Uma Terra do Nunca que eu nunca gostaria de visitar.
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É muito provável que a famosa citação “Eu acredito em fadas!” te teletransporte para o período da sua infância em que todas as crianças desejavam viajar para uma terra encantada, onde o tempo era estático, as obrigações inexistentes e a diversão infinita. Todos esses ideais são ganchos (sim, isso foi um trocadilho) atrelados ao insolente herói Peter Pan, popularizado pelas clássicas animações da Disney e pelo live-action de 2003, estrelado por Jeremy Sumpter e Rachel Hurd-Wood. Quase 20 anos depois, o novo Peter Pan & Wendy do Disney+, baseado na obra animada de 1953, promete trazer frescor e contemporaneidade ao universo. De fato, a inovação está ali, mas parece que esqueceram de acrescentar uma dose extra de pozinho mágico.
Logo de cara, o longa nos apresenta a insatisfação de Wendy Darling (Ever Anderson) em ter que sair de casa para estudar em um internato. A garota percebe que está crescendo, mas não está muito feliz com isso, visto que prefere estar na companhia dos seus dois irmãos mais novos – João (Joshua Pickering) e Miguel (Jacobi Jupe). Tudo parecia normal naquela noite, lógico, até Peter Pan (Alexander Molany) e Sininho (Yara Shahidi) aparecerem na janela do quarto, prontos para levarem os irmãos para a fantástica Terra do Nunca.
Não demora muito até que nós sejamos apresentados ao ilustre Capitão Gancho (Jude Law), um dos acertos do filme. Durante o desenrolar dos eventos, o roteiro nos mostra a história não contada do pirata, trazendo mais camadas ao personagem e dando oportunidade para que Law entregue uma boa performance. Cabe pontuar também que a dinâmica entre Peter e Gancho funciona bem, os dois realmente fazem transparecer uma rivalidade inveterada em suas cenas.
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No roteiro de David Lowery e Toby Halbrooks, Peter é sagaz e tipicamente atrevido, mas é a Wendy de Anderson que rouba a cena – esperta, cativante, uma líder natural. Sendo assim, com bons protagonistas e uma premissa previamente amada pela audiência, o que poderia dar errado? Essa é uma pergunta fácil e difícil de responder. Realmente, há acertos pontuais na direção de Lowery, mas a ausência de uma atmosfera atraente torna o filme facilmente esquecível. Simplesmente falta conjunto, magia, vivacidade e uma Terra do Nunca que nos faça querer passar um tempo naquele lugar também.
Com cores acinzentadas e uma fotografia estranhamente fria, não temos quase nenhum momento de deslumbre perante o mundo em que aqueles irmãos estão adentrando. É entendível que a premissa de uma adaptação em live-action é trazer alguns elementos fantasiosos para a realidade, entretanto, ainda estamos falando de um filme cujo tema central é o encanto de ser criança. Além disso, essa carência visual parece contagiar os aspectos lúdicos do próprio filme. A Sininho de Yara Shahidi, por exemplo, não tem muito espaço para brilhar. A fada acaba ganhando um novo arco, porém ele é executado tão às pressas que o impacto simbólico da personagem é drasticamente reduzido.
Nessa mesma linha, senti falta de uma conexão maior entre os personagens coadjuvantes. O arco dos Meninos Perdidos é genuinamente interessante, mas o filme escolhe mantê-lo morno e subordinado ao enredo tradicional do filme. Até os irmãos da própria Wendy parecem estar ali sem muito propósito, não vemos um elo forte entre os três. Talvez a preocupação em encontrar uma estratégia narrativa redonda e coerente para o núcleo principal Peter-Wendy-Gancho tenha distanciado o longa dos seus outros elementos.
No mais, o filme busca atualizar a história de Peter Pan e Wendy, retirando algumas incoerências e estereótipos típicos do estúdio nos anos 50. Em resumo, Peter Pan & Wendy é um filme que soa mais contratual do que propriamente mágico – é apenas mais um item marcado na checklist de live-actions da Disney. Infelizmente, apenas o talento de bons atores não consegue alcançar as metas que os produtores deveriam cumprir. Isso é uma responsabilidade grande demais para eles e nós bem sabemos da importância de crescer no tempo certo.
Nota: 3/5
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