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  • Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | O Dia Que Te Conheci

O amor que encontramos no relacionável e no cotidiano

Foto: Divulgação


A comédia romântica é, por definição, um gênero que sempre exigiu uma certa suspensão de descrença do seu público, para abraçarmos as mais belas, poderosas e irreais histórias de amor. Em tempos de tanto cinismo (e de tanta autoconsciência), não é surpresa que o gênero pareceu quase em extinção, perante um público que não sabia mais comprar esse tipo de história sem apontar os “furos de roteiro” ou saltos de lógica.


O Dia Que Te Conheci não visa reinventar a roda das comédias românticas: apenas quer contar sua singela história. Através de uma condução simples (mas sempre muito segura, a julgar pelos planos longos e a confiança nos silêncios além das palavras), o diretor mineiro André Novais Oliveira — um dos principais expoentes da rica cena audiovisual que tem se desenvolvido na região metropolitana de Belo Horizonte — busca fazer com que nos apaixonemos por Zé (Renato Novaes) e Luisa (Grace Passô) tanto quanto eles se apaixonam um pelo outro. E consegue.


Adotando uma estrutura que vagamente remete a obras como a trilogia do Amanhecer ou Rye Lane — mas de maneira muito autoral e orgulhosamente local —, Novais foca primeiro em nos ambientar ao cotidiano de Zé. Este é uma figura como tantas outras: tem problemas para acordar (motivados, descobrimos depois, pelos remédios que anda tomando), corre atrás do seu busão, bisbilhota o que o passageiro da frente está vendo no celular, vai comprar um pastel enquanto o busão está quebrado — acompanhado de ninguém menos que FBC, numa divertida ponta. Há algo de tão relacionável no seu dia-a-dia, que nos gera tanta identificação, que é até difícil de perceber o que irá se desenrolar entre ele e Luísa no momento em que essa aparece em cena (e na vida dele).

Foto: Divulgação


Talvez seja aí que reside a grande mágica do filme: os pequenos momentos e decisões, os instantes quase banais que se acumulam e permitem ao longa explorar a gradativa e singela química entre os dois protagonistas. De uma carona para uma cerveja, passando por conversas sobre antidepressivos até uma ida ao apartamento que se revela algo mais, o grande mérito de Novais Oliveira é transformar os personagens nessas pessoas reais, que poderíamos ver no nosso dia-a-dia — ou até ser nós mesmos.


A dupla principal de Novaes e Passô é um acerto e tanto, provando-se essenciais para fundamentar o romance aqui apresentado. Se ambos os personagens não deixam de atender certos estereótipos do gênero — ele mais tímido e retraído, ela expansiva e magnética —, as performances inserem uma gratificante naturalidade que torna a química e a atração entre eles ainda mais palpáveis. Essa naturalidade também se revela no fato de termos duas pessoas negras e fora dos padrões estéticos e corporais como protagonistas, se apaixonando e encontrando um no outro de maneira tão bonita e orgânica. Além disso, também está presente no “sotaque fílmico” da obra: parece simples, mas que delícia é ouvir um “sô” legitimamente belorizontino e não de algum ator de outro estado fazendo um sotaque mineiro estereotipado.


“Hoje vai ser diferente”, diz Zé ao final do longa. É a quebra da rotina, do cotidiano, mas pelo melhor motivo possível. Ele e Luisa ficarão juntos? Essa pergunta nunca importa muito numa comédia romântica, embora aqui fiquemos desejosos de saber mais sobre o que haverá para eles. Ainda assim, permanecem a beleza de acompanhar o primeiro dia destes dois personagens, a conexão que gradativamente se estabelece entre eles e a promessa de um amor tão bonito — e que é bonito por se fundamentar no ordinário, no que é relacionável e está tão próximo deles e de nós. O Dia Que Te Conheci é um filme prazeroso de se assistir justamente por pegar a simplicidade e torná-la tão mágica e apaixonante.


Nota: 4/5

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