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Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder (1ª Temporada)

Um retorno irregular, mas com muitos méritos, à Terra-Média.

Divulgação: Matt Grace/Prime Video


Desde seu anúncio, The Rings of Power foi recebida com bastante temor e descrença por parte do público. Em circunstâncias normais, a série já teria o desafio de marcar uma nova fase para uma saga literária que não apenas moldou a fantasia ocidental, como também foi adaptada numa das mais aclamadas trilogias da história do cinema; porém, aqui o desafio se multiplica em face do protecionismo exacerbado (e do conservadorismo preconceituoso) que boa parte do fandom d’O Senhor dos Anéis possui com a obra. Galadriel guerreira? Elfo negro? Diversidade de gênero e raça na Terra-Média? Inaceitável.


Assim, é um alívio ver que, no fim das contas, a série dribla seus críticos do “identitarismo” aqui adotado, trazendo subtextos políticos atuais (e que, aliás, nunca faltaram nos escritos de Tolkien). Infelizmente, isso não é garantia de que ela esteja isenta de problemas, criando uma primeira temporada que evoca muito da grandeza deste universo na sua narrativa e nos seus visuais, mas que nem sempre consegue mascarar suas deficiências.


O primeiro episódio não precisa de muito para nos convencer de que estamos de volta à Terra-Média: o prólogo, condensando os eventos da Primeira Era (que não puderam ser adaptados por motivos de direitos autorais), já nos impressiona com a grandiosidade e senso de espetáculo trazidos para a série. É visível que a Amazon usou bem cada centavo dos quase 500 milhões de dólares investidos nesta temporada, e em meio a essa escassez de bom CGI que a TV e o cinema vêm passando, The Rings of Power é quase um oásis visual, o que só se confirma episódio após episódio, seja com a introdução de Númenor no terceiro episódio ou a sequência climática surpreendente do sexto.

Divulgação: Courtesy of Prime Video


Narrativamente, porém, a série porém apresenta algumas fragilidades que são difíceis de notar. Não tenho problemas com o fato dela jogar no seguro e trazer núcleos que tem relação direta ou indireta com os personagens conhecidos da saga original, mas há uma dificuldade em nos conectarmos a estes personagens, seja aqueles que já conhecemos em suas versões mais jovens – como Galadriel (Morfydd Clark) e Elrond (Robert Aramayo) – ou os “novos”, como os númenorianos e sulistas. Os núcleos que mais se destacam nesse sentido são os dos anões – a amizade de Elrond e Durin IV (Owain Arthur) é a mais genuína da série – e dos pés-peludos, que na condição de antepassados dos hobbits apresentam diversas peculiaridades e trejeitos que os tornam facilmente apaixonantes, mesmo que estejam conectados a um dos dois grandes “mistérios” da temporada (explicarei o por quê das aspas mais abaixo).


Porém, o que mais atrapalha The Rings of Power é que, se por um lado a série usa bem a primeira metade da temporada para apresentar seus núcleos (a despeito da “lentidão” da qual tanta gente injustamente reclamou), ainda resta a impressão do roteiro dar algumas voltas para chegar onde quer, especialmente no quinto episódio; ironicamente, o clímax da temporada parece pertencer ao sexto e antepenúltimo episódio, que se concentra na convergência de dois núcleos para construir o momento mais épico da temporada, uma versão que, guardadas as devidas proporções, é o equivalente da Batalha de Helm’s Deep para a série.


Por outro lado, parece haver uma insegurança na obra quanto a abraçar por completo esse ritmo mais contemplativo, o que leva à errônea decisão de acelerar certos eventos logo no último episódio para entregar uma grande revelação que só o mais desatento dos espectadores não teria adivinhado. E não há problema na previsibilidade, mas desde o primeiro momento do episódio já somos alertados para o que está por vir, o que detrai muito do momento da revelação – ainda que o momento em si figure como um dos ápices da temporada.

Divulgação: Courtesy of Prime Video


Soa contraditório, mas essa contraditoriedade parece povoar esta primeira temporada de The Rings of Power, para o bem ou para o mal. É uma série que consegue incorporar muito da essência de Tolkien, principalmente nos diálogos, mas às vezes perde a mão para entregar alguns diálogos canhestros; que consegue se distanciar da proposta de Peter Jackson para os filmes e entregar algo próprio e seu, mas também não resiste a uma boa dose de nostalgia e fan-service que em alguns momentos soa gratuito; que não tem medo de ir na contramão do consumo de séries como fast-food para entregar uma narrativa por vezes mais lenta e contemplativa, mas também quer acelerar o ritmo em momentos que há necessidade de mais respiro. Mas apesar de seus notáveis tropeços, a série ainda se mostra repleta de potencial, sendo também o declarado primeiro passo rumo a esse mergulho na Segunda Era, que promete ser por si só um novo e marcante momento na história da saga. Corrigido esses erros nas próximas temporadas, a série pode enfim abraçar toda a grandeza e irrepreensibilidade que lhe são devidos.


Nota: 3,5/5

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