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  • Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | A casa do Dragão (2ª temporada)

Depois da calmaria, vem... mais calmaria?

Foto: Divulgação/ HBO


Com o final da sua primeira temporada, A Casa do Dragão nos prometeu que a guerra iria eclodir. Um limite trágico havia sido ultrapassado na tensão crescente entre os Negros — partidários de Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy) — e os Verdes — apoiadores de seu meio-irmão Aegon II (Tom Glynn-Carney). Não havia mais espaço para a diplomacia ou para as palavras. Era hora do fogo e sangue.


Que estranho — e frustrante — ver que, ao final da sua segunda temporada, essa promessa ainda está longe de ser cumprida. Embora vejamos relances da guerra (em especial no excelente quarto episódio, talvez o melhor da série até agora), o saldo geral ainda é o dessa preparação, desse “vem aí”, culminando em um segundo ano marcado por voltas em torno de si mesmo, o que inevitavelmente desperta os temores daqueles que, como eu, ainda foram traumatizados pelo final de Game of Thrones.


Afinal de contas, a pergunta que fica é: por que tamanha redundância? A primeira temporada, mesmo com seus percalços, já havia sido uma sólida preparação de terreno para o conflito denominado Dança dos Dragões, que a série adapta do livro Fogo e Sangue . Vale citar que, no livro, esse conflito não ocupa nada menos do que 200 páginas; logo, adicionar elementos e situações à narrativa era necessário para dar o estofo de que a série precisaria para durar algumas temporadas. Ao término desta temporada, porém, fica a sensação de que nem Ryan Condal ou sua equipe de roteiristas têm a capacidade de dar esse estofo, preenchendo os eventos narrados na obra original com cenas que parecem repetições de si mesmas, eventos que tiram nuances e complexidades dos personagens. Passa longe do desastre que vimos nas duas últimas temporadas de GOT, mas ainda assim nos deixa um sabor agridoce de potencial desperdiçado.


Aqui vale uma contextualização. A temporada iniciou suas gravações em 2023, pouco antes da eclosão da greve dos roteiristas em Hollywood. Embora as gravações tenham seguido em frente por ocorrerem fora dos EUA, os roteiros precisaram ser mantidos inalterados em decorrência da greve, sem nenhum ajuste, reescrita ou pós-produção relativas a ele. Nesse sentido, o quanto disso interferiu na nítida queda de qualidade na temporada? Fica a sensação de que ela foi gravada com a versão “demo” desses roteiros, pois é nítida a falta de refinamento em alguns núcleos.


Tome-se como exemplo o arco de Daemon (Matt Smith) em Harrenhall, de longe o pior e mais ridicularizado bloco da temporada. São seis episódios de intermináveis visões, diálogos repetitivos, onde mesmo Smith — um dos atores mais notáveis do elenco, de longe — parece perdido quanto às direções dadas para seu personagem. Da mesma forma, o núcleo de Rhaena (Phoebe Campbell) no Ninho da Águia é tratado de maneira tão desleixada que mesmo após seu “final” ainda é difícil entender o que a série queria com a personagem. E nem vou mencionar a subtrama de Tyland Lannister (Jefferson Hall) no último episódio, que parece uma paródia ruim de Nossa Bandeira é a Morte...

Foto: Divulgação/ HBO


Mas há acertos, especialmente do lado dos Verdes. Há muito A Casa do Dragão assumiu de fato sua faceta novelesca, adotando uma narrativa que posiciona a corte de Aegon como os antagonistas da trama. Parece até irônico que, como toda boa novela, o núcleo dos vilões seja muitíssimo mais interessante que o dos mocinhos, muito por causa das atuações. Como Alicent Hightower, outrora a melhor amiga de Rhaenyra e agora sua mais amarga rival, Olivia Cooke é talvez o melhor nome do elenco, trazendo uma dualidade à sua personagem que o roteiro falha em imprimir — mesmo que tenhamos de pagar um preço alto com seu caso “tórrido” com Criston Cole (Fabien Frankel) nos primeiros episódios. Da mesma forma, Glynn-Carney consegue trazer algumas nuances que elevam seu Aegon para além de um completo idiota, enquanto Ewan Mitchell abraça por completo a vilania trágica do seu Aemond para transformá-lo no antagonista mais notável da série, mesmo no seu silêncio carregado.


Mas como eu disse, para um núcleo dos Verdes que justifica que amemos odiar esses personagens, tem-se uma condução apática e perdida os Negros. Emma D’Arcy tinha se sobressaído como a versão mais velha de Rhaenyra na primeira temporada, mas nem elu é capaz de justificar a letargia que acomete a personagem, tornando até difícil torcer por ela (mesmo que a série queira nos convencer a todo instante da justiça de sua causa, especialmente com as conexões forçadas e nada orgânicas com GOT). A apatia que a cerca se irradia para outros personagens criminosamente subutilizados, como Corlys Velaryon (Steve Toussaint) e sua esposa Rhaenys Targaryen (Eve Best, que ao menos recebe um merecido destaque no quarto episódio).

Não ajuda que as sequências envolvem os Negros são restritas a serem filmadas em dois ou três lugares: seja na sala do Conselho Negro em Pedra do Dragão ou no atracadouro da ilha dos Velaryon. Aliás, se a série é a mais cara da HBO, há diversos momentos em que isso sequer parece ser notado aqui: posso contar nos dedos as locações que vemos nos episódios, como se o orçamento tivesse sido cortado pela metade. Obviamente que, numa obra que depende tanto do CGI para seus dragões e alguns dos seus cenários, não há como se esbanjar a todo instante (e algumas das melhores cenas e planos da temporada envolvem justamente as monstruosas criaturas, em especial o quarto e sétimo episódios), mas não deixo de me perguntar se essa foi outra limitação decorrente da greve.


Mas até que ponto pode se por tudo na conta da greve? Vale lembrar, por exemplo, que Miguel Sapochnik, um dos showrunners da primeira temporada, não se envolveu nessa, deixando a tarefa apenas nas mãos de Ryan Condal. Enfim, pode se fazer várias conjecturas para entender o que exatamente não deu certo aqui (e também o que deu, já que há indiscutivelmente alguns méritos), mas a sensação de se estar “empurrando com a barriga” a narrativa me fez temer que a HBO estivesse forçando a série a durar o máximo possível. Mas com o anúncio de que ela se encerrará na quarta temporada, essa sensação não se justifica, o que só torna ainda mais injustificável a enrolação e redundância dos episódios e a irregularidade da temporada, que conseguiu ostentar tanto o melhor episódio da série (o quarto) quanto o pior (o último).


Perdida entre ser uma série-espetáculo e um drama político, A Casa do Dragão encerra seu segundo ano com um sabor agridoce. Mesmo com seus problemas, a primeira temporada ainda era um retorno promissor a esse universo, aplacando grande parte dos temores daqueles que nunca perdoaram o que foi feito ao final de GOT. Aqui, porém, esses temores ressurgem, evidenciando uma prequel que parece resignada e conformada em viver à sombra da sua série-mãe, tanto nos acertos quanto nos erros. Apesar da montagem final que indica a guerra enfim chegando, é difícil se livrar dessa sensação de déjà vu. Resta saber se escolheremos ser enganados mais uma vez ou se a promessa enfim se cumprirá.


Nota: 2,5/5

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