A (falsa) segurança de um filme mediano em uma época de baixas expectativas
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Não é segredo para ninguém que o MCU não está em sua melhor fase. Na verdade, a crise instaurada pelo fim da Saga do Infinito parece ter transformado o estúdio em uma verdadeira esteira de produção a la “Tempos Modernos”, do Chaplin (1936). Como resultado desse cenário, que engloba tanto filmes quanto as séries do Disney+, a perda de identidade – com exceção de algumas poucas produções – se mostra fugaz e sem rumo definido em um futuro próximo. Em meio a isso, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, terceiro filme da franquia protagonizada por Paul Rudd, chega como mais um expoente dessa leva de produtos altamente formulaicos da Marvel, com o suposto diferencial de apresentar o próximo grande vilão do universo cinematográfico; mas será que é o suficiente?
Ambientado após os eventos de Ultimato, o longa acompanha a vida de Scott Lang (Paul Rudd) como um escritor de sucesso e pai de Cassie Lang (Kathryn Newton), agora uma adolescente ativista que se utiliza de tecnologia Pym para ajudar os mais necessitados. Na trama, os eventos são desencadeados por um experimento que dá errado e envia os protagonistas direto para o Reino Quântico, local em que Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer) ficou presa por 30 anos. Chegando lá, os personagens se deparam com a ameaça de Kang (Jonathan Majors), conquistador e viajante do multiverso que impera sobre o local.
Em termos narrativos, o que temos é uma história simples e sem grandes surpresas. O filme segue quase religiosamente a já conhecida (e extremamente datada) “Fórmula Marvel”, que aqui aparece levemente modificada apenas para dar lugar à dinâmica entre Scott e sua filha. A química de Newton e Rudd é satisfatória e até entrega bons momentos; porém, ao mesmo tempo que se dá créditos a esse aspecto do longa, temos no restante das relações desenvolvidas entre os personagens uma ausência de substância que torna quase impossível criar qualquer correspondência com qualquer um deles.
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Quanto a isso, o ponto mais gritante que revela essa falta de substância recai sobre Hope Van Dyne (Evangeline Lily), a qual, muito embora seja uma das protagonistas nominais, tem sua participação reduzida à de mera coadjuvante. Em seu encalço, Michael Douglas, apesar de ter uma presença maior na ação dessa terceira sequência, atua como mero artifício de roteiro em forma de um “Deus ex Machina” ambulante (aquela solução milagrosa que aparece quando tudo parece perdido).
Em contrapartida, Michelle Pfeiffer e Jonathan Majors aparecem como os grandes trunfos do filme. Aqui, a veterana desempenha sua natural desenvoltura e imponência – ainda que longe de desempenhar toda sua capacidade artística –, roubando a cena com uma Janet misteriosa e extremamente familiar com o ambiente que a cerca, investindo na experiência que lhe recai enquanto desbravadora do Reino Quântico. Já Majors, estreando seu primeiro longa do MCU, explode no papel do conquistador multiversal, com uma performance que em muito supera sua rápida e apagada aparição no final da primeira temporada da série Loki.
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Quando falamos de termos técnicos, o longa apresenta uma considerável melhora em relação aos seus predecessores diretos do estúdio. A finalização da computação gráfica se mostra melhorada em muitos aspectos, ainda que o longa tenha sido filmado quase que inteiramente na tela verde. Os visuais são ousados, coloridos e confortavelmente vibrantes, além de contar com bons designs de personagens e, mesmo no caso do caricato M.O.D.O.K., a dinâmica visual é coerente com a história e favorece a experiência no desenrolar das sequências.
Mediano em quase todos os seus pontos, Quantumania entrega um produto regular, que pode ser até considerado satisfatório se comparado às más experiências que vínhamos tendo no decorrer desses 4 anos. É o típico filme morno e facilmente esquecível no emaranhado das quase 30 produções que vieram antes dele. Porém, para aqueles que ainda depositam confiança nas próximas empreitadas do estúdio (confesso que já a perdi há algum tempo), devo dizer que o longa representa uma (pequena) fagulha de esperança de que algo maior está por vir, ainda que toda a sua trajetória tenha sido imersa em uma perigosa mediocridade.
Nota: 2,5/5
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