Fleishman está com problemas... mas quem não está?
Foto: Divulgação
Quando o assunto é divórcio, seja na TV ou no cinema, alguém sempre acaba tendo uma certa culpa. Felizmente, Fleishman Is In trouble, ou A Nova Vida de Toby – que acaba de chegar ao Star Plus, não cai na armadilha maniqueísta de criar heróis ou vilões. A minissérie tem início com Toby Fleishman (Jesse Eisenberg), que se divorciou recentemente de Rachel (Claire Danes). Toby é um médico em Nova York e está se aventurando pelos aplicativos de relacionamento que descobriu recentemente. Após o divórcio, ele aproveitou para se reconectar com seus antigos amigos da faculdade, Libby (Lizzy Caplan) e Seth (Adam Brody), com quem tem se encontrado para desabafar regularmente. Quando Rachel deixa os dois filhos do casal no apartamento de Toby um dia antes do planejado, ele, obviamente, não gosta da mudança de planos, mas consegue lidar com a situação. O que ele não consegue lidar, é o fato de Rachel não voltar no dia combinado e simplesmente desaparecer. O primeiro episódio pode até dar a impressão de que é uma comédia romântica com um mistério envolvido, mas não se enganem, ela vai muito além disso.
Focando nesses quatro personagens principais, a narrativa não linear vai costurando os problemas que levaram Toby e Rachel a se separaram através de flashbacks. E se de início parece que ele é uma vítima na história, aos poucos os episódios vão nos mostrando que não há só uma versão dos fatos. A medida que o roteiro vai se aprofundando e se tornando cada vez mais complexo, o espaço é aberto para que se possa discutir diversos assuntos inerentes à vida adulta, como relacionamentos, sexo, amizade, dinheiro, privilégios e, no geral, seu espaço no mundo, como é inevitável se sentir perdido em algum ponto da vida e sentir saudade de quem já fomos um dia. Por isso é impossível não se identificar com os personagens, que são extremamente bem escritos, cheios de imperfeições, como qualquer um de nós, e brilhantemente interpretados por um elenco irretocável.
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Pelo nome, já associamos que Toby seja o protagonista absoluto, mas ele é apenas a porta de entrada para que outras histórias possam ser contadas e ele não é o único Fleishman aqui, já que sua esposa Rachel ainda usa o nome, é válido ressaltar. Eisenberg está ótimo no papel desse homem que, conhecemos com uma certa inocência, mas com o tempo vamos percebendo sua arrogância e egoísmo. Claire Danes, a provável vencedora do Emmy de Melhor Atriz em Minissérie, faz coisas que poucas atrizes são capazes de fazer. Cheia de expressões marcantes, ela grita, chora, sem jamais cair no exagero. O fantástico sétimo episódio, focado em sua Rachel, não me deixa mentir. Rachel passou por traumas absurdos, conhecer mais dela, saber que ela vai muito além de ser a “esposa ambiciosa e insensível” que aparenta no início, um estereótipo comum em tramas do gênero, é essencial para a minissérie. Ela tem erros e tem acertos, como qualquer pessoa.
Lizzy Caplan é a narradora dos episódios e faz isso com maestria, sempre no tom certo da cena, e além disso ela tem uma ótima personagem com sua Libby, uma mulher que está passando por uma crise no casamento e sente falta da sua jovialidade. Gosto como ela e Toby são amigos e nada além. É através da visão dela que vamos entendendo também vários pontos do que deu errado entre Rachel e Toby, no modo como ele trata a amiga e o quão egóico ele pode ser. Seth – que pouco tem a ver com o Seth de ´The O.C.’ – é o solteirão do grupo. Ainda que não tenha tanto destaque, seu personagem é o melhor de Adam Brody em um bom tempo, e representa mais um lado de um dos temas que a série trata: quando é a hora certa para fazer alguma coisa? Há uma hora certa?
Baseada no romance de Taffy Brodesser-Akner, a minissérie também é adaptada por ela e nos questiona de várias maneiras possíveis com respostas que não virão facilmente. Fico feliz que assim seja, já que o modo como ela trata seus personagens era imprescindível para nossa percepção deles. Ter empatia e entender certas atitudes que pareciam imperdoáveis à primeira vista. Com oito episódios que eu assisti rapidamente, o ritmo me agradou bastante. Tratando de vários assuntos delicados sem se perder, escancarando verdades difíceis de serem ditas, é impossível não enxergar um certo pessimismo, até porque a vida não é sempre fácil seja você quem for. Mas, particularmente, eu adoro como a minissérie termina com um tom de esperança, que as coisas podem ser resolvidas. Algumas, pelo menos.
Nota: 5/5
Serie excelente, emotiva e profunda