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  • Foto do escritorCaio Augusto

Crítica | Alien: Romulus

Filme relaciona mito romano com universo Alien para abordar irmandade, luta de classes e inteligência artificial

Foto: Divulgação


Segundo a mitologia da Roma Antiga, os irmãos Rômulo e Remo são responsáveis pela fundação da cidade italiana, a lenda diz que os irmãos após terem sido abandonados acabaram sobrevivendo graças a uma loba que os alimentou como se fossem seus próprios filhotes. Embora surja um grande conflito entre os irmãos onde Remo é morto, enquanto Rômulo, por sua vez, sobrevive. Em Alien: Romulus a história é ambientada dentro da Estação Espacial Renaissance, uma nave que era usada pelos humanos para realizar experimentos de bioengenharia com o patógeno dos xenomorfos, com o propósito de criar um composto químico com grande poder de regeneração que resultaria numa espécie de “humano perfeito”. 


O tema da mitologia romana envolve a fundação de algo forte e duradouro, mesmo que isso resulte de circunstâncias adversas e desafiadoras, ressoando na luta pela sobrevivência e da criação de novas civilizações, o que acaba sendo um tema recorrente na franquia Alien. A disputa entre os irmãos Rômulo e Remo é um tema central no mito que os leva à tragédia, já em Alien: Romulus o tema é ilustrado pelos personagens Rain (Cailee Spaeny) e Andy (David Jonsson), de forma que Andy é um ser "sintético", uma espécie de androide que é encontrado em um lixão pelo pai de Rain, o qual ela considera como irmão. Após a morte dos seus pais, Andy segue em sua programação uma diretriz central: “fazer o que é melhor para Rain”, que acaba conflitando com o motivo pelo qual foi programado: servir aos interesses do corporativismo.


A irmandade é o tema central que acompanha toda a narrativa de Alien: Romulus, e é posto de forma muito sutil através de planos detalhes, seja em um toque de mão no ombro ou de uma mão na barriga. Mas para além dos simbolismos, o diretor Fede Alvarez (Evil Dead, 2013) é muito  bem resolvido dentro das pretensões de um blockbuster, onde ele usa o seu estilo gráfico e violento para ilustrar um grupo de jovens e um androide que invadem uma estação espacial, com o objetivo de roubar leitos de criogenia que podem levá-los a um sistema solar bem longe do planeta que eles trabalhavam como operários dentro de um regime abusivo. Tudo funciona dentro de um estrutura gameficada conforme os personagens vão explorando a estação especial, como os locais de “respawn” dos xenomorfos, os diferentes tipos de armas que eles vão encontrando no caminho, os trajes que se adaptam a cada “fase”, um androide que dá instruções como uma espécie de NPC, e o modo que eles descobrem pouco a pouco como lidar com as diferentes ameaças. Se no jogo Alien: Isolation há uma mecânica em que aprendemos a ter um comportamento mais furtivo a fim de evitar ir ao encontro da ameaça na posição de um espectador ativo, em Alien: Romulus o terror é encarado de forma frontal e bastante visceral ainda que somos inseridos na posição de um espectador passivo.

Foto: Divulgação


De certa forma, o filme me desagrada um pouco quando faz seus acenos à franquia Alien um pouco batidos, com toda a estrutura formal que já é conhecida da franquia, além de se aproveitar dos fanservices, como a própria forma que caracterizam a protagonista como uma espécie de simulador da Ellen Ripley. Além dos coadjuvantes que são tão genéricos que você não se importa muito com eles quando se inicia a contagem de corpos. Eu particularmente aprecio quando um novo filme de franquia tenta trazer uma ideia original, mesmo que fuja um pouco das convenções que tornou a franquia um sucesso, como por exemplo Halloween III (1982). Mas ao mesmo tempo eu sinto que Alien: Romulus encontrou o equilíbrio entre estar inserido no universo alien mas ainda assim proporcionando novas ideias, o que acabou me lembrando um pouco Rogue One (2016), que está inserido dentro da franquia Star Wars, nesse sentido. Essas novas ideias ganham forma a partir do momento que Fede Alvarez utiliza de um terror mais frontal e visceral dos xenomorfos, inserindo diversas cenas de body horror, no qual o monstro é constantemente visível e é inserido no plano de forma que encaramos a ameaça olho a olho, e há uma autoconsciência de como a franquia se resolve pelas estruturas de um filme slasher de forma orgânica. 


É curioso observar que o filme acaba não só fazendo um comentário sobre o uso de inteligência artificial como acaba utilizando o próprio advento tecnológico ao utilizar da IA generativa para trazer inserir o personagem androide Rook no filme, personagem já conhecido da franquia interpretado pelo ator Ian Holm, já falecido. Ao mesmo tempo que esse mesmo personagem está programado com o único propósito de servir à companhia, custe o que custar. E isso é demonstrado até pelo personagem Andy, ao ter um chip do outro androide inserido em seu mecanismo, o que acaba conflitando com seu propósito inicial que o fazia mais humano. A corporação afirma querer "repovoar as colônias", mas na realidade está interessada apenas no benefício próprio. Em Metrópolis (1927), o androide é utilizado para provocar uma revolta e controlar os trabalhadores, em Alien: Romulus, os androides são programados para acima de tudo servir os interesses da corporação. São os interesses da corporação passando por cima da dignidade de uma classe operária que só luta por ter dignidade e por ter o seu lugar ao sol.

Foto: Divulgação


O que faz o filme de Alvarez se diferenciar dos demais filmes da franquia é a forma que o filme lida com sua textura, tanto do cenário como na forma que o bodyhorror é posto em cena, como um expoente de um terror Lovecraftiano que acaba levando pra uma dimensão sexual pela forma que os aliens se parasitam aos corpos humanos, como por exemplo o Alien que se agarra ao rosto de portando uma espécie de falo, além do casulo do xenomorfo que nos remete a um vagina, trazendo um aspecto orgânico dentro dessa relação de humano x alien. 


Além de tudo, Fede Alvarez propõe uma experiência de terror muito sólida por não se limitar ao terror apenas pela existência dos monstros, e sim de como a ameaça acaba evoluindo a cada estágio e os personagens precisam constantemente aprender novas formas de contornar a situação, mantendo o espectador em uma atmosfera de um terror bastante pé no chão, onde é possível se sentir imerso nas estruturas dentro de uma ópera espacial que brinca com a gravidade em diversos momentos bastante inventivos. O uso do vermelho já visto anteriormente em Evil Dead (2013), potencializa o tom de ameaça da trama. Por fim, Fede Alvarez preserva a franquia, não reinventa a roda mas ainda assim lida bem com os elementos de terror que está inserido desde o primeiro filme da franquia, embora não escape dos problemas comuns da franquia quando tem que lidar com momentos mais protocolares, o filme consegue criar uma identidade própria e encontra o equilíbrio entre a homenagem e o próprio estilo do autor.


Nota: 4/5

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