Suspense é pop comercial assumido e sólido, apesar dos furos no texto
Foto: Divulgação
Quando o bilionário da tecnologia Slater King (Channing Tatum) conhece a garçonete Frida (Naomi Ackie) em seu baile de gala para angariar fundos, a atração entre eles é inegável. Ele logo faz a Frida um convite irresistível: juntar-se a ele e seus amigos numas férias dos sonhos em sua ilha particular. É o paraíso. Noites selvagens se misturam a dias ensolarados, e todos estão se divertindo muito. Ninguém quer que a viagem acabe, mas como situações estranhas começam a acontecer, Frida também começa a questionar, sobretudo, a sua realidade. Há algo de errado com este lugar, e ela vai ter que descobrir a verdade se quiser sair viva dessa grande e estranha festa.
Dando uma nova roupagem ao estilo de suspense criado pelo romance The Body Snatchers, de Jack Finney, a história de Pisque Duas Vezes funciona muito bem cena à medida em que vai sendo desdobrada, mas muito desse bom resultado se dá mais pela execução do que pela ideia em si. O primeiro filme de Zoë Kravitz como diretora – onde também é roteirista – mostra bastante identidade ao desfrutar de vários recursos visuais para dar vida ao argumento, especialmente o trabalho com cores, sempre vivas e brilhantes, e formas. Outra ferramenta que soma à experiência sensorial é o som. O desenho de som é bem construído e aplicado. A trilha sonora, original e preexistente, é esperta e dinâmica. E todos esses acertos servem como um excelente invólucro para um roteiro que usa sua principal motivação como o maior tapa-buraco da narrativa, sendo usada apenas quando convém e como convém. Mas para além dos truques e dos clichês (que acabam por limitar as possibilidades de ir além do esperado), é um texto sagaz e que tem seu valor social bem discutido.
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A atriz britânica Naomi Ackie está deslumbrante numa atuação que parece sempre nova, todas as vezes em que aparece ela consegue surpreender de alguma forma positiva. Todo o elenco inteiro feminino é na verdade outro ponto forte da produção. E o encantador Channing Tatum sustenta bem a figura misteriosa de seu personagem passeia entre o bobo apaixonado e o antagonista autoexplicativo.
Pisque Duas Vezes é um desbunde no melhor dos sentidos. É pop, é atual, é engraçado, é sangrento, é sexy, é inusitado e é bem capturado. Dependo da carga cultural do espectador vai ser possível perceber quais referências Kravitz usou e onde usou (e ela usa muitas), mesmo assim ela consegue compactar essas ideias e propostas anteriores e transformar num filme que tem bastante potencial para virar um cult.
Nota: 3,5/5
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