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  • Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | John Wick 4: Baba Yaga

O pináculo de uma franquia que mudou os rumos do cinema de ação hollywoodiano

Foto: Divulgação


A cada filme de John Wick, me pergunto se o diretor Chad Stahelski e o roteirista Derek Kolstad tinham em mente desde o primeiro longa que transformariam uma enganosamente simples história de um homem vingando seu cachorro em uma franquia definida por uma das mitologias mais sólidas e impressionantes já vistas em Hollywood. Ampliando o escopo do seu universo sem nunca perder de vista seu principal atrativo — suas cenas de ação —, a dupla não apenas reavivou a carreira de Keanu Reeves no papel-título, como ofereceu um frescor ao gênero de ação que era mais do que necessário após anos de mediocridade.


Mesmo assim, havia um temor natural de que essa expansão a cada filme pudesse desgastar a história, como se o sucesso crescente da franquia subisse à cabeça de seus criadores. Felizmente, esses medos se revelam infundados após se assistir John Wick 4: Baba Yaga, já que o filme não apenas retém tudo que os antecessores tinham de melhor, como ainda consegue introduzir novos elementos e personagens que solidificam esse universo. Stahelski e os roteiristas Shay Hatten e Michael Finch (que substituem Kolstad) conseguem não apenas criar uma obra que merece o adjetivo de “épica” sem soar exagero, mas que também é surpreendentemente humana e íntima.


Muito desse mérito vem do entendimento de que, uma vez que a figura de John Wick já foi tão bem estabelecida nos filmes anteriores, não faz mal termos mais dos outros personagens, sejam os velhos ou os novos. Uma das (muitas) perguntas que John Wick 4 faz é: como a vingança iniciada por John lá no primeiro filme e transformada em uma guerra aberta contra a Alta Cúpula impacta os seus aliados e inimigos? Não apenas a morte de um dos personagens mais importantes da franquia já ilustra um dos princípios mais bem-estabelecidos dessa mitologia — regras e consequências —, mas a introdução dos novos personagens amplia o nosso olhar, principalmente pela maneira orgânica como são inseridos na trama mesmo a essa altura.


As atuações de Donnie Yen como Caine — um assassino cego com uma trajetória que reflete a de John — e Hiroyuki Sanada como Koji — o gerente do Hotel Continental de Osaka e velho amigo do protagonista — dão peso o suficiente para que aceitemos toda a trajetória que eles possuem com John Wick. Além disso, as inserções do enigmático Mr. Nobody (Shamier Anderson), a concierge Akira (Rina Sawayama numa ótima estreia nos cinemas) e do abjeto vilão Marquis de Gramont (Bill Skarsgard) dão estofo à história e a enriquecem — e eu gostaria de ver pelo menos dois ou três spin-offs baseados em alguns deles.

Foto: Divulgação


Mas não se engane: esse filme ainda é de John Wick. Se o personagem é apelidado de “Bicho-Papão” (“Baba Yaga”) não à toa, o trabalho de Keanu Reeves nunca nos permite esquecer da humanidade que ele possui, mesmo quando é o mais mortífero possível. Sim, o vemos matar impiedosamente dezenas e dezenas de inimigos das mais variadas maneiras (e é admirável a criatividade da equipe de produção em sempre inovar nas mortes), mas o diferencial está em quando o vemos se cansar, ser atingido e ferido, em sua vulnerabilidade e humanidade. Se o filme também pergunta o custo desta guerra de um homem só a outras pessoas, também pergunta se John faz o que faz apenas para sair dessa vida de violência ou se é capaz de mudar esta natureza, e o final agridoce oferece uma resposta.


O intimismo dessas perguntas e desses momentos é balanceado pelas proezas técnicas das cenas de ação. É curioso que o longa vá na contramão dos anteriores para restringir essas cenas a três grandes sequências que norteiam cada ato, seja em Osaka, Berlim ou Paris. Embora isso signifique que em alguns momentos ele se arraste um pouco (a duração de 2h49 nem sempre se justifica), isso é plenamente justificado pela grandiosidade das sequências. Com elas, Stahelski comprova que é definitivamente o maior diretor de ação de Hollywood hoje em dia, elaborando setpieces variados e mantendo sua assinatura — sequências com o mínimo de corte que não escondem a violência, a brutalidade e a elegância, e amparadas pela fotografia neo-noir de Dan Lausten. É visível como ele busca se superar sem no entanto soar arrogante e se perder no processo; em particular, o clímax estendido em Paris pode muito bem ser uma das melhores, senão a melhor, sequência de ação da história do gênero em Hollywood, com direito até mesmo uma belíssima referência aos filmes de faroeste, em particular O Bom, o Mau e o Feio.


Mesmo pecando um pouco em seu ritmo, John Wick 4: Baba Yaga é um encerramento glorioso para a jornada de John Wick nos cinemas e faz jus ao que foi feito na franquia até aqui, elevando-a (ainda mais) a um novo patamar. Mesmo servindo como uma espécie de “final” a essa história, certamente não é o fim deste universo nos cinemas — não apenas pelos filmes e séries derivados já anunciados, mas por aqueles com potencial para surgirem a partir do mostrado aqui. Resta torcer para que a excelência e supremacia do universo de John Wick se mantenha, já que após este quarto capítulo, fica a certeza de que Keanu Reeves, Chad Stahelski e tantos outros criaram com êxito uma das maiores e melhores franquias da história do cinema de ação em Hollywood e que mudou o gênero para sempre.


Nota: 4,5/5

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