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  • Foto do escritorAianne Amado

Crítica | Maestro

Um filme sobre dois grandes condutores: Bernstein, na orquestra, e Cooper, na direção

Foto: Divulgação


Quando Nasce uma Estrela (2018), filme bastante aclamado pela crítica e pela audiência, não rendeu a Bradley Cooper uma indicação de Melhor Diretor no Oscar, ele não fez questão de disfarçar sua decepção. Em qualquer entrevista na qual o tópico fosse levantado, ele mencionava a importância da nomeação por seus pares. Agora em seu segundo longa, Maestro, disponível 20 de dezembro na Netflix, ele também não nega que está atrás de ter seu nome na categoria.


Ao recuperar a vida e a carreira do músico Leonard Bernstein – Lenny para os íntimos –, Cooper, que além de dirigir também protagoniza e co-escreve o roteiro, este ao lado de Josh Singer, mira nas estrelas. Ele se arrisca desde o primeiro momento, ao tentar o cargo de diretor. Ninguém menos que Steven Spielberg (que, depois de dirigir Amor, Sublime Amor (2021), musical de composição de Bernstein, se interessa e ganha direitos sobre a biografia do maestro) estava certo de ser diretor. O contato deste com Cooper veio apenas para oferecer o papel. Mas o (até então apenas) ator o convidou para uma sessão do seu primeiro longa ainda não finalizado para tentar roubar-lhe o cargo. E deu certo: antes mesmo da metade do filme Spielberg já tinha lhe passado a tocha, se resumindo na produção, ao lado de outro gênio da sétima arte, Scorsese.


Com esse time de gigantes o supervisionando, Cooper toma a liberdade para experimentar com as ferramentas que tem. Seja na dicotomia entre preto e branco e cores, na brincadeira com a proporção da tela, nos ambiciosos e lúdicos planos de plongée absoluto (câmera de cima para baixo, num ângulo de 90º) e nas rápidas passagens de tempo, fica claro a paixão do diretor pela história contada e, sobretudo, pelo cinema.


Mas nem só de amor e boas ideias vive um filme. É preciso saber o que está sendo contado, o que não parece ser o caso de Maestro. Apesar de todos os seus muitos méritos técnicos – destaco aqui a fotografia e, evidentemente, a trilha sonora –, não fica claro sobre o que é o filme.


Foto: Divulgação


Na primeira cena tomamos ciência do amor de Lenny por Felicia. Na segunda, que o músico se relaciona com homens. Logo depois, em uma rápida sequência, o jovem se torna pela primeira vez ser o maestro regente da Orquestra Filarmônica de Nova York, é bem-sucedido na missão e ganha destaque no ramo. Esse início já dá o tom do vai-e-vem temático que será estabelecido nas próximas duas horas.


Uma ajuda nesse quesito está no fato de Felicia ser interpretada por uma Carey Mulligan no auge de sua atuação, engolindo qualquer um que está em cena com ela, incluindo o próprio Cooper. Assim, ela faz parecer que o filme é tão sobre ela quanto sobre ele. Mas como poderia, se não sabemos o suficiente sobre ela? A todo tempo vemos Felicia, uma famosa atriz de seu tempo, à mercê do marido, ou das consequências de tê-lo escolhido como tal. Não sabemos quem ela é além desse casal – que mais parece uma dupla de parceria, uma vez que ela se mostra ciente das traições do amado e opta por ignorá-los, prezando pela imagem, carreira e família de ambos.


Mas o filme também não poderia ser sobre o Leonard maestro, visto que em boa parte das sequências a profissão é deixada em segundo plano, dando lugar aos seus conflitos pessoais, que o levam a uma “melancolia” que ele mesmo tem dificuldade de explicar. Seria então o filme sobre seus confrontos internos? Não exatamente, pois seu psicológico também não encontra espaço suficiente dentre os vários conflitos da trama e sua sexualidade é tratada com um pudor um tanto questionável.


Não é como se a confusão fosse totalmente infundada. Bernstein é profissionalmente ambicioso, tem uma sexualidade aflorada (especialmente para homens) e ama incondicionalmente Montealegre e a família que constroem juntos. Todos esses pontos são verdadeiros e deixados bem claros no filme. Mas, durante as rápidas transições de tempo, não sabemos bem a qual desses pontos devemos dar mais importância, de modo que, a certa altura, todos se tornam mornos e nenhum ganha a profundidade que merece.


O que temos onipresente é o olhar à intimidade de alguém que ganhou fama ao dar as costas ao público e conduzir. Leonard Bernstein deixa de ser um artista renomado e passa a ser um homem complexo, imperfeito, sexual, egoísta, amoroso e genial. Já Bradley Cooper, que, ao contrário, conquistou a fama ao servir seu rosto como galã das telonas, agora revela sua intimidade ao ficar atrás delas, conduzindo sua arte com seriedade, criatividade e paixão. E por esses dois, apesar do desarranjo narrativo, o filme certamente vale a audiência.


Nota: 3,5/5

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