top of page
Background.png
capa-cabeçalho-site.png

Crítica | Nosferatu

Foto do escritor: Ávila OliveiraÁvila Oliveira

Releitura consegue referenciar clássicos e gerar nova abordagem cheia de personalidade

Foto: Divulgação


Nosferatu, de Robert Eggers, é um conto cinematográfico gótico sobre a obsessão entre uma jovem mulher amedrontada e o aterrorizante vampiro apaixonado por ela na Alemanha do século XIX e o antigo vampiro da Transilvânia que a persegue, trazendo consigo um horror incalculável.


Eggers é um cineasta que já provou que tem leitura e conteúdo. Se isso não estava claro em quaisquer de seus longas anteriores, agora ele deixa ainda mais explícito por se tratar de uma nova versão de uma história para lá de conhecida no cinema internacional. Tenho minhas questões com o termo “respeitar” filmes anteriores quando se fala de um remake, entendo os mais puristas que se apegam às primeiras versões pela mera (e às vezes rasa) nostalgia, mas acredito que quanto mais divergente é a nova visão, mais rico é o debate em cima das novas interpretações. E em se tratando de uma nova versão, ele usa recursos narrativos e estilísticos das duas produções anteriores alemãs homônimas, referencia outros clássicos do terror gótico e ainda assim entrega força, beleza e suspense cheio de personalidade.


A história do Drácula/Nosferatu traz os principais elementos que Eggers apresenta em sua filmografia, o suspense folk, o sobrenatural como estado psicológico e as relações humanas como catalisadores do terror em seu estado mais bruto. E para além do visual impecável, que falarei logo menos, o grande trunfo do Nosferatu de Eggers é conseguir dar vida com clareza à sua perspectiva mais sensual e mais carnal do argumento. A demonização do prazer feminino, as incertezas da encoberta luxúria e o medo de ceder ao desejo desconhecido estruturam todo o roteiro – para além da camada mais óbvia do paranormal – e justifica várias escolhas narrativas de texto mesmo que valorizam o romance.

Foto: Divulgação


Plasticamente é o filme perfeito. O belo trabalho de fotografia de Jarin Blaschke, que é bastante habilidoso com sombras, pinta alguns dos melhores enquadramentos do ano (os minutos finais são espetaculares) no cinema e prova que um filme trabalhado em baixas tonalidades não necessariamente implica num visual apático, sem ímpeto e feio. Direção de arte, figurino, maquiagem, tudo é excessivamente caprichado como se espera das mais tradicionais produções góticas. Excesso é realmente a palavra aqui, o longa em nada economiza sua pompa para se impor, e se impõe com graça.


O elenco inteiro consegue trabalhar na área comum entre o terror, o romance e o noir. Lily-Rose Depp brilha e conduz com maestria a trama mesmo acompanhada de nomes mais experientes. Nicholas Hoult, um dos atores de Hollywood que mais trabalhou em 2024, faz um Thomas Hutter sempre acuado, assustado e contido em seus receios, mesmo quando resolve pagar de herói. Aaron Taylor-Johnson e Willem Dafoe também marcam as cenas com coadjuvantes que se fazem importantes. E a escolha de esconder até quando possível a aparência do irreconhecível Bill Skarsgård e sua nova roupagem do vampiro é uma ideia bem divertida e que funciona bem. A criatura de Bill é um conde galanteador que sempre fala num tom ao mesmo tempo charmoso e ameaçador e que não fosse o nome dos créditos, nada remeteria ao físico do ator.


Mesmo os mais familiarizados com a história em detalhes vão se surpreender com os elementos adicionados nesta nova roupagem, o que proporcionou surpresas agradáveis e um resultado coerente em suas escolhas. Um filme grandioso feito com empenho, com volume e com paixão.


Nota: 4,5/5


Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page