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Foto do escritorGabriella Ferreira

Crítica | O Clube das Mulheres de Negócios

Papeis de gêneros invertidos e onças foragidas em filme que não sabe onde quer chegar

Foto: Divulgação


Filmes que tocam no cerne das dores do patriarcado se tornaram cada vez mais comuns. Independente da abordagem, essas histórias ganham vozes e são guias para discussões acerca das problemáticas do machismo na nossa vida cotidiana. Dentro desse contexto, o filme O Clube das Mulheres de Negócios, novo longa da diretora Anna Muylaert, lançado nesta quinta-feira, 28, nos circuitos comerciais dos cinemas, entra no escopo dos que também tratam sobre o assunto. 


Em entrevista exclusiva para o Oxente, Pipoca?, a diretora afirmou que a trama de O Clube das Mulheres de Negócios surgiu através do cansaço de perceber o tratamento feminino comparado com o masculino. Ambientado em um mundo imaginário onde os estereótipos de gênero estão invertidos, a história parte da premissa durante um dia de folga de um clube de campo, frequentado por poderosas mulheres de negócios, em uma reunião na sede da instituição do título. São convidadas expoentes de diferentes áreas, para tratar de um investimento no que Cesárea, personagem de Cristina Pereira, deseja adquirir. 


Quando o fotojornalista Jongo, papel de Luís Miranda, e o jornalista inexperiente Candinho, personagem de Rafael Vitti, visitam as mulheres para uma entrevista especial, eles  descobrem mais sobre o universo peculiar e assustador, de certo modo, de cada uma. Paralelo a isso, três onças escapam do onçário onde vivem no clube e O Clube das Mulheres de Negócios se transforma em um suspense de caça, onde tanto homens quanto mulheres podem ser consumidos pelos implacáveis bichos.


Na lista de mulheres que fazem parte do poderoso clube estão uma cantora de funk vivida por Polly Marinho, uma política candidata a presidente interpretada por Irene Ravache, outra candidata e entusiasta do armamento da população de Katiuscia Canoro, uma empresária do agronegócio de Grace Gianoukas, a milionária líder evangélica de Shirley Cruz, a advogada vivida por Helena Albergaria e a misteriosa personagem de Ítala Nandi. Elas são servidas por Brasília, uma espécie de governanta vivida por Louise Cardoso. Algumas dessas mulheres são acompanhadas dos maridos bem mais jovens, muitos deles traídos, meio burrinhos e com looks sensuais que deixam a mostra coxas e peitorais musculosos. 

Foto: Divulgação


Nesta primeira parte da trama,  O Clube das Mulheres de Negócios é totalmente um filme de denúncia e começa muito bem à medida que vamos explorando esse universo imaginário onde os homens são os oprimidos. Utilizando-se bastante do humor ácido e do desconforto em cenas cotidianas, o roteiro de Anna Muylaert é bastante binário e com poucas nuances e deixa, muitas vezes até em sua exaustão, o didatismo tomar conta dos diálogos, talvez um mecanismo eficiente para provocar certos questionamentos em determinadas bolhas. 


Com arquétipos muito reconhecíveis, é fácil pescar as referências da diretora para as suas personagens principais. E Anna Muylaert se delicia entrando nesse universo, explorando imageticamente os corpos masculinos da mesma forma que vemos os corpos femininos sendo explorados cotidianamente. Essa é, sem dúvidas, a melhor parte do filme: submeter os homens ao mesmo olhar que frequentemente diminui, desvaloriza e isola o feminino.


Outro ponto positivo na experiência de assistir O Clube das Mulheres de Negócios é a sua ambientação brega (no melhor sentido da palavra). Abusando de cores fortes, estampas de tigres, bijuterias e acessórios maxi e estilos peculiares bem pontuais para cada personagem, o filme tem essa habilidade visual muito presente com cenário de luxo repleto de contrastes, que encaixa absurdamente com a proposta de Muylaert de beirar o absurdo e o cartunesco, e isso se reflete também nesta visualidade extremamente presente na história. 


Ridicularizando ao extremo uma parte tosca do nosso país, a trama de Anna Muylaert, até o seu meio, se sustenta bem pela curiosidade, pelas risadas que arranca ao nos deparamos com esse ridículo e pelas boas atuações de suas protagonistas. Porém, ao adentrar no núcleo mais fantasioso e sombrio da história, O Clube das Mulheres de Negócios se perde em sua própria indecisão. O sentimento que fica é que existem três histórias que tentam emergir ao longo dos 95 minutos de projeção: uma ficção com tons de especulação sobre essa inversão de gênero, um suspense investigativo e uma sátira escrachada sobre o absurdo. 


E eles não conseguem coexistir entre si ou se entrelaçar de uma forma que não pareça forçada. Fica claro que O Clube das Mulheres de Negócios poderia se tornar uma boa sátira, ou um bom filme com crítica social ou, talvez, um bom suspense investigativo, mas torna-se uma grande confusão de ideias por uma necessidade de falar sobre tudo, ao mesmo tempo que não se aprofunda sobre nada e se torna inverossímil com as alegorias didáticas que se propõe. Não é uma experiência de todo ruim, mas a sensação que fica é que o resultado poderia ser muito melhor. 


Nota: 2,5/5


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