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  • Foto do escritorAna Bia Andrade

Crítica | A Menina Silenciosa (An Cailín Ciúin)

As mil palavras que existem no silêncio de uma criança

Foto: Divulgação


Durante o período da infância, nos deparamos com uma busca avassaladora por explicações acerca de tudo que existe. Infelizmente, diante de tantas coisas que nós, enquanto crianças, conseguimos entender, nem sempre uma delas é o discernimento de que a culpa não é sempre nossa. Em A Menina Silenciosa, filme indicado ao Oscar 2023 na categoria de Melhor Filme Internacional, percebemos como a exteriorização do afeto é fundamental na construção de quem somos, mesmo que esse tal afeto não seja verbalizado.


Roteirizado e dirigido por Colm Bairéad, o longa de origem irlandesa conta a história de Cáit (Catherine Clinch), uma garotinha de nove anos, cuja família está prestes a ganhar mais um integrante. É exposto, já na primeira meia hora de filme, que Cáit possui uma personalidade quieta e introspectiva, potencialmente resultante da postura fria de seus pais e da ausência de empatia por parte de suas irmãs mais velhas.


Em uma Irlanda rural, com o desafio de sustentar uma família numerosa, os pais da pequena protagonista decidem mandá-la para a casa de parentes distantes no período das férias escolares, com o intuito de aliviar as despesas domésticas até a chegada do novo bebê. Na trama, Cáit traça uma jornada de zelo em sua estadia na fazenda do casal Eibhlín (Carrie Crowley) e Seán (Andrew Bennett), experimentando, talvez pela primeira vez, o afago do amor.

Foto: Divulgação


Eibhlín é, desde o princípio, uma figura sólida e transparentemente materna. Seu carinho é expresso através de atos concretos de cuidado e afeição. Por outro lado, Seán é um homem mais recluso e fechado, até o momento em que as graças da convivência conseguem quebrar suas defesas. A narrativa desses personagens consegue presentear a audiência com uma visão das diversas formas em que processamos certos sentimentos, especialmente a culpa, a dor e o luto.


Certamente, A Menina Silenciosa possui fotografia e roteiro extremamente claros em seus objetivos. Enquanto seu primeiro ato é frio, cinza e monossilábico, o segundo e terceiro ganham cor e brilho, mas nunca sem perder a sutileza – a característica mais marcante do filme. É dessa maneira que a bagagem de informações de Cáit sobre carinho familiar, antes tão escassa, é alimentada diariamente com doces trivialidades.


É válido pontuar que A Menina Silenciosa é uma adaptação do livro, também irlandês, Foster, publicado pela autora Claire Keegan. No momento em que o espectador termina de assistir o filme e descobre que se trata de uma obra com base literária, uma vontade quase incontrolável de devorar o livro é iniciada. Isso acontece em razão do cuidado milimétrico aos detalhes que circundam essa pequena garota. Cáit parece querer entender tudo sobre o mundo, esperando que o mundo possa compreendê-la também. Em cena, a belíssima atuação de Catherine Clinch realmente transforma gestos, expressões e jeitos em completos monólogos.


Desde o começo, já sabemos que o tempo de Cáit na casa de Eihblín e Seán é passageiro. Entretanto, o filme nos prende tanto no enredo daqueles três personagens, que esquecemos da finitude do verão. Ao seu fim, o filme incorpora uma finalização corajosa e emocionante, honrando a sua merecida indicação ao Oscar. Em síntese, o longa é um verdadeiro exemplo de como uma história simples e silenciosa pode transmitir uma imensidão de significados.


Nota: 4/5

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