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Foto do escritorÁvila Oliveira

Crítica | Centro Ilusão

Atualizado: 12 de out.

Música é combustível das relações humanas em encantador road movie bairrista

Foto: Divulgação/ Marrevolto Filmes


Dois músicos, de gerações diferentes, se conhecem em uma audição para um concorrido laboratório de música da cidade de Fortaleza. Tuca (Fernando Catatau) tem 50 anos e se sente frustrado com sua carreira. Kaio (Bruno Kunk), 18 anos, é aspirante a artista que sonha em fazer sucesso com suas próprias composições. Para além de teorias e teses sobre a representação do real na arte, no cinema, e dos incontáveis neorealismos, alguém pode afirmar que estamos diante da consolidação de uma nova fase do realismo contemporâneo no cinema brasileiro pós-favela movies. Os mais recentes longas da produtora cearense Marrevolto Filmes e da mineira Filmes de Plástico levantam este estandarte que é seguido por outros. São filmes precisos e enxutos, e até mesmo mais curtos do que a média comercial – mas não menos profundos e contemplativos –, bem musicados e que apreciam um bucolismo urbano, sempre centrados nas relações humanas e periféricas, e no naturalismo do homem e de seu entorno.


Em Centro Ilusão, o cineasta Pedro Diogenes que há pouco nos presenteou com o encantador A Filha do Palhaço (2022), traz mais uma vez a cidade de Fortaleza, mais especificamente o Centro, como personagem que dialoga diretamente com os protagonistas interpretados atenciosamente por Fernando Catatau e Bruno Kunk. Como num filme de estrada que passeia dentro das infinitudes de um espaço limitado, Tuca e Kaio se conhecem e se descobrem no decorrer de um dia e mostram suas vulnerabilidade, pessoais e profissionais, que o fizeram chegar àquele ponto comum de suas vidas. No curto espaço de tempo Tuca acaba por se tornar a figura paterna informal de Kaio, e Kaio vira o antagonista de tudo que Tuca tinha como verdade e propósito em seu atual momento. Em diálogos fluidos e ilustrados, o elo entre eles toma forma a medida em que seguem pela jornada que já tem um final demarcado, mas que não possui percurso definido, seja concreto ou metafísico.

Foto: Divulgação/ Marrevolto Filmes


E caminhando junto a isso tem a música que une e impulsiona todos os outros personagens que somam ao sensível argumento. Centro Ilusão é um musical sem números caros e bem coreografados, sem firulas visuais e plásticas, mas com tanta intensidade nas vozes de quem interpreta as canções que mesmo quaisquer desafinações e deslize no tom contribuem para a construção do “real” já citado. Pedro Diogenes sempre usou com primor o artifício das músicas como catalisador da narrativa, algo que Michelline Helena e Amanda Pontes trouxeram também recentemente em Quando Eu Me Encontrar (2023).


Inquestionavelmente é o longa mais maduro de Diogenes em se tratando de padrões convencionais de refinamento técnico. A montagem com cortes exatos e as transições que gracejam com elegantes sobreposições dão ainda mais personalidade ao trabalho. É elegante ao mesmo tempo que acessível, possui enunciado quase que referencial tamanha clareza do texto ao mesmo tempo que valoriza sempre a função emotiva, e permanece como uma doce melodia elaborada cuidadosamente para persistir em nossa mente. É de um lirismo sonoro (com um desenho de som impecável), visual e sentimental que transborda as delimitações da tela.


Nota: 4/5



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