Coração e humor de um dos quadrinhos mais amados do Brasil são eficazmente transportados para a telona
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Não é difícil imaginar que você, como eu, cresceu tendo algum tipo de contato com os gibis da Turma da Mônica. Responsáveis pela formação de milhões de leitores Brasil afora, as criações de Maurício de Sousa enfim ganharam sua primeira adaptação em live-action em 2019, com Turma da Mônica – Laços, que foi seguida por sua sequência Lições e uma série na Globoplay. Agora, o universo se expande com Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa, dirigido por Fernando Fraiha e co-roteirizado por ele, Elena Altheman e Raul Chequer.
O filme segue Chico Bento (Isaac Amendoim) em sua conhecida jornada com a goiabeira de Nhô Lau (Luís Lobianco), de quem está sempre roubando goiabas. Porém, quando o Dotô Agripino (Augusto Madeira) aparece com planos de derrubar a goiabeira para construir uma estrada asfaltada pela Vila Abobrinha, cabe a Chico reunir seus amigos — Zé Lelé (Pedro Dantas), Rosinha (Anna Julia Dias), Tábata (Lorena de Oliveira), Hiro (Davi Okabe) e Zé da Roça (Guilherme Tavares) — para impedir que uma tragédia ocorra.
Apesar do ótimo legado deixado por Laços e Lições, restava a dúvida se a qualidade dos filmes se manteria na primeira incursão cinematográfica fora do Bairro do Limoeiro, especialmente considerando que todo o universo de Chico Bento é um dos mais populares da franquia, desde sua criação nos anos 1960. Porém, o esmero e cuidado para a adaptação eram perceptíveis desde o anúncio da escalação de Isaac Amendoim, influenciador digital mirim, para o papel (num vídeo fofíssimo dele com Maurício de Sousa). Esse esmero e cuidado são vistos aqui, com uma constante e deliciosa sensação de sermos remontados à infância, como se folheássemos os gibis do Chico e sua turminha.
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O grande mérito de A Goiabeira Maraviósa é justamente em capturar uma certa inocência, regada a muito coração e humor, que tanto marcam os gibis, sem perder de vista a linguagem cinematográfica apropriada. Embora alguns recursos estéticos e narrativos (como a câmera trêmula, a narração em off) possam soar cansativos depois de um tempo — além da cota de participações especiais que chamam um tanto a atenção para si mesmas, como as de Chequer e Taís Araújo —, o longa mantém um ritmo ágil que não deve em nada às histórias em quadrinhos que lemos, especialmente no que se refere ao elenco mirim que é a força e o coração da obra.
Isso é ainda mais evidente na própria atuação de Isaac Amendoim, que esbanja tamanho carisma e talento que é como vermos o próprio Chico Bento em carne e osso. O humor inocente que ele deposita no personagem (como na sequência em que descreve sua “amizade” com Nhô Lau), a energia caótica típica de suas ações e até mesmo uma tremenda dose de sensibilidade — nos seus sentimentos por Rosinha e na sua relação quase simbiótica com a goiabeira — são marcas de um talento em ascensão. Sem exagero nenhum, Isaac é a alma do filme e entrega aqui provavelmente uma das minhas atuações mirins favoritas no cinema recente.
Movido por uma compreensão sincera a respeito do que faz os quadrinhos de Chico Bento serem tão amados por milhões de brasileiros, Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa renega o cinismo para apostar em uma aventura honesta, feita com o coração e que guarda os melhores elementos dos gibis e deste universo caipira idealizado, eficazmente transpondo-os para as telonas. É mais um acerto do universo cinematográfico da Turma da Mônica, fazendo jus a tudo que tornou esses quadrinhos patrimônios culturais do nosso país e da nossa cultura.
Nota: 4/5
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