Nova comédia de François Ozon é a mistura perfeita entre o doce e o maquiavélico
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Imagine que você esteve na casa de um famoso produtor e, horas depois da sua partida, esse mesmo homem é encontrado morto, com uma bala em seu crânio. Logo mais, a investigação pelo assassino começa e você é apontado como um dos suspeitos. A decisão mais lógica em uma situação como essa seria dar um depoimento para a polícia e esclarecer que a sua ida ao local do crime não teve qualquer ligação com o que aconteceu. Porém, com os motivos certos, talvez a decisão mais proveitosa seja simplesmente assumir a culpa pelo delito.
Esse é o contexto em que o filme O Crime é Meu, dirigido pelo francês François Ozon, está inserido. A trama segue as duas amigas Madeleine Verdier (Nadia Tereszkiewicz) e Pauline Mauléon (Rebecca Marder), ambas sem dinheiro ou prosperidade em suas respectivas carreiras de atriz e advogada. Sendo assim, quando uma oportunidade de conquistar visibilidade e fama acaba caindo em suas mãos, Madeleine e Pauline precisarão de um crime para chamar de seu.
Além de um roteiro esperto, divertido e caricato na medida certa, o longa nunca deixa o entusiasmo cessar. Conforme os minutos, o seu enredo vai ganhando forma e nos prendendo ainda mais na história de Madeleine e Pauline, intercalando o humor sarcástico com os vestígios do sexismo contemporâneo. Embora a história se passe nos anos 30, época em que as mulheres eram submetidas a modelos ainda mais transgressores de dominação masculina, sua narrativa consegue se manter atual e, acima de tudo, consciente de seus próprios excessos.
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E por falar em excessos, uma marca palpável de ‘O Crime é Meu’ é a sua teatralidade, o que faz total sentido, já que o filme é baseado na peça homônima Mon Crime, de Louis Verneuil e Georges Berr. Por diversas vezes, o longa adota a postura de rebobinar acontecimentos passados, acompanhados de uma locução ao seu fundo, fazendo com que os próprios atores, enquanto personagens, estejam atuando também.
É válido destacar que o charme e o encanto dessa comédia não se dá exclusivamente pelas personagens principais. Aqui, os coadjuvantes elevam o carisma da trama ao quadrado com as performances de alguns veteranos do cinema francês. Nomes como Fabrice Luchini, André Dussolier e a ilustre Isabelle Huppert, que simplesmente rouba a cena com a carismática Odette Chaumette, são peças fundamentais para garantir o que o espectador seja fisgado e conquistado.
No mais, O Crime é Meu é uma comédia que está perfeitamente pronta para te divertir, ao passo que explora as grandes bizarrices do comportamento misógino e de uma sociedade obcecada pelo espetáculo. De fato, quando as mulheres são submetidas a circunstâncias discriminatórias, em um habitat em que os homens são obviamente menos inteligentes, a solução para um problema pode ser a mais excêntrica possível.
Nota: 4,5/5
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