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Foto do escritorAianne Amado

Análise | The Last Of Us 1x08 ("When we are in need")

Cada vez mais os infectados são adereços. E isso é bom.

Foto: Divulgação


Semana após semana, The Last of Us vem provando que não é a série de “zumbi” (que a equipe da série não me veja escrevendo isso, já que eles mesmos proibíram o uso da “palavra com z”, apenas usando o termo “infectado” para os mortos-vivos que aparecem na série) que o público, especialmente o que acompanha a narrativa desde os games, esperava. Essas criaturas, outrora humanas e hoje dominadas por um fungo parasita altamente contagioso, aparecem vez ou outra para dar um toque de ação e lembrar o porquê daquele contexto pós-apocalíptico, mas não fazem muito mais que isso. E há de se entender, em partes, a fúria de alguns fãs: os infectados são, sim, elementos bastante interessantes e ainda há muito que se revelar sobre eles (há emoções e raciocínio humano por trás de todo aquele cogumelo? quais os tipos de infectados e como eles se dividem?).


Mas The Last of Us não é uma série de zumbi. Os oito episódios até aqui exibidos não deixam dúvidas de que estamos assistindo uma história sobre conexões humanas nas condições menos humanas possíveis, sobre a dualidade entre dois instintos tão inerentes: o de sobrevivência e o de empatia. Tanto que um recurso recorrente tem sido a apresentação de personagens queridos que morrem no mesmo arco narrativo, senão no mesmo episódio: Sarah, Marlene, Tess, Bill, Frank, Henry e Sam.


No oitavo episódio, penúltimo da temporada, esse padrão muda. Somos introduzidos à cidade de Silverlake, povoada por uma comunidade em extrema vulnerabilidade, liderada pelo extremista religioso David (Scott Shepherd). Apesar de todos na cidade confiarem nele, sabemos desde o início que há algo de errado em sua personalidade. Quem também sente tal desconfiança é Ellie (Bella Ramser), que, ao sair para caçar um veado enquanto tenta cuidar e prover para um Joel (Pedro Pascal) ainda extremamente ferido, encontra David e James (Troy Baker), um de seus subordinados.


Tentando impor mais segurança que sua imagem de menina consegue sustentar, Ellie ameaça os dois homens, que, por sua vez, tentam lhe vender a promessa de acolhimento em Silverlake. Um acordo é feito quando, em troca de metade do veado e de deixá-los vivos, Ellie aceita remédios para tratar a infecção de Joel. Mas a sagacidade de uma pré-adolescente que cresceu num mundo apocalíptico só vai até certo grau, jamais sendo superada pela de um homem que ganhou a vida manipulando outros. Ao lhe ser revelado que ela e o amigo são suspeitos de matar um membro da comunidade, Ellie se dá conta que está numa emboscada e consegue fugir com os remédios, que aplica em Joel quando retorna.


Retornando para a uma comunidade que, suspeitamente, agora possui alimento – coisa escassa algumas cenas atrás, David é questionado por James sobre suas decisões e intenções com a menina. Em reunião com a comunidade, tenta explicar sua misericórdia quase divina, ao mesmo tempo que perde o controle e agride uma de suas fiéis, filha da vítima, que clama por vingança. As pulgas atrás da orelha das primeiras cenas começam a se justificar, e membros de Silverlake partem em busca da redenção de Ellie e da cabeça de Joel.


Percebendo que a ameaça se aproxima, Ellie protege um Joel ainda debilitado e parte para distrair seus atacantes, sendo logo capturada por eles. Ela acorda numa cela, com David à sua espera. Ao perceber um pedaço de orelha humana no chão, Ellie e nós entendemos, enfim, como aquela população vinha se alimentando diante de tamanha escassez. Se antes amedrontada, Ellie agora está também enojada e rejeita as investidas do homem, agredindo-o e esgotando toda piedade que ele fingia ter por ela. O embate entre os dois desemboca numa perseguição silenciosa no local de concentração de Silverlake, que é tomado por chamas. É uma sequência tão tensa quanto excelente, desembocando numa tentativa de estupro e no assassinato de David por uma Ellie descontrolada de medo, que enfim consegue liberar todo ódio e violência que vinha guardando desde o primeiro episódio.


Joel, que juntou toda a pouca energia que tinha para procurar sua protegida, a encontra fugindo do pesadelo que acabou de viver. Desorientada e avessa ao toque, Ellie se debate contra Joel, que, confuso, a conforta, chamando-a de “baby girl”.


Não acho que esse seja o melhor episódio de TLOU (afinal, nessa mesma disputa tem "Long, Long Time", talvez um dos melhores episódios de série do ano), mas considero o mais importante. É como se tudo que assistimos até aqui fosse um aquecimento para mostrar o potencial de amor entre duas pessoas extremamente machucadas, e esse episódio viesse para justificar Joel finalmente se despindo das armaduras emocionais e Ellie se deixando ser vulnerável e abraçada. Ao meu ver, o título do episódio, “When we are in need”, confirma essa suspeita.


Destaque necessário para Bella Ramsey, que carrega a narrativa pelo segundo episódio seguido e não deixa nada a desejar. Sua personagem exige timing cômico, um olhar sombrio e machucado e, nesse episódio, um senso de terror. Três facetas dificílimas de serem alcançadas até mesmo isoladamente. Muito tem se falado sobre Pedro Pascal, mas há de se reconhecer, também, que sem Bella, dificilmente a série nos tocaria tanto.


Como falei lá em cima, The Last of Us nos fala de conexões. Na série, os maiores riscos são os seres humanos – mas também é só pelos seres humanos que vale a pena lutar. É preciso personagens complexos, profundos, vivos e com vontade de viver para que essa história seja contada. Infelizmente, os infectados não preenchem esses requisitos.


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