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Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | Mythic Quest (3ª temporada)

Apostando em corajosos recomeços

Divulgação: Apple TV+


Ao final da sua segunda temporada, 'Mythic Quest' parecia entregar uma espécie de final definitivo, com seus dois protagonistas, Ian (Rob McElhenney) e Poppy (Charlotte Nicdao) saindo da empresa que dá nome à série para embarcarem em um projeto próprio, além de várias mudanças no status quo dos demais personagens. Cheguei a me perguntar se a série se encerraria ali, mas o anúncio de sua renovação para mais duas temporadas me fez ver a confiança da AppleTV nela, que continua a ser uma de suas joias mais subestimadas.


Assim, a terceira temporada carrega o desafio de apresentar um cenário bastante diferente das anteriores, onde Ian e Poppy trabalham em um novo jogo idealizado por ela, contando com o auxílio de Dana (Imani Hakim), enquanto o excessivamente gentil David (David Hornsby) comanda agora a Mythic Quest e tem a autoritária Jo (Jessie Ennis) como assistente. Além disso, vemos enfim Carol (Naomi Ekperigin) enfim promovida a uma das personagens principais, o retorno de Brad (Danny Pudi) após ser preso e a ausência de C.W. Longbottom (F. Murray Abraham, cujos motivos para não continuar na série não foram explicados até hoje).


Em termos narrativos, a temporada segue essas duas linhas macro - os cotidiano da Grimpop e da Mythic Quest - quase sempre separadamente, embora ao final do primeiro episódio tenhamos a revelação hilária de que ambas as empresas funcionem no mesmo prédio. Embora essa separação interfira na fluidez dos arcos, também permite uma certa reinvenção por parte da série, explorando novas interações entre os personagens e aprofundando tramas e conflitos que vinham sendo semeados nas temporadas anteriores.

Divulgação: Apple TV+


Por exemplo, Brad trilha uma espécie de “jornada de redenção”, ou o mais próximo que uma série tão ácida quanto 'Mythic Quest' poderia dar ao seu personagem mais maquiavélico. Já Jo se revela um deleite: um pouco de sua personalidade é aparado, mas ela é mais do que nunca a mesma personificação hilária de uma mulher conservadora, autoritária e atraída pelo poder que já víamos nas outras temporadas, roubando a cena cada vez que aparece. Da mesma forma, é delicioso ver personagens como David e Dana crescerem aos poucos sem deixarem de ser quem são - Dana a voz da razão nesse universo maluco e David neurótico e frágil. Contudo, senti falta de um maior espaço para Carol e Rachel (Ashley Burch), embora no caso desta última a ausência de carisma faça com que seus sumiços não sejam tão lamentados assim.


Mesmo adotando um ritmo mais lento que implica em alguns episódios menos marcantes do que outros, a temporada se paga na sua reta final, conforme traz para o primeiro plano a complexa e meio conturbada relação de Ian e Poppy, tão distintos quanto parecidos entre si. Como de praxe, temos aqui um episódio de flashback que diverge da narrativa principal para trazer as origens de alguns de seus personagens ou conceitos, e dessa vez as origens em questão são justamente as dos dois protagonistas, no que é um dos melhores episódios da série como um todo e que explica bem os altos e baixos da parceria criativa e platônica deles.


Mesmo estando um pouco abaixo das duas primeiras temporadas, essa terceira não deixa a peteca cair diante de um novo cenário e novos desafios não apenas para seus personagens, mas também para a série em si. Estão aqui os mesmos elementos que a abrilhantam - o humor ousado, afiado e inteligente; os personagens malucos, mas ainda assim profundamente humanos; a delicada linha entre comédia e drama; a metalinguagem e as referências sempre na medida certa; e muito mais. Com um novo e promissor cenário se desenhando nos minutos finais, mal posso esperar para ver o que 'Mythic Quest' nos reserva para sua próxima temporada.


Nota: 4/5

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