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Foto do escritorÁvila Oliveira

Crítica | Apple Cider Vinegar

O ciclo da vida contado como uma fábula contemporânea sobre rochas

Foto: Divulgação


O que têm em comum uma pedra nos rins, um vulcão em Cabo Verde e um geólogo inglês? Este é o enigma colocado pela cineasta Sofie Benoot neste brilhante meandro entre o minúsculo e o infinito. Mesclando um documentário sobre a natureza e uma fábula filosófica, este é um quebra-cabeça que convida a examinar a ligação entre o corpo humano e o planeta.


A diretora Sofie Benoot mistura roteiro ficcional com não-ficcional e apresenta com uma roupagem elegante um filme interessante sobre a relação do homem com o seu entorno. Conduzido por uma personagem que se apresenta como uma narradora aposentada de programas de natureza dominicais (à la BBC), a cineasta veste este alter ego que mistura suas ideias e sentimentos com os da narradora-personagem.


Dublado pela suave e inconfundível voz da lendária atriz Siân Phillips, a persona mostra um vouyerismo naturalista – herdado da profissão – de admirar paisagens através de câmeras de observação esperando aparições e flagra do reino animal como um hobby. E entre contemplações e questionamentos, o fio condutor da narrativa é uma pedra dos rins que extraída da pessoa por trás do documentário (a diretora? a personagem?) e as questões que esse mineral trouxe sobre pedras, sobre como estes itens pouco apreciados por nós seres humanos medianos apresenta beleza e, muito além disso, importância para a biosfera.


O inusitado ponto de partida, no entanto, só ganha força pela subjetividade da voz e sua vontade de entender a casualidade e a espontaneidade de uma natureza viva que independe das vontades humanas para se expressar. É interessante ver como o argumento cria paralelos entre a estabilidade e a permeabilidade das rochas com sensações e emoções humanas.


Mas apesar da abordagem bastante simpática e muito bem conduzida não se engane: é um documentário antológico de natureza no seu interior, mesmo sendo cheio de poesia no exterior. A produção não apresenta as belas e grandiosas imagens dos famosos programas de canais à cabo, prefere a introspecção dos universos particulares que apesar das dimensões e distâncias são mais comuns do que parecem.


Nota: 3,5/5

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