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Crítica | O Auto da Compadecida 2

Foto do escritor: Ávila OliveiraÁvila Oliveira

Continuação é mais pop, menos naturalista e com o humor que segura as pontas do acabamento apressado

Foto: Divulgação


O Auto da Compadecida 2 traz de volta a dupla mais querida do cinema brasileiro: João Grilo e Chicó. Matheus Nachtergaele e Selton Mello prometem divertir, emocionar e surpreender o público neste Natal com as novas aventuras de seus icônicos personagens. O filme se passa vinte anos depois da primeira história e mostra a pacata rotina de Chicó (Selton Mello) na mítica cidade de Taperoá, no sertão nordestino. Agora, ele vive da venda de santinhos esculpidos em madeira e conta a história da ressurreição de João Grilo. Seu grande amigo não dá notícias há duas décadas e Chicó acha que ele morreu novamente. Mas eis que João Grilo reaparece vivinho da silva e cheio de planos mirabolantes, que vão virar a cidade de cabeça para baixo.


O Auto da Compadecida (1999) foi exibida originalmente como uma minissérie da Rede Globo. A versão compactada em longa-metragem se tornou um dos mais populares filmes brasileiros pelo seu humor afiado, seu roteiro bem amarrado baseado na genialidade do material de Ariano Suassuna, seu elenco encorpado e seus tons naturalista e realista tanto no texto quanto na estética. Na continuação, o elenco continua excelente, o humor continua pungente, mas o restante se equilibra em escolhas que ora parecem fazer sentido, ora não dialogam entre si apresentando uma falta de estabilidade e imprimindo um acabamento apressado.


O segundo filme rasga completamente todo o viés naturalista e realista – pegando emprestado as definições literárias – e parte para um tom mais mímico e teatral que destoa por completo do fora apresentado ao público há mais de 20 anos. Me agrada a vontade de testar uma nova proposta, mas não me agrada o resultado quando comparado às escolhas do primeiro. A falta de gravações externas (fora de estúdios) evocou um estilo “novo”, agregando técnicas e estéticas do teatro como o uso de holofotes de iluminação focais que realça personagens e cores. Mas confesso que a falta de luz natural causou uma claustrofobia visual que sufoca involuntariamente.

Foto: Divulgação


Matheus Nachtergaele e Selton Mello ainda brilham em seus icônicos papeis como se não houvesse uma semana entre os dois filmes. E o roteiro consegue trazer boas sacadas e piadas espalhadas por toda a sua duração. Mas O Auto da Compadecida 2 carece de um mote central convincente que justifique aquele o reencontro dos seus personagens através de um longa-metragem de duas horas de duração.


O formato minissérie permitiu que os personagens coadjuvantes ganhassem um considerável espaço de cena e arcos narrativos bem trabalhados – e por aparecerem no texto original do escritor paraibano –, mas aqui a história está intrinsecamente ligada aos dois protagonistas de forma que as personas secundárias não parecem se sustentar de forma independente.


O ato final, em específico o ato da compadecida, se apresenta quase como uma réplica do memorável julgamento pós-vida de João Grilo quando deveria ser o ponto-chave de toda a trama. A verdade é que tudo aqui depende da produção anterior, de forma mecânica, para acontecer. E o que frustra um pouco mais é o roteiro usar das meta-piadas como forma de se blindar de possíveis críticas e questionamentos. Então nem como uma obra isolada talvez o longa se resolva melhor do que como uma continuação.


Mesmo com seus percalços e repetições, é uma produção que carrega sentimento demais nas camadas mais óbvias e nas entrelinhas, e é constituído sob uma benevolência graciosa e quase cega na humanidade que deixa o resultado com uma aparência inofensiva e quase inocente.


Nota: 3/5

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