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  • Foto do escritorFilipe Chaves

Crítica | O Estrangulador de Boston

Suspense não inova mas prende atenção pela investigação instigante

Foto: Divulgação


Baseado em uma história real, acompanhamos Loretta McLaughlin (Keira Knightley), uma repórter do jornal Record American. Loretta está na seção de estilo de vida, já que a parte criminal era destinada a homens. Mas ao notar que os casos de assassinato por parte de um estrangulador na Boston dos anos 1960 não estavam tendo a devida atenção do jornal – ou da polícia local –ela passa a investigar sozinha e a contra gosto do seu chefe, sendo a primeira jornalista a descobrir uma conexão entre os homicídios. Com o tempo passando e mais casos aparecendo, Loretta ganha a ajuda de sua colega Jean Cole (Carrie Coon) para cobrir os crimes, o que se torna cada vez mais difícil com o machismo exorbitante da época. Apesar disso, as duas não param e acabam correndo grandes riscos, colocando até suas próprias vidas em jogo para descobrirem a verdade.


Pessoalmente, eu adoro filmes de jornalismo investigativo. Eles não são mais uma novidade e esse é um exemplo. Nem sempre um filme precisa trazer grandes inovações, só precisa contar bem a história que pretende. Felizmente, é o que acontece aqui. Tive receio que o fossem abordar coisas demais e não tivesse espaço suficiente. Em um determinado ponto, parecia que a trama ia se desviar e perder o foco, mas engano meu. Matt Ruskin, que dirige e roteiriza, sabia muito bem o que queria dizer e como construir a narrativa. O diretor é seguro em cenas mais pesadas e sabe trazer tensão à cena. O sexismo é abordado de uma maneira muito crível, justamente pela época em que se passa. É um problema que, obviamente, ainda persiste na nossa sociedade, mas nos anos 1960 havia muito mais barreiras. As jornalistas foram descredibilizadas pelos colegas do trabalho, pela polícia que a todo tempo dificultava e parecia não se importar o suficiente com a investigação, e até por seus maridos, que a princípio pareciam querer ajudar, mas que depois se sentiram inferiorizados quando as elas precisavam se dedicar mais e mais ao caso. Elas cuidavam dos filhos da melhor maneira que podiam, mas não era o suficiente, não para seus esposos, pelo menos.

Foto: Divulgação


A parceria de Keira Knightley e Carrie Coon eleva ainda mais o filme. De início, Loretta quer rejeitar a ajuda de Jean, que é imposta pelo chefe das duas. Mas logo elas aprendem a se ajudar e a construção dessa parceria que se torna uma amizade é bem interessante de se acompanhar. Duas mulheres bastante empoderadas na medida do possível para a época, que lutaram pelos seus interesses e para se fazerem ouvidas. Quando as matérias começam a angariar mais leitores, a direção do jornal expõe fotos das duas, para que atraia ainda mais, o que reflete ainda mais o machismo que tinha a intenção de objetifica-las muito mais do que ajudá-las e as colocava em grande risco. Jean, que tinha mais voz com os chefes, exigiu que as fotos fossem retiradas e assim o fizeram. Infelizmente, Coon não tem o tempo de tela que merecia pelo seu talento, o qual mais uma vez ela demonstra com maestria a todo momento que tem a chance. Knightley, por sua vez, é quem domina o espaço, com uma performance que é forte e sutil ao mesmo tempo, que com seu carisma habitual nos faz ter grande empatia pela sua personagem.


Com pouco mais de 1h50 de duração, o longa tem o tempo exato que precisa para nos envolver e conseguir mostrar a que veio. A investigação é instigante e sempre costurada com essa perspectiva da misoginia que nos é apresentada de uma forma que jamais soa gratuita. Próximo ao final, um diálogo explana muito bem tudo o que foi tratado e, pra mim, é ali que o filme é amarrado. Não vou dar grandes spoilers, mas há um desfecho para os casos aqui, graças ao trabalho das jornalistas, e as autoridades de Boston jamais processaram todos os culpados. O diálogo ao qual me refiro é dito por um dos suspeitos em uma conversa com Loretta, que “homens continuarão a matar mulheres”, seja em qualquer época, o que é uma infeliz verdade. É uma pequena linha, mas que no contexto do longa faz todo sentido e mostra o porquê de ser um filme que vale a pena ser visto, e mesmo que não invente a roda, ele não é facilmente esquecível.


Nota: 3,5/5

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