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Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | A Diplomata (2ª temporada)

Mesmo com uma menor leva de episódios, drama político da Netflix se mantém instigante e afiado

Foto: Divulgação/ Netflix


Lançada em 2023, A Diplomata foi uma grata surpresa em meio ao extenso — e cada vez mais medíocre — catálogo da Netflix. Acompanhando as desventuras de Katherine “Kate” Wyler (a sempre maravilhosa Keri Russell) conforme ela assumia subitamente o posto de embaixadora dos EUA no Reino Unido, a série conseguiu aliar um drama político instigante e tenso com um humor afiado e cínico, enquanto nos permitia aprofundar na conturbada e novelesca relação de Kate com seu marido Hal Wyler (Rufus Sewell). Havia nela um forte DNA de outras séries do gênero feitas nas décadas passadas, como Homeland e The West Wing; não à toa sua showrunner Debora Cahn foi roteirista em ambas, mostrando o quão bem aprendeu com suas experiências anteriores.


Após um cliffhanger explosivo (literalmente), a série retorna para uma segunda temporada mais enxuta — 6 episódios em vez de 8, por conta da greve dos roteiristas do ano passado. A menor duração da temporada é sentida em alguns momentos, na maneira como o roteiro faz com que algumas ações convenientemente se amarrem sem o devido desenvolvimento de tela. Por outro lado, porém, toda a gordura (ou quase toda) é cortada, dando a este segundo ano um ritmo dinâmico e frenético, conforme são investigadas as consequências da bomba explodida no final da temporada passada e do atentado ao navio britânico que serviu de mote para a série.


E, embora respostas sejam dadas (com direito a alguns belos plot twists de cair o queixo), A Diplomata brilha mais justamente quando enfoca a natureza conturbada das relações entre os personagens, em especial o casamento de Kate e Hal. Perfeitamente imperfeito, eu diria que já é um dos melhores casamentos retratados na TV nas últimas décadas, nos permitindo navegar entre o amor e o ódio genuínos que permeiam ambos os personagens: ambos são incapazes de se livrar um do outro, não apenas pelas conveniências políticas, mas sobretudo porque se completam e se entendem bem demais. Basta ver a sequência final do segundo episódio, onde (mais) uma discussão acalorada é seguida de uma cena tão terna e comovente que naqueles cinco minutos sabemos de tudo que se precisa saber sobre a essência do relacionamento dos dois.

Foto: Divulgação/ Netflix


A complexidade das relações perpassa pelo pessoal e profissional, ocasionalmente se misturando. Nem sempre funciona — o foco demasiado na relação de Stuart (Ato Essandoh) e Eidra (Ali Ahn), por exemplo, acaba tomando mais espaço do que precisava e caindo em algumas repetições, além de sequer receber alguma conclusão apropriada. Mas funciona em outros aspectos: seja nos sentimentos não-ditos entre Kate e Austin Dennison (David Gyasi), na introdução da vice-presidente Grace Penn (a sempre maravilhosa Allison Janney, roubando a cena com apenas dois episódios), nas interações dos personagens com o desprezível e divertido primeiro-ministro Nicol Throwbridge (Rory Kinnear) ou no luto por um personagem. São essas dinâmicas que resumem muito do que torna A Diplomata uma experiência televisiva tão deliciosa.


O fato da série nunca se comprometer integralmente em se levar a sério é também um enorme diferencial, com tiradas cômicas que casam perfeitamente com a densidade das tramas e das intrigas políticas que constrói. Além disso, como disse antes, há um DNA novelesco intrínseco na série que nunca é perdido de vista, rendendo sequências tão absurdas (como os minutos finais da temporada) que nos fazem rir de incredulidade pela completa falta de vergonha com a qual a série abraça esse absurdo.


Apesar do menor número de episódios, A Diplomata mantém o ótimo nível da primeira temporada e se consolida como uma das melhores ofertas atuais da Netflix. A falta de divulgação desse segundo ano me fez temer pelo futuro da série, mas a notícia da renovação para uma terceira temporada antes mesmo desta estrear mostra a confiança do streaming na obra, confiança que se mostra justificada ao assistirmos esses seis episódios e vermos que, entre muitas DRs, sentimentos reprimidos, intrigas palacianas, explosões e mortes, não há nada como um drama político habilmente equilibrado entre o sério e o absurdo para nos entreter.


Nota: 4/5

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