras histórias apocalípticas com figuras zumbificadas) também aparecem aqui: afinal, apesar de agora serem “monstros”, os infectados já foram humanos.
Além disso, destaca-se a competência dos aspectos técnicos que só uma série da HBO poderia proporcionar. Com uma fotografia belíssima e planos muito bem pensados, “Infectado” eleva o nível do que já vinha sendo delineado no primeiro episódio, trazendo composições visuais que conversam com a trama de maneira muito inteligente. Cita-se, a título de ilustração, o plano em que Ellie é finalmente aceita por Tess como uma possível salvação para humanidade e incumbe Joel de protegê-la a todo custo. A construção visual e o jogo barroco de sombras e luz materializam aos olhos a simbologia que a cena representa para o restante da história: esperança.
Assim, com um fechamento bastante comovente, ‘The Last of Us’ entrega mais um episódio de elevadíssimas qualidades. Muito além de ser a mera adaptação dos eventos iniciais do aclamado jogo da Naughty Dog, o episódio esboça as verdadeiras pretensões da HBO de entregar um produto de qualidade e cheio de essência
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