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Foto do escritorGabriella Ferreira

Crítica | Garotos de Bem (La Scuola Cattolica)

Um caso de 1975 que poderia muito bem se passar em 2022.

Divulgação


Em um entardecer de 29 de setembro 1975, Rosaria Lopez e Donatella Colasanti foram agredidas, assediadas e violentadas sexualmente por mais de um dia por três meninos pertencentes a uma escola católica italiana que fazia parte da alta burguesia da sociedade. Angelo, Gianni e Andrea e a violência perpetuada pelos mesmos é retratada no filme italiano Garotos de Bem, lançado na Netflix na última quarta-feira, 15, e lançado no Festival Internacional de Cinema de Veneza no ano passado.


Baseado na história real do caso criminal conhecido popularmente como o “Massacre de Circeo”, o filme usa como base o livro semibiográfico de um dos colegas de classe do trio. Edoardo Albinati traz sua própria experiência na escola, reflexões sobre sua adolescência e críticas sobre as forças que produziram a Itália contemporânea contadas em uma adaptação que mistura uma trama de amadurecimento e percepção com um dos crimes reais que mais abalou o país na década passada.


Dirigido por Stefano Mordini emprega um tanto de sua experiência em documentários nas descrição dos fatos, mas, segue aqui uma linha narrativa meio paradoxal, que se mistura em meio ao tempo de uma contagem regressiva para o momento mais tenso e cruel do longa-metragem. Essa confusão temporal e a vasta gama de personagens masculinos causa um problema de narrativa, que fica meio nebulosa, e pode deixar o longa maçante em sua parte inicial.


“Garotos de Bem” consegue demonstrar perfeitamente como o abandono parental, o acúmulo financeiro, a falta de limites e a masculinidade tóxica podem se combinar e gerar três cidadãos que se consideram “de bem” perante a sociedade, mas, que na verdade, escondem dentro de si uma violência grotesca misturada com um ódio e menosprezo por aqueles que consideram inferior, especialmente as mulheres.

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O filme também flerta com a discussão política mostrando a predileção dos jovens por regimes autoritários como o nazifascismo, e, com atos cruéis repetidamente cometidos contra minorias, os rapazes faziam o que bem entendiam sob a luz do dia sem que houvesse reação da sociedade e da escola. Dentro desse regime católico do local de estudo, também é mostrado as faces de uma hipocrisia regrada pelo uso de figuras religiosas como esconderijo para um comportamento doentio, fato que vemos na nossa sociedade até os dias de hoje.


É preciso alertar que “Garotos de Bem” é extremamente explícito em suas cenas de violência e nudez, fato que me incomoda em determinados momentos, que são usados para chocar o telespectador ao demonstrar o crime cometido pelos três jovens. Mas, o que realmente causa choque e quase parece um soco no estômago é ler as letras que sobem após a cena final, relembrando os desdobramentos do caso na Itália e o fato de foi preciso um crime dessa magnitude para que o estupro deixasse de ser considerado um crime contra a moral pública e passasse a ser um crime contra a pessoa, aumentando a sua pena.


Lembrar que dos três criminosos, um foi liberado em 2005 e matou mais duas mulheres, o outro fugiu e morreu sem ter sido preso e que o outro segue livre até hoje desde 2009, é perceber também que a violência contra a mulher se perpetua e pode ser vista até os dias de hoje. A história de “Garotos de Bem” retrata um caso de 1975 que poderia muito bem se passar em 2022. E isso é mais revoltante do que qualquer outra coisa.


Nota: 3,5/5

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