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Foto do escritorÁvila Oliveira

Crítica | EO

Fábula contemporânea experimenta, investiga e coloca à prova a natureza humana.


Foto: Divulgação

O acanhado burro Eo vive num circo polonês onde é treinado para atuar como parte de um número, até que inesperadamente ele se vê separado de Kasandra (Sandra Drzymalska), sua carinhosa e gentil treinadora. Com a doce lembrança da rara bondade humana gravada em sua mente, o espírito humilde do animal vagueia pelo vasto campo em uma grande missão cheia de perigos para tentar se reunir com sua única amiga. E enquanto o inocente Eo observa o mundo natural com seus grandes olhos, ele cruza com vários humanos que responderão de formas variadas à presença do animal.


Mesmo tendo o leste europeu como plano de fundo o filme consegue ter a universalidade aplicável que toda fábula tem. Inclusive categorizar esse longa como fábula já implica o uso de muitas ferramentas narrativas do gênero literário como artifícios cinematográficos, e o brilhante Jerzy Skolimowski deu uma aula de tradução intersemiótica na direção. Mas ele não se limita a moldar o filme nessas estruturas, ele usa como ferramenta de métodos, porém dentro do seu próprio estilo de condução. E, assim como toda construção metafórica por trás das fábulas, esse filme se trata do ser humano. Por mais que o protagonista seja o simpático animal, seus marejados e profundos olhos são o espelho do comportamento humano nas mais diversas e adversas situações.


O dinâmico jogo de câmera aplicado à atenta fotografia de Michal Dymek testa e brinca com diversos pontos de vista, iluminações e arranjos para dar uma silenciosa voz para o burro em relação ao mundo que o cerca e vice-versa.


Foto: Divulgação

O roteiro, escrito por Skolimowski em parceira com sua esposa Ewa Piaskowska, é inesperado e isso torna a jornada do herói-animal cada vez mais surpreendente e cativante. Os claros vieses ambientalista e naturalista do texto não soam forçados ou hipócritas, e permeiam cada contato entre homens e o animal. Mas é interessante ver também que o determinismo vilanesco do homem se equilibra com uma esperançosa positividade de que o mesmo ser que causa todos os males presentes no planeta Terra pode ser aquele que vai sanar grande parte dos problemas.


O argumento também não fornece qualquer tipo de fala, dublagem ou narração sobre os pensamentos do burro, mas a direção de Skolimowski é tão assertiva e expressiva que conseguimos extrair palavra a palavra todo o texto previsto pelo roteiro na antropomorfização do protagonista. A maneira curiosa, experimental e ainda assim linear e bem amarrada com que o diretor – com seus mais de 80 anos – filma é atraente, empolgante e gratificante.


Nota: 5/5


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