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Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | Lockwood & Co. (1ª temporada)

Uma versão adolescente de Caça-Fantasmas repleta do humor e charme britânico

Divulgação: Netflix


Baseada na saga literária de mesmo nome de Jonathan Stroud, Lockwood & Co. poderia ser mais uma série teen genérica dentre as várias lançadas pela Netflix, mas nas mãos de Joe Cornish (diretor de Attack the Block e The Boy Who Would Be King) ela é revestida de um charme irresistível, indo além da sua premissa básica - adolescentes fazendo papel de caça-fantasmas numa Londres alternativa - para entregar uma joia escondida no streaming.


No universo da série, 50 anos atrás um evento conhecido como “O Problema” libertou fantasmas pelo mundo, trazendo caos e paralisando o desenvolvimento tecnológico da sociedade. Misteriosamente, apenas crianças e adolescentes podem ver esses fantasmas, de modo que eles são treinados pelos adultos para combatê-los, ingressando em agências de detetives. Após um caso no qual estava envolvida terminar em tragédia, a jovem psíquica Lucy Carlyle (Ruby Stokes) foge para Londres, onde tenta ingressar nas melhores agências, mas acaba entrando na Lockwood & Co., composta apenas por Anthony Lockwood (Cameron Chapman) e George Karim (Al Hadji-Heshmati).


Centrando-se nesse trio principal que não foge muito à regra do que já vimos em outras obras infanto-juvenis de fantasia, Lockwood & Co. vive e morre na química do seu elenco, e embora seja um pouco difícil comprar a hostilidade inicial entre George e Lucy, não demora para que o espectador se veja investido na crescente amizade entre os três (e também nas sugestões de romance entre Lucy e Anthony). Embora uma galeria promissora de coadjuvantes seja introduzida no decorrer dos episódios - como o rígido inspetor Barnes (Ivanno Jeremiah), a carismática contrabandista Flo Bones (Hayley Konadu), a desajustada pesquisadora Pamela Joplin (Louise Bradley) e o misterioso vilão Golden Blade (Luke Treadaway) -, é o trio de protagonistas quem realmente nos conquista, mostrando que Joe Cornish continua a ser um exímio revelador de talentos, tal qual foi com John Boyega em Attack the Block.

Divulgação: Netflix


Porém, onde a série mais acerta é na sua construção de mundo e da sua mitologia. Longe de ter o orçamento vultoso de outras obras da Netflix como Stranger Things, o que se tem aqui é um uso de criatividade e das próprias limitações orçamentárias para nos imergir em um mundo que, embora fantasioso, não deixa de ser crível. A sensação retrô que permeia a obra - como se a sociedade e sua tecnologia tivesse estagnado nos anos 80 - potencializa seu charme, alimentado pelo design de produção, figurino e a trilha sonora, que traz nomes como Bauhaus e The Cure.


Mas, a despeito desses méritos, a temporada é prejudicada pela escolha em adaptar os dois primeiros livros da saga original de uma vez só. É perceptível a mudança de tom entre o terceiro e quarto episódios, indicando onde a história do primeiro livro começa e a do segundo termina; e embora a adaptação faça esforços para conectar tudo em um grande arco que liga o trio de protagonistas à maior agência de detetives de Londres e ao próprio mistério d’O Problema, essa repartição dentro da trama da temporada acaba por fragmentá-la. É possível olhar a trinca inicial de episódios como uma grande introdução, mas é inegável que a série engrena de fato quando mergulha na adaptação do segundo livro, apresentando uma história que se sente mais completa.


Apesar dessa escolha que acaba por prejudicar a apreciação geral da temporada, Lockwood & Co. se mostra uma grata surpresa em meio ao mar de mediocridade de produções originais da Netflix. Mas com o histórico de cancelamentos do streaming nos últimos tempos, é difícil manter a esperança de que uma série que foi tão pouco divulgada tenha chances de continuar numa futura temporada. Seria uma pena, pois o que temos aqui é uma série divertida, cativante, por vezes assustadora, com uma mitologia e construção de mundo frescas e que tem todos os requisitos para ser um grande sucesso.


Nota: 4/5

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