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Foto do escritorGabriella Ferreira

Crítica | A Small Light (minissérie)

Uma das melhores produções do ano nos relembra as atrocidades do nazismo e o poder das palavras de uma jovem que mudou o mundo

Foto: Divulgação


É um fato que a história de Anne Frank é conhecida mundialmente. Do meu irmão à minha avó, todos sabem o que aconteceu com a jovem alemã durante a Segunda Guerra Mundial. Mais do que apenas conhecer, Anne Frank virou um símbolo por ter escrito um dos documentos históricos mais significativos no período nazista. Seu legado persiste até hoje com seu livro sendo reimpresso quase todos anos com versões além do material original, filmes que adaptam o livro, longas que imaginam sua amiga imaginária, documentários, museus, peças de teatro, estátuas em praças públicas. Anne Frank é a representação das vítimas do nazismo que mais está presente na cultura popular até os dias de hoje.


Mas não é só Anne Frank que tem sua história reproduzida. Filmes, séries e documentários sobre guerras, especialmente com a temática do holocausto, viraram um nicho específico de gênero em Hollywood. Filmes como O Pianista, Jojo Rabbit, A Lista de Schindler e Bastardos Inglórios fazem parte de um hall dedicado a colocar o holofote, seja reescrevendo uma história real ou reimaginando uma situação, um tempo tão nefasto da nossa sociedade. No universo das séries, um dos maiores destaques é Band of Brothers, minissérie da HBO.


O que a maioria dessas obras possuem em comum, sem dúvidas, é o uso do shock value com cenas extremamente violentas que mostram ao telespectador os horrores da guerra em seu pior aspecto: com muito sangue, tiros, bombas explodindo e cenas com muitas pessoas mortas. É seguindo um rumo diferente dessas boas obras, que a minissérie A Small Light se destaca como um dos principais lançamentos do ano. Produzida pelo National Geographic e distribuída no Brasil pelo Disney+ e pelo Star, sua história foca em Miep Gies, mulher que era secretária de Otto Frank e que que desempenhou um papel importante quando escondeu Anne Frank e sua família durante a ocupação nazista em Amsterdã.


Quando lemos o diário de Anne, temos alguns vislumbres de Miep pela ótica de uma jovem presa dentro de um anexo secreto, porém, durante os oito episódios da série entendemos quem é Miep e o quanto ela, seu marido e seus colegas se sacrificaram para manter diversos judeus a salvo em plena guerra. Aqui, não vemos a perspectiva de alguém que está presa em um esconderijo se escondendo e sendo perseguida por nazistas. Acompanhamos pessoas que não compactuavam com as atrocidades de Hitler e que arriscaram suas vidas porque era a coisa certa a fazer.

Foto: Divulgação


Mesclando um pouco do passado de Miep com a evolução dos efeitos da guerra em Amsterdã, temos uma produção impecável no sentido completo da palavra. Além da ambientação fenomenal, A Small Light traz uma fidelidade histórica impressionante nas mãos de um elenco extremamente competente. Liev Schreiber é uma das melhores interpretações de Otto Frank, assim como a carismática Billie Boullet como Anne Frank, que mesmo com um tempo mais reduzido de tela comparado a outras produções, entrega uma Anne com muita personalidade e muito parecida com a que conhecemos das páginas do seu diário. Destaque também para Bel Powley como Miep, que segura o protagonismo em uma série repleta de figuras já conhecidas pelo público.


Assistir sobre o holocausto não é fácil e mesmo sem cenas explícitas de violência, A Small Light te sufoca ao conseguir passar a angústia dos personagens em tela em todos os episódios. Seja na busca por comida, por um encontro com um nazista, por uma tentativa de salvar um bebê indefeso ou de esconder alguém ilegalmente. Você sente tudo aquilo, crescendo cada vez mais o inevitável nó na garganta quando nos aproximamos dos seus episódios finais.


Todos sabemos que o final dessa história não foi feliz. Mas A Small Light destaca o poder das palavras e de como a morte de Anne não foi em vão. Relembrar o nazismo e suas atrocidades serve para que a nossa mente nunca se esqueça do que aconteceu entre os anos de 1939 à 1945. Reverberar a história de Anne e dos judeus perseguidos por Hitler é a nossa obrigação. Para que isso não se repita, para que não volte a acontecer nunca mais.


“Mas até uma simples secretária, dona de casa ou uma adolescente podem, nas suas pequenas formas, acender uma luz em um quarto tomado por escuridão” - Miep Gilles.


Nota: 5/5

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