Um ingresso de cinema que serve como uma passagem a Mumbai
Foto: Divulgação
Não é surpresa para quem acompanhou o Festival de Cannes de perto (ou de longe, pelas redes sociais) que a primeira metade do festival foi morna, sem grandes reações positivas, além de Bird e The Substance . Já nos seus últimos dias, o festival trouxe duas grandes surpresas: The Seed of the Sacred Fig e o filme indiano All We Imagine as Light , que tive a oportunidade de ver antecipadamente.
O longa dirigido por Payal Kapadia segue a história de Prabha e Anu, duas enfermeiras que se encontram em relações amorosas complicadas e embarcam em uma viagem em direção a uma cidade praiana onde “uma floresta mística se torna um lugar onde seus sonhos podem se manifestar.” Sem sombra de dúvidas, o ponto alto do filme é sua fotografia, que consegue capturar a cidade de Mumbai, principalmente no período noturno, de uma maneira que faz o espectador sentir que vai sair da sala do cinema diretamente para a cidade. Suas cenas também capturam a essência frenética que já conhecemos de outros filmes indianos, de uma maneira sutil e única.
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Payal Kapadia, que também já dirigiu documentários, cria uma obra de arte com duas mulheres no epicentro da história, nos cativando de um jeito que qualquer espectador que assistir a este filme vai se sentir transportado ao hospital onde elas trabalham. A história segue as personagens de uma maneira fluída, sem tentar encher o espectador de informações, garantindo que ninguém fique entediado. Seguimos suas rotinas de uma maneira que gradualmente nos conectamos às personagens, cada vez mais nos aproximando do longa.
A diretora usa sua familiaridade com documentários a seu favor. Uma das cenas mais impactantes do filme é sua abertura, que conta com múltiplas imagens da cidade, contextualizando o espectador sem uma história aparente, até que as imagens começam a desacelerar, nos guiando à história principal do longa.
Apesar de não ter visto os outros filmes selecionados para a seleção 'In Competition' de Cannes, não me surpreende que este filme tenha ganhado o Grand Prix no festival. O filme consegue conquistar o que o júri normalmente está à procura: algo que não vimos antes. Principalmente em um ano com a maioria dos filmes eurocêntricos, o filme indiano conseguiu conquistar o júri presidido por Greta Gerwig com suas fortes personagens e uma fotografia impactante.
Nota: 4/5
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