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  • Foto do escritorCaio Augusto

Crítica | Imaculada

A tormenta da figura feminina através da iconografia religiosa

Foto: Divulgação


Imaculada transparece suas referências de forma bem clara ao mesmo tempo que se mostra tímido ao explorar as convenções de gênero, como é possível observar na própria premissa à la Suspiria (1977), onde temos uma devota jovem americana convidada para viver em um antigo mosteiro no interior da Itália. Em primeiro momento, a câmera Michael Mohan nos convida para explorar o desconhecido, de um lugar enclausurado repleto de freiras que parecem observar cada passo da protagonista. 


Com isso, temos elementos clássicos do terror, como figuras misteriosas em janelas, portas rangendo, pessoas gritando, capturado por uma câmera voyeur que tenta explorar o desconhecido para aumentar a sensação de pavor que toma conta de Cecilia à medida que ela gradualmente percebe a situação em que se encontra. Para que logo depois o filme se apoie em outra referência, ainda que essa seja muito mais previsível, onde emula um horror à la Bebê de Rosemary (1968).


Mas dentro dessa busca por referências acho que o filme consegue se encontrar um pouco quando tenta explorar o Nunsploitation, gênero que atingiu seu auge no final dos anos 70 e início dos anos 80, com filmes como The Devils (1971) e The Nun and the Devil (1973) explorando temas de repressão sexual ou religiosa, frequentemente fazendo críticas à Igreja através da exploração da blasfêmia e de freiras se comportando mal. De modo que, quando descobrimos as reais intenções dos personagens masculinos, o filme ganha uma perspectiva feminista a fim de questionar a autonomia corporal das mulheres dentro da sociedade. Isso fica evidenciado pelo modo que lidam com a gravidez inesperada da jovem que é descrita como um milagre anunciando a segunda vinda de Cristo. Por isso fica tão claro essa referência a Bebê de Rosemary que melhor exemplifica o ‘horror da gravidez’, momento em que Imaculada promove críticas interessantes sobre o pensamento religioso a respeito do propósito feminino.

Foto: Divulgação


Imaculada também promove um debate sobre a questão dos direitos reprodutivos das mulheres, especialmente sobre as legislação dos Estados Unidos, pelo fato de Cecília ser a única freira americana da instituição religiosa que negligencia totalmente o tratamento da gravidez da personagem que não tem acesso a cuidados médicos adequados que até tenta fingir um aborto espontâneo por ser a única forma de fuga daquela situação.


É até interessante pensar no fato de termos a Sydney Sweeney envolvida nesse filme, tanto como protagonista quanto como produtora, por ser uma atriz em ascensão que em tão pouco tempo de carreira já foi bastante objetificada enfrentando personagens e convenções do patriarcado com um grande banho de sangue no clímax do filme, que por sinal é onde o filme melhor explora o seu potencial ao catalisar toda a raiva da protagonista através das diversas agressões que acontecem em momentos anteriores, mas que talvez não seja tão bem explorado já que na primeira e segunda metade ele acaba se aprisionando dentro das próprias referências e falta coragem em trabalhar melhor a narrativa através da imagem, pois é tão simplista na forma que tudo fica esclarecido rapidamente, perdendo uma grande chance de envolver o espectador no terreno das sensações para além das suas ideias que já são bastante claras.


Nota: 3/5

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