Afonso Poyart entrega resultado coeso mesmo com inconsistências no roteiro
Foto: Netflix/ Divulgação
O ano é 2035 e conhecemos a história de Maria (Jessica Córes) que treinou durante anos para ser a próxima grande atleta de atletismo e seguir os passos de sua mãe, um dos maiores nomes do esporte. No entanto, tudo isso mudou com o surgimento de membros biônicos que são infinitamente superiores que carne e osso. Assim, quando sua irmã Gabi (Gabz) ganha um membro biônico e se torna uma atleta superestrela, Maria passa a viver à sua sombra. Em paralelo a isso, o misterioso e muitas vezes ameaçador Heitor (Bruno Gagliasso) participa de um roubo de diamantes, servindo como motorista de fuga, que ajudará a financiar suas aspirações de remodelar o mundo.
Desde seu longa de estreia, 2 Coelhos (2012), o diretor Afonso Poyart deixa bem claro duas coisas em seus filmes: ele tem referências e ele é publicitário. Cineastas com experiência em videoclipes e/ou mercado publicitário são os melhores em criar momentos e cenas-chave para longas-metragens, Poyart, tendo trabalhado em ambas as áreas, é um artista de mão cheia. Neill Blomkamp, Robert Rodriguez e Zack Snyder são alguns dos nomes cuja produção parece ter sido inspirada direta ou indiretamente, mas o produto tem bastante identidade e procura não se escorar em quaisquer produções para além do referencial. Não faltam em Biônicos grandes e bonitas cenas de ação, com um visual irretocável e bem desenvolvidas em suas individualidades, o problema está no que liga essas cenas.
O roteiro é tão autoconfiante que passa por cima de alguns detalhes de causas sem se preocupar se esses furos irão comprometer o resultado, e entrega que as excessivas explicações iniciais da narração servem para provar um domínio da narrativa, mas na verdade disfarçam várias instabilidades nas motivações e no “como” os personagens fazem o que fazem em determinadas situações.
Foto: Netflix/ Divulgação
De início me preocupei com a casualidade dos futurismos quanto estética e quanto a funcionalidade das ferramentas utilizadas. Parece que, por exemplo, para algumas coisas é justificável ter um dispositivo novo e bem desenvolvido que resolva aquela demanda e para outras usa-se a antiga tecnologia de dez anos atrás (atualmente no caso), porém no decorrer dos desdobramentos me peguei vendo que os neons e as dispersões de luz estavam na prática sutilmente aplicados (quanto à plástica); e que por se tratar de um futuro não tão distante, muitas coisas continuarão sim como estão hoje, afinal, quando olha-se para como os filmes dos ano 80 imaginavam os anos 2000 é de fazer pena tamanho o otimismo.
O elenco contribui muito para o bom desempenho do filme. A sintonia entre Jessica Córes, Gabz e Christian Malheiros funciona bem na frente das câmeras e os ajudam a conseguirem excelentes desempenhos entre si e individualmente. Destaque também para Bruno Gagliasso que, por mais que tenha um personagem que merecesse mais tempo de tela e desenvolvimento, se sai com bastante competência nas várias facetas exigidas.
Biônicos acaba por ser um ótimo exercício brasileiro para o gênero. Afonso Poyart prova mais uma vez sua habilidade no compasso da execução de uma grande obra, fica faltando, no entanto, um roteiro tão esperto e refinado quanto sua direção para que se alcance um melhor funcionamento do trabalho.
Nota: 3/5
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