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Foto do escritoroxentepipoca

Crítica | 13 Sentimentos

Uma conflitante história de desamores

Foto: Divulgação


Até que ponto os sentimentos podem se sobrepor à visão crítica? Muito se é falado sobre a subjetividade da arte e do quanto ela é interpretativa a partir do ponto do espectador, no entanto, para que aquele produto artístico ganhasse forma, foi necessária uma mão de obra por trás e toda uma pá de escolhas técnicas e tomada de decisões para que chegasse à sua forma final. Certo? Tendo em vista isso, pergunto novamente: até que ponto os sentimentos podem se sobrepor à visão crítica?


Penso que nunca tive um misto de sensações conflitantes dentro de mim quanto após assistir 13 Sentimentos. Contudo, vamos por partes. O filme traz a história de João (Artur Volpi), um homem gay de 32 anos que recém saiu de um relacionamento que durou uma década e agora está buscando formas de preencher a lacuna deixada com esse encerramento. Além desse detalhe, ele também vê sua janela de oportunidade profissional se fechar ao descobrir que o roteiro que estava escrevendo não foi aceito, e que agora precisa procurar outros meios, e como já trabalha também com edição, acaba encontrando uma forma de usar isso a seu favor. (Informação importante!)


A história já começa a partir do ponto em que ele retorna de sua viagem, já solteiro, e inicia sua jornada nada heróica pelos aplicativos da vida. Confesso que esse primeiro momento me causou um certo desconforto, apesar de gostar da maneira como se dão os diálogos, que ao invés de balões com mensagens, é feita em tela com os personagens falando aquilo que conversam. O que me gerou o desconforto não foi isso, mas o texto mesmo, esse primeiro diálogo meio enlatado entre João e sua possível paquera, que parece algo que o twitter de 2018 amaria. Passando esse primeiro momento, o filme se desenrola em volta da vida do protagonista que, mesmo em negação, não sabe como lidar com sua própria solidão, mais conversas, mais encontros, mais saídas. Mais diálogos ruins. Até certo ponto (quase o final), o roteiro se mostra algo meio engessado, quase como uma primeira ideia que não foi esculpida corretamente para filtrar o que fosse desnecessário e trazer as melhorias para o texto. Por consequência disso, a maior parte dos diálogos não soam tão naturais quanto as situações pedem.

Foto: Divulgação


Com exceção dos minutos finais, a direção de Daniel Ribeiro parece não encontrar o ponto certo de condução, deixando o texto ainda mais a mercê de uma certa robotização. As partes técnicas do longa também parecem algo não finalizado, como se não tivessem amadurecido o suficiente para se chegar ao ponto que deveria. Senti durante quase todo o filme que não estava assistindo ao produto devidamente tratado, era como se fosse um rascunho que ainda estava em processo de edição. Os enquadramentos e a fotografia não trouxeram o frescor e a leveza que a trama pedia. O grande trunfo realmente fica com o pré-final. Aquela cena dos dois personagens na cama é tão bem posta e conduzida, bem dirigida e produzida que pareceu ter sido algo feito à parte e encaixado ali depois. É uma das sequências mais bonitas que já tive o prazer de assistir. Em comparação a todo o filme, pareceu outra mão ali. Dando créditos e méritos, as escolhas musicais e de trilha foram bem acertadas na medida do possível e Volpi conseguiu segurar o rojão no protagonismo. Michel Joelsas também se sai bem e seus momentos em cena são satisfatórios.


Agora volto à pergunta que fiz lá no início, depois de tudo que falei, como é possível ter algum sentimento bom em relação a um filme que eu mesmo declarei como falho? É aqui que entra o meu conflito. Enquanto todo o meu lado racional e crítico conseguiu notar todas essas coisas, as ausências e as necessidades técnicas mais refinadas, o meu emocional se chocou com a história de forma geral.


Em comparação à quantidade de produções realizadas mundialmente em um ano, é ainda muito escasso histórias que trazem o cotidiano de um adulto gay em seus conflitos sentimentais em relação a si e ao mundo. É nisso que o filme consegue ter algum acerto, claro que cada vivência é diferente e as experiências serão divergentes para cada pessoas, contudo, há algo que é universal em algum âmbito: a frustração. Eu o assisti 2 vezes e ainda demorei alguns dias matutando em como transmitir em palavras o que minha razão e minha emoção me fizeram pensar. Confesso que quando dei o primeiro play, estava em um dia péssimo, e isso colaborou ainda mais para uma aproximação com a história, eu tinha um desejo muito grande de me conectar e de gostar de tudo, mas, houve decepção com tudo que já citei.


Não costumo escrever dessa forma, quase como um desabafo, mas foi frustrante para mim de forma pessoal que 13 Sentimentos não atingisse as expectativas desejadas. Meu anseio é que haja mais espaço para bons enredos e premissas como essa, só que melhor elaboradas. Eu ainda não sei se a forma correta seria dizer que "apesar dos defeitos, eu consegui gostar da história" ou se seria "apesar de gostar da história, não consegui ignorar os defeitos". Mas está tudo ali. Tem um início, tem um meio, e tem um fim (muito bonito, repito), e mesmo que tenha achado brega a explicação do título ali no final, não sei se sobrou 13 sentimentos em mim, mas pelo menos 1 eu senti.


Nota: 2,5/5

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