Biografia esportiva sobre uma atleta que não é exatamente esportiva e nem só sobre a atleta
Foto: Divulgação
Nyad é uma força da natureza. Literalmente. O nome remete às ninfas aquáticas da mitologia grega e quando registrado como sobrenome de Diana, vira uma profecia. A personagem que dá nome ao filme fez das águas sua casa, como mostra na impressionante montagem inicial, que exibe imagens de registro das primeiras conquistas da verdadeira Diana. A Diana que acompanharemos, porém, é trinta anos mais velha e interpretada por Annette Bening, que retrata a carismaticamente irritante – ou irritantemente carismática – nadadora aposentada, atual comentadora esportiva em busca de um novo desafio.
A resposta parece óbvia para ela – e só para ela: do alto dos seus 60 anos, sem treinar ou se exercitar a décadas, Nyad decide completar a prova que, mais de 30 anos atrás não conseguiu: estabelecer o recorde em águas abertas ao nadar de Havana, Cuba, até Key West, EUA. O desejo logo vira uma obsessão, um sinal claro de alguém com um passado não resolvido, seja na prova fracassada, seja com o abandono de seu pai, seja com sua relação com o técnico e, em consequência, todo o esporte.
Não sei se seria considerado spoiler indicar como esse enredo termina. Afinal, apesar de todos os louros, não deixa de ser um filme biográfico esportivo e, se virou filme biográfico esportivo, é porque algo de inacreditável aconteceu. E a obra encontrou os nomes certos para contar essa história: a dupla Elizabeth Chai Vasarhelyi and Jimmy Chin, conhecidos pelos documentários sobre pessoas que se levam ao limite dos seus físicos contra a natureza (Free Solo, The Rescue), agora na primeira vez na direção de uma ficção; o ciematografista Claudio Miranda, responsável por um dos mais icônicos visuais de oceano do cinema moderno, A Vida de Pi; e Julia Cox na assinatura de um roteiro que consegue surpreender esse gênero tão sem surpresas.
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Isso porque a narrativa central de Nyad não é sua jornada até o recorde. Vasarhelyi e Chin nos lembram que por mais determinado que um indivíduo seja em atingir o impossível, nada vai ser tão intenso e bonito quanto dois indivíduos. E é assim que a lendária Nyad vira coadjuvante, e o filme passa a ser sobre as amigas Diana e Bonnie, esta última vivida por Jodie Foster. Se Diana tem que enfrentar águas-vivas e hipotermias, Bonnie parece ter um desafio ainda maior ao enfrentar – e aguentar – sua teimosa amiga/ex-namorada. O ponto de virada do filme não são as tentativas falhas de Nyad, mas sim os confrontos entre técnica e atleta, afinal, de nada valeria o recorde sem Bonnie para dar o abraço final.
Um dia eu serei professora de cinema e isso me fez desenvolver uma mania de escolher obras para passar nas aulas imaginárias que planejo na minha cabeça. Nyad seria a obra perfeita para passar na aula sobre química entre atores. Lógico que estamos falando de duas atrizes indiscutivelmente talentosas, mas as já excelentes atuações de cada uma nas cenas individuais fica para trás quando elas estão contracenando. A dinâmica entre Bening e Foster é uma masterclass, quase dá para ver faíscas saindo da tela e, sem dúvidas, é o que segura o filme. Por mais cativante que seja a história e a própria Nyad em si, e o roteiro aborda todas as várias complexidades de ambas, algumas escolhas estilísticas – principalmente nas cenas de flash back e nos efeitos especiais dos momentos de delírio em alto mar – dão um ar… cafona para um filme que, infelizmente, tinha tudo para ser muito mais que um Oscar-bait, mas, ao contrário de Nyad, não tentou o suficiente.
Nota: 3/5
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