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Foto do escritorHosanna Almeida

Análise | The Last Of Us 1x06 ("Kin")

A vulnerabilidade é a paisagem da desolação

Divulgação: HBO


É comum que adaptações audiovisuais, televisivas ou cinematográficas, de produções distópicas, pós-apocalípticas de livros ou games, à exemplo de Resident Evil ou Jogos Vorazes, deem enfoque às vidas e histórias dos personagens principais já apresentados ao longo da trama. A partir de agora acho pertinente marcar que, antes do debut da série, eu nunca tinha tido contato com nada do universo de The Last of Us. Preciso marcar também que, de minha parte, acho que há uma espécie de generosidade nas decisões de roteiro de incluir personagens que não são os principais da história (Joel e Ellie), ou que tampouco farão diferença substancial para o rumo da série, só para construir mosaicos de perspectivas das vidas que também foram arrasadas pela pandemia de Cordyceps.

Depois da traumática cena do episódio anterior em que Henry, após tirar a vida do irmão, entra em choque e se suicida, a primeira cena do episódio seis, Parentesco, contempla a imensidão. E é essa imensidão que aparece, a todo tempo, paralela aos relacionamentos ao longo do episódio, como duas faces de uma circunstância: A vastidão e o pequeno cômodo - seja um quarto de garota, uma cabana de madeira no meio do nada, ou uma caverna como abrigo temporário. A grandeza e os detalhes que só podem ser vistos numa proximidade. O primeiro encontro do episódio com o casal surpreendentemente bem-humorado de senhores no autoexílio chama atenção pela linguagem íntima deles. Os olhares que se reconhecem, a linguagem corporal de hábito e tranquilidade, a franqueza e a naturalidade que só um relacionamento de longa data possui.


Caminhando para o final de seus destinos (e para o final da série), Joel e Ellie estão diante do ponto de mudança - o fatídico, na cena do encontro com os protetores da Comuna onde vive o irmão de Joel, e o figurado, como o “rio da morte”, o Estige dessas trajetórias: uma transição, passagem. O reencontro com Tommy numa vida que, em algum nível, relembra a normalidade de um mundo sem a doença, traz à tona os ressentimentos pelo passado e pelas escolhas presentes. O irmão que buscou construir uma vida, enquanto ele, anos após a inesperada e cruel morte da filha, ainda foge dos vínculos - seja com Tess ou agora com Ellie. São confrontados, os dois, pela inadequação dentro dos portões da cidade. Quando desabafa de modo franco com o irmão, expõe pela primeira vez a mescla da dor do envolvimento e a percepção da própria falibilidade, e recorre ao irmão pedindo que ele cumpra a missão de levar Ellie ao destino final. A frase “i’m failing in my sleep” é dita como um segredo. O refazer da vida diante da desolação requer vulnerabilidade. A vulnerabilidade, mesmo diante do fim do que o mundo costumava ser, ainda continua sendo uma escolha.


Depois do ataque de forasteiros, o episódio encerra com Ellie também reconhecendo sua incapacidade e afeto diante de Joel, já desmaiado após o golpe certeiro. A semelhança entre a cena inicial e a final, a vastidão e a solidão, num ciclo fechado. A vulnerabilidade é a paisagem da desolação.

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