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Foto do escritorFilipe Chaves

Crítica | O Casal Perfeito (Minissérie)

Apesar dos defeitos evidentes, não se levar tão a sério é um dos principais trunfos desta produção completamente viciante

Foto: Divulgação/ Netflix


Quando Nicole Kidman começou a fazer televisão com a espetacular – até então – minissérie Big Little Lies em 2017, ela ganhou um Emmy por sua irretocável performance como Celeste e tomou gosto pela mídia. No entanto, sua presença não virou sinônimo de qualidade graças a fraca The Undoing e a terrível Nove Desconhecidos. Neste ano, a ótima Expatriadas já tirou um pouco do estigma negativo, então fui conferir O Casal Perfeito com alguma expectativa, mas felizmente controlada. Tramas de brancos, ricos e problemáticos com um mistério como pano de fundo não são exatamente novidade na televisão, vide The White Lotus e a própria Big Little Lies, por exemplo. Porém, esta aqui lembra muito mais Revenge, não só pelo cenário praiano, mas pelo tom mais folhetinesco que o texto adota. Kidman é Greer Winbury, a matriarca da família e uma famosa escritora. O drama começa no dia do luxuoso jantar de ensaio de casamento de Benji (Billy Howle), um dos filhos de Greer, com Amelia (Eve Hewson), porém a cerimônia dá uma virada trágica quando um corpo de um dos convidados é encontrado boiando no mar.


Embora Kidman esteja bem na pele da mãe controladora, algo nem sempre funciona nas suas expressões faciais. Independente disso, o elenco é um dos principais pontos positivos, porque além dos citados ainda temos Liev Shcreiber no papel de Tag, o marido meio babaca de Greer, e ele está ótimo no papel. Thomas (Jack Reynor) e Will (Sam Nivola) são os outros dois filhos do casal e Abby (Dakota Fanning) é esposa grávida de Thomas. Fanning é o maior destaque com sua personagem venenosa e a atriz parece estar adorando cada segundo no papel. Meghann Fahy é Merritt, uma influencer festeira amiga de Amelia, que será sua dama de honra no casamento. Ela chega com Shooter (Ishaan Khattar), que será o padrinho de Benji e é amigo da família há tempos, assim como Isabel (Isabelle Adjani), que parece saber até demais por conhecer os Winbury há mais tempo. No papel dos investigadores temos Michael Beach, como o policial Dan Carter, e Donna Lynne Champlin como a detetive Nikki Henry. Um baita elenco que consegue aproveitar bem os clichês do texto e se divertir com os diálogos quando não estão se levando a sério, o que não é sempre, infelizmente.


A minissérie adota um humor proposital que é um dos seus melhores aspectos para disfarçar as reviravoltas infundadas que surgem ao longo dos seis episódios. O ritmo é muito ágil, mas há um problema que vai além dos clichês e sua previsibilidade. Na intenção de te fazer dar o play em seguida, sempre que o episódio acaba com um grande gancho, no começo do próximo aquilo já se transforma em uma tremenda bobagem sem qualquer relevância. E esta é a construção do mistério que sempre aguarda algum momento conveniente para trazer alguma nova reviravolta, revelando coisas que sequer importam para o mistério em si. A resolução para o “quem matou” da vez não é lá tão interessante, e surpreende mais do que faz sentido, mas eu adoro como o episódio final é engraçado. Susanne Bier, a diretora, e Jenna Lamia, a showrunner que adaptou o livro homônimo de Elin Hilderbrand, conseguem dar esse tom humorado que contorna as coisas sem pé nem cabeça e os atores acompanham muito bem, mesmo que os diálogos, às vezes, sejam bem expositivos e queiram responder perguntas que ninguém estava fazendo. É difícil falar sem spoilers e não poder adentrar em alguns outros aspectos, mas o entretenimento é garantido apesar dos vários pesares.


Nota: 3/5

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