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  • Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | Moonage Daydream

Um mergulho pela carreira de David Bowie que faz jus ao artista

Divulgação: Universal Studios/Neon


A expressão “de outro mundo” é uma daquelas tão utilizadas que acabam tendo seu sentido esvaziado, mas é perfeitamente aplicável quando se trata de David Bowie. Fosse pela sua persona transgressora, ou a sua capacidade de se moldar a novos gêneros e experimentações musicais e até mesmo de prevê-los, é indiscutível a sua importância e legado para a música nos últimos 50 anos. Diante de uma figura tão icônica e única, é compreensível porque sua família costume relutar em ceder os direitos para qualquer produção baseada em sua figura, mas ao se assistir “Moonage Daydream” é possível perceber que esta não é uma obra qualquer.


Dirigido, roteirizado, produzido e editado por Brett Morgen, o filme joga pela janela as convenções e lugares-comuns dos documentários e biografias. Não há uma narrativa tediosamente linear pontuada por entrevistas com pessoas próximas ao artista abordado; ao invés disso, Morgen usa o próprio Bowie - através de áudios de entrevistas, diários e registros pessoais - para nos guiar pela sua carreira, estabelecendo menos uma narração e mais uma espécie de fluxo de consciência, conforme avançamos pelos blocos temáticos e os anos.


Ao mesmo tempo em que examina o impacto de Bowie sobre a indústria musical - e também sua relação com seu próprio tempo, conforme indicam as diversas cenas de filmes e eventos reais integradas à narrativa -, Morgen desnuda um pouco do homem sob a lenda. Não que o caráter enigmático do músico seja perdido, mas alguns dos melhores momentos do filme vem através de narrações e entrevistas onde Bowie declara suas intenções e buscas, o que nos permite conhecê-lo um pouco mais. Suas visões sobre arte, cultura, espiritualidade e trabalho podem parecer complexas à primeira vista, mas logo se tornam bastante acessíveis, e é fascinante vermos seu lado mais brincalhão em entrevistas, onde por muitas vezes ele inicialmente responde a alguma pergunta com uma piada ou um comentário evasivo, mas em seguida demonstra respeito por seus entrevistadores e clareza em suas respostas.

Divulgação: Universal Studios/Neon


O documentário também confere um olhar significativo às outras expressões artísticas que Bowie alimentava, seja no cinema, teatro ou artes plásticas. Mas a música é inegavelmente a protagonista e, ciente disso, Morgen realiza um trabalho extraordinário na trilha sonora, juntando-se a Tony Visconti (produtor e braço direito de Bowie de 1968 até a morte do cantor em 2016) para trazer várias canções do espólio do artista, seja diegética ou não-diegeticamente. Entre versões ao vivo nunca vistas antes, remixes de canções clássicas, novas versões e composições pouco conhecidas, o diretor integra a natureza musical dessa obra com uma organicidade notável, pintando uma tela que ostenta as mais diversas facetas da carreira de Bowie.


Ao final, podemos enfim entender plenamente quem era David Bowie? Não, mas julgar por vários de seus comentários e respeitos, nem o próprio Bowie se conhecia por inteiro, e essa incessante busca norteava sua vida como artista. “Moonage Daydream” não nos dá respostas concretas, mas certamente nos engaja nessa fascinante e recompensadora jornada. O documentário é capaz de fazer um mergulho íntimo na vida e obra de um artista inigualável e, nesse processo, consegue a proeza de se tornar tão distinto e singular quanto o homem que busca retratar.


Nota: 5/5

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