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  • Foto do escritorDavid Shelter

Crítica | A Superfantástica História do Balão

(... ou a super traumática história do balão)

Foto: Divulgação


“Se tem bigodes de foca, nariz de tamanduá (parece meio estranho, hein?)”. É Tão Lindo (It’s no Easy), canção de abertura do disco de 84 d’A Turma do Balão Mágico é a primeira memória que me vem à mente quando o grupo é citado. Aí você pode se perguntar, “poxa, mas como assim não lembra primeiro de Superfantástico’”? Calma, que tem um motivo. Quando nasci, A Turma do Balão Mágico original já havia se desfeito fazia um tempo, e o programa já nem existia mais, contudo, histórias marcantes não se apagam e acabam transpassando gerações, e esse disco de 1984 foi o primeiro com o qual tive contato, e por ser o único em casa que me interessava, eu o ouvia incessantemente todos os dias, até que com o passar do tempo e por alguma razão acabou sumindo, mas a lembrança da música continuou e permanece. Minha história com o Balão, apesar de não ser da época de sua ascensão, acabou se moldando um pouco à minha infância, e a partir dali fui conhecendo os outros sucessos e tudo mais. No entanto, só depois de adolescente é que comecei a conhecer de fato os integrantes por programas de televisão, quando reviviam suas histórias incansavelmente, trazendo polêmicas, etc.


Claro que quando somos crianças não vemos nenhum tipo de problema em um programa ou grupo musical cujos integrantes também são crianças, então eu apenas curtia as músicas e cantava alegremente mais uma canção. Assim como eles, hoje sou um adulto (menos traumatizado, com certeza), mas que compreende como funcionava todo aquele processo, e quando você cresce nos anos 90/2000 em que tudo que fazia sucesso era advindo da televisão da forma como queriam mostrar e de maneira exaustiva, aquelas figuras acabam lhe acompanhando no decorrer da vida mesmo que o interesse sobre seus trabalhos se perca. Todavia, quando surge uma série documental prometendo os bastidores caóticos de um dos maiores grupos musicais da história da música no Brasil, é óbvio que vai chamar a sua atenção, e A Superfantástica História do Balão chegou fazendo exatamente isso.


Com foco em seus integrantes iniciais, os mais conhecidos e ligados à imagem do Balão, o Star+ desenvolveu essa série de apenas três episódios em que sua divulgação se baseou em “menina, nem te conto, vou mostrar todas as polêmicas do balão mágico e se eu fosse vocês não perderia”, e eu como telespectador, e ex-fã mirim do grupo mirim não deixaria de conferir, mas, é bom deixar claro que: o documentário decepciona. O primeiro questionamento que gera é: como algo tão histórico e conhecido, e com tanta sujeira pelos bastidores rendeu somente três míseros capítulos com menos de uma hora cada? Renderia mais? Claro. Porém, pareceu haver alguma pressa, por alguma razão, em lançar o produto, mesmo não conseguindo obter as respostas para várias perguntas que eles mesmos jogaram ali.


A sensação de nostalgia é o que predomina, e é a melhor parte do documentário. Rever e reviver aqueles momentos em que a TV era o que ditava a moda, é de certo modo reconfortante, mesmo que eu não tenha vivido tudo aquilo (deixo aqui claro que sou completamente fascinado pela televisão brasileira dos anos 80 e 90, e tudo que fizerem sobre isso estarei assistindo). A produção reúne Simony, Tob e Mike, o trio que começou toda a história, e Jairzinho, que chegou ao grupo dois anos depois, e que na época já era uma figura conhecida, sendo filho de Jair Rodrigues. Juntos eles reavivam as memórias sobre aquele período que passaram e vão contando cada um a sua versão de como foi experienciar todo aquele caos sendo ainda crianças. Além deles, há também a participação com comentários de integrantes de outras formações e de alguns cantores que fizeram parte da história do Balão, como Fábio Jr, que participou da música Amigos do Peito (também presente no disco de 84), e algumas outras participações de famosos que parece não ter muito sentido para o quadro geral do que tentam propor.

Foto: A Turma do Balão Mágico/Discos CBS I.C.L


Durante os três episódios a história do Balão é explorada quase que como um resumo, com comentários de figuras importantes na TV e música da época entre uma informação e outra, relatos de produtores e empresários que vão casando aos poucos com o que os ex-membros vão contando, e alguns outros comentários que não corroboram com nada, mas que traz aquela sensação de um quadro feito por um programa de auditório, e que acaba até sendo legal, mesmo que nada informativo. É contada também sobre o período em que, com tanto sucesso, eles fizeram também um programa de televisão, e trazem um personagem conhecidíssimo (e amedrontador em alguns casos), que foi o Fofão, que eu até hoje não faço ideia do que ele deveria ser, mas sempre adorei acompanhar as lendas urbanas envoltas dele, tinha a faca ou não? Segundo a Simony, não. A história do programa é contada de maneira muito rápida, sem muito aprofundamento, e em alguns momentos tudo se mistura.


Os comentários dos quatro integrantes principais são o que geram mais curiosidade, aliás, foram eles que participaram ativamente daquilo tudo, e quanto a isso fica muito perceptível como tudo aquilo afetou cada um de forma diferente, e de certo modo atrapalhou o crescimento e o futuro de alguns deles. A crueldade com que eles eram tratados apenas como produtos de mercado fica bastante clara com os comentários de empresários e produtores da época, e uma das falas que mais pesou foi “Eu só lembro dos meus sucessos e não dos meus fracassos”, em referência a quando Tob tentou se lançar musicalmente após a saída do grupo, aliás, ele parece ter sido o que mais sofreu com toda a história, sendo praticamente expulso do balão por na época já estar entrando na adolescência. O telespectador consegue sentir a dor em suas falas, e a tristeza que ele transparece no olhar ao relembrar tudo aquilo. É interessante ver, pela perspectiva deles, como tudo aquilo afetava suas vidas na época, as cargas exaustivas de trabalho (o ECA ainda não existia, rs), como a vida escolar sofreu e até mesmo bullying que sofriam por algum motivo atrelado ao Balão. Deixam claro que a vida adulta e as escolhas profissionais se moldaram em torno de tudo que viveram durante os anos sendo A Turma do Balão Mágico.


Apesar da boa sensação e de reviver boas lembranças, a série documental não faz jus ao seu propósito prometido, apenas requenta velhas histórias conhecidas sem trazer as respostas que seriam necessárias para encerrar vários assuntos. Parece apenas um quadro tentando homenagear aquelas 4 pessoas com uma dose fortíssima de nostalgia e sentimentalismo. Tem uma boa produção, mas fica evidente que se trata de um produto cru e que precisava ser moldado mais corretamente antes de ser lançado, o sentimento de estar vendo algo incompleto é o que impera os pensamentos quando chega aos créditos finais.


Nota: 3/5

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