A comédia é um emaranhado de ideias repetidas com fraquíssimas ligações entre elas
Foto: Divulgação
Sem dinheiro e vivendo das glórias do passado, Mallandro precisa se reinventar. Recém eliminado de um reality show e com dívidas se acumulando, Sérgio Mallandro aceita participar de um piloto para um novo programa de auditório. Porém, quando uma pegadinha dá errado, ele se vê em uma situação de vida ou a morte e precisa tomar uma decisão que pode afetar sua carreira para sempre.
A ideia de um ator interpretando a si mesmo em contextos extraprofissionais não é exatamente nova, mas se moldando às diferentes personalidades dos diferentes atores sempre dá para se criar uma produção com roupagens distintas. JVCD (2008), filme de ação com Jean-Claude Van Damme, e a comédia O Peso do Talento (2022), filme em que Nicolas Cage interpreta a si mesmo, provam isso. E foi com a esperança de que Mallandro, o Errado Que Deu Certo trouxesse uma abordagem particular ao modelo de narrativa que cheguei esperançoso ao cinema, mas o resultado é constrangedor até mesmo para o personagem-título.
O roteiro é cheio de contradições que tiram qualquer chance que o filme teria de seguir uma linha de raciocínio coerente. Mallandro está passando por uma crise profissional e pessoal por não conseguir mais fazer sucesso com o que o tornou famoso nos anos 80 e 90, os bordões e o humor (por incrível que pareça). Isso seria o suficiente para um longa conciso, simples e ainda assim muito pano para a manga sobre discussões de fama, propósito e conflitos geracionais. E o texto tenta alcançar tudo isso, mas usa recursos tão medíocres que o resultado é completamente sem expressividade.
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O longa usa as mais cansadas referências de humor, drama e até mesmo ação que chega a ser embaraçoso o tanto que se rebaixa para conseguir arrancar alguma reação do espectador. Atuações ruins – com exceção do sempre brilhante André Mattos –, diálogos piores ainda, personagens que aparecem e desaparecem sem quaisquer motivos são alguns das características marcantes, além do que acho que enfraquece ainda a narrativa e compromete sua estabilidade: a falta de unidade entre querer fazer do Sérgio Mallandro um personagem esquecido ao mesmo tempo que super popular.
Claro que alguns contextos foram alterados para a construção do enredo, os dois filhos, as duas esposas, as dívidas exageradas, mas o roteiro parece esquecer que aquele é um personagem numa dramatização e tenta empurrar um Sérgio Mallandro da vida real totalmente desconexo do personagem, em situações desconexas e contextos desconexos para o público não esquecer de que aquilo tudo é para o entretenimento e que existe um ator a ser honrado por trás de todo aquele vexame.
A cena final, de novo, inteiramente descolada da tentativa de roteiro, é uma homenagem ao Mallandro da vida real, a uma figura que conseguiu fama com um tipo bastante peculiar de humor e que ainda hoje alcança o feito de lotar teatros com seus espetáculos fazendo seja lá o que ele faz. Porém se essa produção foi uma tentativa de redimir, apresentar ou puramente relembrar o artista para a diversa mídia atual, ela não vai além de fazer as mesmas gracinhas de sempre para quem gosta e reforçar o quão insuportável o comediante pode ser para quem não gosta.
Nota: 1/5
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