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Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | Pinguim (Minissérie)

Colin Farrell e Cristin Milioti brilham na excelente minissérie sobre um dos mais icônicos vilões do Batman

Foto: Divulgação/ HBO


Mesmo aparecendo como um vilão secundário em Batman (2022), não foi preciso muito para que Oswald “Oz” Cobb/Pinguim (Colin Farrell) roubasse a cena no filme, e não apenas por causa da impressionante maquiagem aplicada no ator para torná-lo uma espécie de Al Capone/Tony Soprano deste universo. Sua sagacidade, violência, humor e complexidade, habilmente performados por Farrell, fizeram do personagem um destaque absoluto, o que tornou justificável a decisão do diretor Matt Reeves em produzir uma minissérie estrelada pelo vilão que serviria de ponte entre o filme e sua vindoura sequência.


Mas Pinguim, a minissérie, não se limita a ser essa ponte. Na verdade, o que temos aqui é uma efetiva história de origem para o icônico vilão dos quadrinhos, ao mesmo tempo em que não deixa de explorar as consequências dos catastróficos ataques terroristas perpetrados pelo Charada ao final de Batman. Gotham é uma terra arrasada, e é em meio ao caso que figuras como Pinguim prosperam. Subestimado e desprezado por todos, ele usa isso ao seu favor para eventualmente virar as famílias mafiosas Falcone e Maroni uma contra a outra e ascender no submundo criminoso da cidade, contando com o apoio do jovem órfão Victor Aguilar (Rhenzy Feliz) no processo. O que ele não contava, porém, era com o reaparecimento de Sofia Falcone (Cristin Milioti), que, após anos presa no Arkham, aos poucos busca tomar o controle da família.


A figura do Pinguim nos quadrinhos sempre bebeu fortemente da mitologia criada pelo audiovisual hollywoodiano a respeito dos gângsteres e mafiosos, e Pinguim não se furta a essas referências, mas as potencializa com outras inspirações. O estado crítico de Gotham, a falência das instituições públicas e a ênfase nos “cidadãos comuns” e seu sofrimento me remete um tanto a The Wire; no entanto, não há dúvidas de que a grande influência para a série aqui é Família Soprano. Digo isso não apenas pelo trabalho de Farrell (em especial a voz, que lembra por demais aquela que o saudoso James Gandolfini utilizava para o Tony), mas sobretudo pela complexidade e riqueza dada ao personagem, que efetivamente cresce de uma espécie de anti-herói para um vilão consolidado (e sua penúltima cena na série é um forte atestado disso). Além do mais, suas relações com Victor e a mãe Francis (Deirdre O’Connell, excelente) remetem e muito ao que víamos entre Tony e Chris e Livia Soprano. 

Foto: Divulgação/ HBO


Apesar dessas alusões um tanto óbvias, o Oz de Farrell é verdadeiramente uma criação distinta, que faz por merecer o espaço que a minissérie lhe dá. O ator desaparece não só debaixo da impressionante maquiagem — havia momentos em que eu só conseguia reconhecê-lo por causa dos seus olhos —, mas por trás da voz, de suas inflexões, maneirismos e todo o processo de composição que ele adota para fazer do personagem tão singular. E o melhor de tudo é que Pinguim não cai no já batido tropo de “humanizar” Oz para que entendamos sua transformação num vilão. Sim, o personagem é humano, tem momentos redentores, mas a série deixa claro que ele é sim um monstro e um vilão da pior estirpe desde muito cedo (como revelado no chocante flashback que abre o penúltimo episódio). E isso o torna ainda mais fascinante de se acompanhar em tela.


Eu só não digo que Farrell é o destaque absoluto da série porque Milioti consegue a proeza de permanecer no páreo com sua Sofia. Assim como muitos, eu não estava preparado para ver o quão relevante a personagem seria para a trama, firmando-se inicialmente como uma aliada hesitante de Oz — que (com razão) não confia nele — e depois como sua antagonista. A dinâmica dos personagens nos primeiros episódios é fascinante, como ver um balé onde um dos dois pode terminar morto, e me faz desejar que tivéssemos visto mais dessa aliança instável antes deles irem para lados opostos. O quarto episódio representa esse ponto de virada, trazendo ele próprio a surpreendente história de origem de Sofia e consolidando-a como uma vilã que abraça sua insanidade. Milioti — uma atriz pela qual sempre tive simpatia, mas que entrega aqui a melhor atuação da sua carreira de longe — abraça cada lado da personagem, seja sua história trágica, sua luta para controlar a violência e loucura que a definem e até o lado mais cartunesco que emerge na segunda metade da série.


Se Pinguim não chega a atingir plenamente a grandeza, é porque é perceptível que, pelo fato de contar com apenas 8 episódios, diversos eventos e pontos da trama não são tratados com o refino que mereciam. Em especial na segunda metade, são nítidas diversas elipses para avançar a trama o mais rápido possível, sacrificando o desenvolvimento de alguns personagens, como Salvatore Maroni (Clancy Brown). A própria aliança de Oz e Sofia, como comentei acima, é traída pelo estabelecimento precoce do antagonismo entre os dois, e um ou outro ponto da genialidade de Oz em se sair por cima dos obstáculos em seu caminho acabam soando mais como conveniências do roteiro do que de fato como consequências orgânicas.


Apesar desses problemas de ritmo e desenvolvimento, porém (e de uma influência por vezes descarada demais de Família Soprano), a verdade é que Pinguim se consolida como uma grata surpresa e provavelmente a melhor produção de super-heróis (ou super-vilões) do ano, mantendo o alto nível imprimido por Matt Reeves em Batman. Sem negar os elementos mais cartunescos deste universo, trabalhando-os habilmente com essa ótica mais realista e “pé no chão”, a minissérie se distingue justamente como um estudo de personagem que não cai no caminho moralista de relativizar as ações do seu vilão, mas o enriquece justamente por abraçar suas contradições e monstruosidades. Que venha Batman 2 e tudo mais que Oz aprontar!


Nota: 4/5


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