Crítica | Demolidor: Renascido (1ª temporada)
- Filipe Chaves
- há 3 dias
- 3 min de leitura
Uma série sem alma, que ocasionalmente entretém.

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Quando Demolidor estreou sua 1ª temporada na Netflix em 2015, a promessa era de uma produção mais sombria do que os filmes da Marvel que víamos no cinema, e ela cumpriu esse papel muito bem até 2018, quando foi encerrada, trabalhando diversas nuances do personagem, com belas sequências de ação, vilões à altura e coadjuvantes carismáticos. Agora, voltando para “casa” – Disney é dona da Marvel –, a pegada é diferente. Tem um foco maior na advocacia, com Matt (Charlie Cox) lutando por justiça através do seu escritório, pelo lado correto da lei, mas quando Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio) – antigo Rei do Crime – reaparece almejando uma carreira política em Nova York, seus caminhos voltam a se cruzar e suas identidades passadas voltam a emergir. O problema é que a série parece não saber o que fazer com essas tais identidades e desperdiça o potencial.
De início, dá a impressão que ela sabe que rumo vai tomar. As drásticas decisões que toma já no primeiro episódio poderiam ser lidas como ousadas, mas no decorrer da temporada fica claro que a intenção era somente descartar personagens da série anterior, já queridos e estabelecidos, substituindo por novos, mas que o roteiro falha em desenvolver, utilizando os rostos conhecidos de outrora como artifício meramente nostálgico. Karen (Deborah Ann Woll), Foggy (Elden Henson) e Justiceiro (Jon Bernthal) servem basicamente para isso e a tentativa de usá-los como motivação para atitudes do protagonista é uma boa ideia, mas mal executada, bem como grande parte de Demolidor: Renascido.
Dos antigos, Fisk tem um papel maior, assim como sua esposa Vanessa (Ayelet Zurer). Há um foco no casamento complicado dos dois e eles chegam até a fazer terapia de casal – outra boa ideia jogada de qualquer jeito – com Heather (Maragarita Levieva), novo interesse amoroso de Matt. Apesar da boa química com Cox, a personagem é de uma nota só e nem o talento de Levieva salva de cair no marasmo. O elenco, no geral, é competente, mas não consegue fazer milagre com o roteiro que recebe. Com exceção de D’Onofrio, que me irritou muito mais do que instigou com sua performance, causando por vezes até um riso involuntário.

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Estou ciente dos problemas nos bastidores do processo criativo e isso explica muitos problemas aqui. Quando a série foi anunciada, o plano era que tivesse 18 episódios, que depois foram reduzidos a 9 quando uma nova equipe assumiu. É visível como algumas ideias permaneceram e foram cortadas pelo meio, parecendo um retalho do que deveria ter sido. Arcos que começam bem, mas foram mal trabalhados e entregam um resultado apático, sem vida. As cenas de ação que eram famosas por serem extremamente bem ensaiadas e filmadas na série da Netflix, aqui são cheias de cortes que dificultam o envolvimento do telespectador, o que é uma pena. Há episódios bons pelo meio, como o 5º, onde Matt está no meio de um assalto a banco. Ele foi chamado de “filler”, mas eu nem acredito nesta nomenclatura porque há um desenvolvimento eficaz do protagonista e mesmo se fosse “filler”, isso nunca foi sinônimo de ruim, divertindo mais do que os episódios focados na trama principal, em que vilões vão e voltam sem causar muito impacto.
O final ensaia uma melhora, mas seria muito mais proveitoso se a temporada tivesse sido bem construída, pois sem uma boa base, não importa quão bonita é a cobertura: ela ainda é frágil. No entanto, consegue deixar o terreno preparado e levanta o potencial para uma 2ª temporada mais forte. Espero não me enganar de novo e ganhar algo tão esquecível quanto esta 1ª.
Nota: 2,5/5
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