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  • Foto do escritorDavid Shelter

Crítica | A Praia Do Fim Do Mundo (Mostra Cinema LABCeará - Lei Aldir Blanc)

A melancolia da arte como trunfo para mensagem de preservação

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Localizada na cidade de Caucaia, no Ceará, a praia do Icaraí vem sofrendo uma destruição gradativa ao longo do tempo, com um abandono aparente por parte das autoridades responsáveis. A praia antes valorizada, acabou perdendo prestígio, se deteriorando em decorrência das ações humanas que culminaram em consequências naturais. 'A Praia do Fim Do Mundo', filme dirigido pelo cearense Petrus Cariry, se utiliza dessa trama e localidade para criar uma história original em Ciarema, uma cidade fictícia. Abordando o descaso do poder público com uma visão bastante artística, ele leva às telas uma mensagem de socorro inserida no meio de muita melancolia.


Através das personagens Helena (Marcélia Cartaxo) e Alice (Fátima Macedo), que interpretam mãe e filha, acompanhamos todo o drama do abandono e do desabrigo das pessoas da comunidade que se veem obrigadas a irem embora por não haver uma solução viável para a permanência. A relação das duas é o que move toda a trama, com um toque de mistério envolvido, elas têm diálogos embativos em momentos específicos do longa, com um texto rápido e repleto de subjetividades. Apesar disso, ele se mantém enigmático do início ao fim, dando espaço para grandes cenas visuais e emblemáticas para a história, fazendo uso da ausência de falas por diversos momentos.

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Ele se monta com uma trilha que tem um misto de instrumentais com sons naturais, tornando-o uma experiência imersiva muito agradável e reflexiva. Ajudando na imersão, há uma fotografia trabalhada em preto e branco e com foco nos cenários, expandido a visão do espectador para ir mais além do que o que está centrado em tela. Existe nele algo magnético, que concentra em seus minutos uma fórmula que faz com que o espectador fique antenado e atiça a curiosidade sobre o que está por vir.


A direção de Petrus segue espetacular, e é muito satisfatório a forma como ele conduz cenas e atores, nos dando um conjunto de obra que encanta pelo trabalho bem executado. Marcélia Cartaxo, que é uma atriz sensacional, entrega aqui a sua personagem mais introversa com uma atuação acertada em todos os níveis que Helena pede. Seu maior poder está nos momentos de silêncio, em que ela conduz a personagem de tal maneira que torna impossível não apreciá-la e admirá-la ainda mais.

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Perpassando por todos os dramas das personagens, o longa traz nas entrelinhas um sentimento de tristeza e de perda. Ele se utiliza de toque místico para retratar a urgência sobre a crise ambiental ali envolvida. Essa misticidade dá ao filme uma nova camada que consegue se mesclar diretamente com as histórias das personagens e com o enredo como um todo. Ele não entrega o mistério só por mistério, deixa subentendido várias nuances que vão se afunilando para um final consternador e ponderativo.


'A Praia do Fim do Mundo', além de seu propósito como filme e arte, é também mais um dos grandes acertos do cinema nacional e cearense. Tem uma veia artística esplêndida e deixa claro que estamos prontos para navegar por águas cada vez mais imersivas, criativas e fantasiosas. É um filme que vem pronto para ser discutido e apreciado, é desafiador e necessário, e pode ser considerado um presente de valor imensurável de Petrus Cariry para o público.


Nota: 4,5/5

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