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Foto do escritorGabriella Ferreira

Crítica | A Jaula

Filme brasileiro mistura suspense e sátira ao criticar o Brasil dos 'cidadãos de bem'

Divulgação: Star+


Lançado no Star+ na última quarta-feira, 2, o filme brasileiro “A Jaula” chegou de forma inédita no streaming após ter sido lançado nos cinemas em fevereiro deste ano. O thriller psicológico tem em sua premissa principal um assalto a um veículo estacionado em uma rua da cidade de São Paulo. Djalma da Rocha (Chay Suede) entra com facilidade no SUV que planeja roubar, mas, ao tentar sair do carro, descobre que está preso em uma armadilha, incomunicável, sem água ou comida.


A ‘jaula’ foi preparada e planejada por um famoso médico da capital (Alexandre Nero), que se revoltou após ser assaltado diversas vezes. Quem passa em volta não percebe o embate que se arma entre o sádico vingador e o ladrão prisioneiro dentro do carro, a situação se desenrola para o caminho mais catastrófico possível. Cabe ao telespectador apontar quem é o vilão e quem é a vítima da história e entender as nuances da história que vão além das quatro portas.


Desde o seu início, o longa parece seguir dois gêneros distintos que se enlaçam em determinados pontos na narrativa. Com uma tensão sendo construída junto com o desespero e a claustrofobia do personagem de Chay, também sentimos uma veia satírica e extremamente crítica, algumas vezes óbvia, para uma determinada camada social existente em nosso país. “A Jaula” é a versão brasileira de um longa argentino de mesmo nome, mas, é possível perceber perfeitamente o motivo da sua adaptação brasileira, especialmente em 2022.

Divulgação: Star+


Durante 1h23, o roteiro dúbio que segue uma tentativa de neutralidade para que o telespectador seja o juiz, se perde em prolongar uma trama que funcionaria muito mais em um curta-metragem. Mesmo assim, a atenção do telespectador não é perdida graças às excelentes atuações dos dois principais. Alexandre Nero é, sem discussões, um dos melhores atores da teledramaturgia brasileira e é incrível ver aqui como ele transita muito bem entre os gêneros e, mesmo sem aparecer tanto, é possível captar um enorme sentimento por meio da sua voz durante os dois primeiros atos.


Já Chay se estabelece como uma ótima promessa dentre os jovens atores e demonstra que tem capacidade de ir além do simplório-ruim imposto pelos roteiros de Glória Perez nas novelas globais, provando ser um excelente ator em filmes com cargas mais dramáticas. Tecnicamente, “A Jaula” é muito bom e utiliza bem o espaço limitado quase que em sua totalidade em cena e aproveita o uso dessa claustrofobia nos jogos de câmera, causando uma sensação desesperadora também em quem assiste.


Dirigido por João Wainer, a crítica social do longa se enfraquece com algumas decisões do roteiro (especialmente no clímax e no seu ato final), porém, ainda é muito cabível em um Brasil extremamente punitivista e violento. A raiva internalizada no personagem de Nero é um retrato típico dos “cidadãos de bem” que clamam por serem ouvidos por meio do sensacionalismo midiático e da sociedade capitalista. Esse senso de justiceiro de pessoas que se dizem acima de tudo e donas da boa moral e dos bons costumes ao bradar que “bandido bom, é bandido morto”, parecem esquecer do ponto que os igualam àqueles que eles mais repudiam. Afinal, não é sobre inocentar um criminoso, é sobre notar que o sadismo, a tortura e a violência muitas vezes impostas por eles são muito mais condenáveis.


Nota: 3,5/5

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