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Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | O Pálido Olho Azul

Uma fictícia história de Edgar Allan Poe disfarçada de investigação policial

Divulgação: Netflix


Baseado no livro homônimo de Louis Bayard, 'O Pálido Olho Azul' traz uma premissa curiosa: e se víssemos uma série de assassinatos sendo cometidos na prestigiada academia militar de West Point em 1830, e um jovem Edgar Allan Poe se envolvesse na investigação deles? Na vida real, Poe de fato passou um tempo em West Point, mas o longa imagina esse cenário hipotético para criar uma espécie de “história de origem” para o famoso escritor, aqui vivido por Harry Meling.


Mas Poe não é o personagem principal da obra. Esse posto pertence a Augustus Landor (Christian Bale), investigador aposentado que é convocado pelos superiores de West Point para resolver o mistério não apenas da primeira morte, como também de sua profanação - o coração da vítima é arrancado enquanto ela se encontrava no necrotério. A inserção de elementos religiosos e do ocultismo tornam essa quase uma história escrita pelo próprio Poe, um dos precursores da literatura policial (e de fato há diversos acenos e referências à sua bibliografia), mas vê-lo como personagem e não como autor é o diferencial que 'O Pálido Olho Azul' busca.


A dinâmica entre ele e Landor (que o usa para se infiltrar entre os cadetes e descobrir a identidade do assassino) é o motor do filme, e as atuações de seus intérpretes são o grande mérito da obra. Elogiar Bale é chover no molhado, já que ele é um dos melhores atores de sua geração e consegue transparecer perfeitamente as diferentes facetas de um homem metódico, mas enlutado pela morte de sua esposa e o desaparecimento de sua filha. Já Meling - que tem uma carreira cada vez mais interessante desde seus dias como Duda Dursley em “Harry Potter” - incorpora um lado enérgico e ingênuo de Poe que destoa da imagem geral que se tem do escritor, embora seja compreensível dada esta ser sua “história de origem”. Se por um lado sua performance às vezes um pouco caricata e poética destoa do clima lúgubre predominante no filme (o qual é potencializado pela fotografia cinzenta e desoladora de Masanobu Takayanagi), logo ele encontra seu espaço e atinge as notas certas dessa versão de Poe.

Divulgação: Netflix


Contudo, o filme não tarda a se revelar uma experiência morna, mesmo com um ótimo elenco - que ainda inclui Gillian Anderson, Toby Jones, Lucy Boynton, Fred Hechinger, Simon McBurney, Timothy Spall e outros. A direção de Cooper é regular, mas nunca consegue imprimir como um todo a atmosfera pretendida pelo roteiro (também de Cooper), que é vista mais no trabalho de fotografia de Takayanagi e na trilha do veterano Howard Shore, a qual é contida, mas contém mesclas de romantismo e gótico,. Pior, o filme parece possuir dois clímaxes, e o primeiro deles, que fecha o segundo ato da obra, é o melhor, já que os trinta minutos restantes soam como um epílogo onde é forçada uma grande reviravolta final que em nada agrega à trama (além de exigir um bocado da suspensão de descrença do espectador). A impressão que fica é que o filme se alonga por 30 minutos a mais do que deveria, entregando um final bastante anticlimático que só serve para romper a ingenuidade de Poe e aproximá-lo da versão mais conhecida do autor.


'O Pálido Olho Azul' se revela, portanto, uma experiência cinematográfica bastante decente, mas que não vai além disso. É como observar a preparação de um prato que tinha tudo para ser saboroso, mas cujo resultado final é ok. Ao menos nos dá a oportunidade de ver os talentos conjuntos de Bale e Meling, que carregam o filme nas costas. Mas tenho certeza de que se o próprio Edgar Allan Poe escrevesse essa história a tornaria muito melhor.


Nota: 3/5

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