Uma história sobre luto, conservadorismos e tartarugas
Foto: Divulgação
As angústias e as dores de viver a solidão são sempre muito palpáveis e parece que esses sentimentos se intensificam ainda mais com o passar da idade. O marasmo da rotina, a distância dos familiares, o luto por uma perda. Tudo parece maior em um eco de silêncio. É isso que vemos quando somos introduzidos à vida de Chiara, matriarca de uma família de descendência italiana que vive no interior do Rio Grande do Sul. Depois que o último de seus filhos sai do lar para morar sozinho, ela decide acompanhar o marido em uma de suas viagens a trabalho para não ficar só em casa.
Alfredo, que trabalha fornecendo produtos de bar em bar pela estrada da Serra Gaúcha há anos, é acompanhado pela esposa. Juntos entre botecos e rodovias, uma descoberta inquietante sobre a vida que Alfredo vive na estrada, envolvendo baralhos de carta, notas fiscais e até uma tartaruga, colocará à prova a confiança e o que eles sabem um do outro.
Lançado nos cinemas nesta quinta-feira, 3, o longa brasileiro Até que a Música Pare é uma coprodução entre Brasil e Itália, gravada no interior do Rio Grande do Sul e dirigida por Cristiane Oliveira (responsável pelo ótimo Primeira Morte de Joana). Sendo o terceiro longa-metragem da diretora, a obra é um drama baseado em histórias reais ouvidas por Cristiane de amigos, retrata essas angústias sentidas por sua protagonista e as turbulências sentidas por ela em um período tão delicado.
Utilizando-se bem da rachadura causada pelo bolsonarismo nas famílias brasileiras, o roteiro de Até que a Música Pare não é nem um pouco sutil ao demonstrar como o conservadorismo se pauta dentro desses cenários particulares num acúmulo de ações demonstradas em pequenas atitudes. Além disso, a fé também parece ser um ponto-chave na vida de muita gente e na para Chiara e Alfredo, sua presença, assim como o conservadorismo, é uma sólida rocha nas fundações dessa família, e isso causa rupturas.
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Ao focar em diálogos extremamente expositivos, Até que a Música Pare deixa tudo muito claro e explicado para o seu telespectador, mesmo que muitas vezes isso seja desnecessário. E mesmo que essa alegoria política faça muito sentido para sua trama, em alguns momentos ela soa exagerada dentro da sua narrativa, que se torna morosa e lenta por essa demasiada exposição em seu texto. Com um elenco que cumpre o que se propõe, em destaque, obviamente, a sua protagonista interpretada Cibele Tedesco, o longa também nos ambientaliza bem no cenário interiorano gaúcho com uma fotografia muito bonita, combinando bem também com uma trilha sonora bem marcante.
Pensando na linguagem, o drama de Cristiane Oliveira possui, de cara, um grande diferencial: é quase todo falado em talian , dialeto que nasce de uma mescla entre o português e o italiano, muito presente no interior do Rio Grande do Sul. O dialeto foi, recentemente, reconhecido pelo Inventário Nacional Da Diversidade Linguística e sob esses aspectos culturais tão particulares, Até que a Música Pare conserva essa mescla de culturas que existem no Brasil.
De forma geral, o longa retrata bem essa sensação de solitude, mas peca em um didatismo desnecessário. Porém, ainda é um bom retrato de um Brasil escondido no interior e que carrega semelhanças com muitas das vivências que conhecemos. Não é o melhor retrato sobre uma história da terceira idade, mas cumpre o seu papel.
Nota: 3/5
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