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Foto do escritorDavid Shelter

Crítica | O Território (Citronela DOC - Festival de Documentários de Ilhabela 2022)

Lutando pela própria existência em meio a uma sociedade corrompida pela falta de empatia

Divulgação: National Geographic


A luta dos povos indígenas persiste desde a chegada dos portugueses ao Brasil, e, quando em 2018, para a vaga de presidência, ganhou o candidato que representava o avanço de tudo que havia de ruim, já se acendeu um alerta de que o país entraria em um período deturpado e de governabilidade excludente para quem não fosse rico ou branco. Bem antes disso já se ouvia os discursos acalorados contra demarcação de terras, o ódio escancarado contra indígenas e outras minorias, até que, mesmo após falas horrendas e de cunho depreciativo contra qualquer pessoa com o mínimo de decência, foi eleito o novo presidente.


Com esse resultado, vieram os desmontes em diversas áreas do setor ambiental e de cuidado com Amazônia e natureza de modo geral, algo que foi se agravando mais e mais, e com a nomeação de um ministro do meio ambiente que tinha total intuito de destruí-lo em prol dos próprios bolsos, o pesadelo aumentou exponencialmente. O aumento de queimadas em regiões outrora de preservação e o aparelhamento com órgãos fiscalizadores para que se fizesse a famosa ‘vista grossa’, fizeram com que cada vez mais indígenas sofressem perdendo territórios e na maioria das vezes a própria vida.


‘O Território’, documentário produzido por Darren Aronofsky e Sigrid Dyekjaer e com direção de Alex Pritz, acompanha os Uru-eu-wau-wau, uma comunidade indígena no norte de Rondônia, e sua luta contra o desmatamento que se aproxima com rapidez da área demarcada onde vivem. Luta não somente pela preservação de sua terra, mas da própria existência. Com uma visão intimista sobre o cotidiano dos Uru-eu-wau-wau, a produção nos coloca dentro da situação de maneira que possamos enxergar a gravidade disso tudo de forma crua e sem qualquer maquiagem.

Divulgação: National Geographic


A nossa Amazônia é, por enquanto, ainda extremamente bonita, com uma extensão de florestas e rios, ela é como um paraíso que merece toda a preservação. Toda essa beleza foi transmitida para as telas neste documentário, que tem uma fotografia sublime e encantadora, e traz uma qualidade visual ímpar para a obra. A produção soube explorar com exuberância o poder que a natureza tem, repassando um aconchego e um desejo de estar ali naquele meio. O que agrega ainda mais valor a isto é a trilha, que veio simples e bem elaborada dentro da proposta do que o documentário queria mostrar ao público.


Com um propósito óbvio desde seu início, ele aborda a temática mostrando a ação dos dois lados, explorando as possíveis motivações por trás das atitudes das pessoas que cometiam queimadas, e como isso estava muito acima deles. Fica claro o uso de peões menores para alardear o pânico enquanto os verdadeiros beneficiários agiam de longe. O ápice do documentário é, sem sombra de dúvidas, a infelicidade de registrar enquanto era produzido a morte de um membro importante dos Uru-eu-wau-wau, e a tristeza que isso desencadeia na comunidade. A maneira como eles reagem a esse evento trágico causado pelo homem branco, apesar de dolorosa é também bonita, a forma como eles enxergam a passagem de um de seus membros e como buscam força nisso para prosseguir na causa com mais afinco.


'O Território' é um documentário cru e objetivo, que usa da arte e das qualidades técnicas para transmitir algo tão importante. Além da mensagem, é bonito também poder conhecer um povo que enxerga a natureza como parte de si e o respeito que têm com tudo ao seu redor, o tratamento que dão à sua terra e a importância gigantesca que veem nela. Enquanto para o outro lado aquele território só é visto como uma possibilidade de lucro e benefícios que só surgiriam com a destruição do local e seus moradores. É, acima de tudo, uma produção urgente e necessária, que dá luz sobre os malefícios enfrentados atualmente em escala nacional.


Nota: 5/5

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